EdLua.Artes

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Blog mantido por Lua Rodrigues e por mim. Trata de Artes, Eventos Culturais, Filosofia, Política entre outros temas. (clique na imagem para conhecer o blog)

quinta-feira, 17 de maio de 2012

Inspirada na própria Inspiração

Isso se chama inspiração:


É este olhar em ação, em vã ação,

Em vária ação e variação de reação

Independente da relação de crença ou hesitação;

É este olhar que acalenta o peso da convicção,

Quando a arte está em confecção,

E se assoma à estranha interseção

Dos fatos que rompem a convenção

Pra completar a entranha da conversão

E tornar possível essa minha convecção.


A saída da minha bifurcação:

É uma união, um aperto de mão

Que parece assinalar uma concessão

Na dualidade habitual da decisão,

Pra me liberar de vez da sensação

De estar preso entre a intuição e a razão;

Entre cortar os pulsos, a forca ou a decapitação...

Sem destilação simples, fracionada, ou decantação...

E o que dizer de quem canta e encanta enquanto é são?

Será que é chão? Vai ver seja coração ou, talvez, pulmão...

Está muito louca essa equação?

Ora, pra que pensar se sim ou se não!

Afinal, por que não assim: Sim & Não?... Ou, senão,

Quebrar logo em partes todo esse sermão!


Prefiro, então, mudar de canal, ir pra outra estação,

E deixar-me ser, num átimo, um ato de concepção

Que formula sempre, da arte, uma nova acepção

Pra aliviar a dor estúpida e estupenda da concentração,

Com ou sem atração, com ou sem traição, com ou sem tração,

E evacuar, num único grito, tudo o que pode ser emoção!


E todo esse movimento presente é apenas Inspiração!

Não falei do futuro iminente da expansão em espiral, expiração,

Nem mostrei a possibilidade que pressente a cura total da ex-piração.



Edgar Izarelli de Oliveira


quarta-feira, 16 de maio de 2012

Eventos e Combinados

Boa noite, Gente! Nesta Sexta-feira, estarei dando entrevista ao Luiz Antonio Cardoso, no Litteratudo da TV Cidade Taubaté, às 15 horas AO VIVO! Já no Sábado, estarei em Ubatuba para o evento programado por Elton Herrerias Junior, na praça do Cristo Redentor. Estarei lá à tarde!


Só pra combinar com vocês, leitores... A partir de agora, esses avisos de eventos e as fotos dops mesmos serão postados pelo Facebook. Este Blog será para a divulgação de trabalhos literários ou filósoficos, ou, ainda, para discussões acerca de temas variados. Assim ficará mais fácil administrar as coisas, espero que entendam.
Abraços
Ed

sexta-feira, 11 de maio de 2012

Pensamento Complicado

Pensamento Complicado...

Edgar Izarelli de Oliveira


Podes até deixar as coisas a Deus dará

Até podes tu de Deus se rebelar

Se mantiver teus Eus do lado de cá

Só não deixe tua Deusa ao Deus de lá

Se a Deusa adeus dar

Teu Deus adeus dará

E tu do Deus mais nada terá

E tudo mais Deus não será

E mais Eus de tu não haverá

E o tempo então dirá

Adeus à Deusa e desaparecerá!

E quando mesmo teu Deus aparecerá?

Só teu tempo de ser poderá dizer e o fará

Num Domingo qualquer enquanto meditar

E me ditar algum texto teu sobre um dito popular!

quinta-feira, 10 de maio de 2012

Poesia para Capitu (Abertura de Passos Sobre Passos)

Poesia para Capitu

Edgar Izarelli de Oliveira e Bento Santiago (Dom Casmurro)

Oh! Flor do Céu! Oh! Flor cândida e pura!
Desça à Terra, traz-me cá o teu encanto,
Confessa-me uma nova aventura,
Que por ti hei de cultivar meu canto!

Que por ti hei de lhe mostrar bravura...
Que por ti hei de derramar meu pranto
E rir meu riso livre de censura,
Fazendo teu nome, nome Santo!

Oh! Musa bela! Oh! Olhos de Ressaca!
Tira-me a alma da tristeza, da dor!
Inspira-me os sonhos, sem falha!

Enquanto o mundo nos fere, ataca...
Por ti hei de lutar, pelo nosso amor!
Perde-se a vida, ganha-se a batalha!

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Boa Tarde Gente!

Bom, pra relembrar um pouco de poesias antigas... Essa é a poesia de abertura de Passos Sobre Passos, meu segundo livro.

Curiosidades: Chamo de "poesia de abertura" a primeira poesia dos meus livros, aquela que vem logo após a "Dedicatória", pois, no meu esquema de livro, a poesia inicial dá a tônica de todo o livro; é como se à partir dela o leitor pudesse entender a história que vai se passar durante o livro. A poesia de abertura é segunda mais importante no meu processo de montagem do livro, só perde para a Poesia-Chave que é a que dá o título do obra geral. "Essência" é a única que tem confluência, sendo, ao mesmo tempo, a abertura e a chave, na minha primeira obra.

Essa poesia nasceu de um desafio de Machado de Assis. Em "Dom Casmurro", Bentinho é apaixonado por Capitu, mas sua mãe o manda para o seminário (internato para formação de padres) devido a uma promessa. No seminário, Bentinho formula o primeiro e o último verso de um soneto e diz que nunca concluiu o poema, lançando-o como desafio a qualquer poeta desocupado. Tive que tentar, mas acho que falhei. Não sou um bom sonetista. XP

Estou postando por que esses dias, num sarau, contei ao amigo Emerson Santana, poeta aqui de Embu, sobre essa poesia enquanto discorrimos sobre Dom Casmurro. Ele se interessou em ler. Então está aqui!


Abraços!

Ed

quinta-feira, 3 de maio de 2012

Simplesmente ele... Parte 3 Nando Reis!!!

Poesia que nasceu de uma dança

Dança de um Sarau
Edgar Izarelli de Oliveira

E, ao som vibrante de cordas estiradas,
Me arrisco a entrar numa linha expressiva de dança
Que impressiona pela leveza do improviso genuinamente artesanal
E me permito me deixar um pouco nas curvas das cinturas, nos braços, nas pernas,
Nas bocas, nas faces, nas mãos, nos pés, nos passos, nos movimentos rápidos
Dos olhos que me aceitaram como sou...

E, em cada giro, eu atiro ao ar mais correntes de pensamentos defensivos já inúteis
Me liberando me libertando me restaurando me reconhecendo me revivendo
E por mais de sessenta segundos rodopio sobre meu eixo original
E sinto a poesia sacudir o peso empoeirado do raciocínio normal
E sinto a poesia desgrudando dos meus ossos
E reverberar por todos os músculos dos meus corpos
Até se abrir em forma de sorrisos nos reflexos desmontados dos meus rostos
E tudo de repente gira em torno da minha felicidade tão simples e tão presente
Que parece ainda me fazer flutuar em direção ao meu mais alto astral...
E, enquanto tudo vai parando, sobra ainda o assombro de perceber
O quanto uma dança pode me soprar, como só vento em pena
Pode tentar explicar numa metáfora viva e bailarina

A sensação que dissolve em si toda a rigidez que dissimula o mundo
E disfarça, por trás de más caras sérias e indiferentes, as almas mais contentes.

A dança me leva ao que é do meu universo essencial...
E tudo isso me faz sentir o quão feliz serias se desfrutasse e compartilhasse
Deste momento de vertigem que dá flores novas às estradas
E mantém sempre virgem a força vital da esperança!

sábado, 21 de abril de 2012

A Poesia cuja Perfomance me derrubou da cadeira num sarau!

Confabulações de Escape (boa tarde)

Edgar Izarelli de Oliveira


E eu podia ter acordado, tranquilo, às nove, nove e meia, no máximo,

Se tivesse dormido quando deitei e fechei os olhos da primeira vez,

Mas o homem é um bicho complexo...

E, se orgulhando da fraqueza de poder pensar,

Acaba perdendo valiosas horas de sonho.

Passando noites em claro, tentando dominar-se ou entender-se,

Numa retórica íntima sem método nem nexo,

Inicia a imitar, na cama, o círculo sem fins de seus pensamentos;

Depois, percebendo a inutilidade do processo, corrompe-se a tentar fugir de si mesmo,

Numa boa hipnose que sempre falha e se chama, vulgarmente falando: aceitação.

Termina, o homem, a levantar-se pra descontar contra uma parede qualquer

Toda sua ira, sua culpa, sua tristeza, seu medo, sua frustração e descontentamentos,

Na sutil esperança de que o ruído oco de seus murros possa evocar a lembrança

Do grito angustiado que, silenciado por força do horário, acaba virando arte ou leitura...

Às vezes, até a falsa companhia de uma tv ligada alivia a impressão de solidão...

Por fim, exausto de viver sentimentos antagônicos, dorme o homem sem sonhar.

Tudo isso a troco ilusório de confabular futuros escapismos, calcular defesas e rotas

E formular ensaios de alguns conformismos pra dizer ao amor, ao trabalho, aos amigos.

E eu acordo ainda tenso depois do meio-dia...
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Good Dawn, people!
Fato inusitado sobre essa poesia: Acabo de acrescentar esse (boa tarde), pois, nessa noite de 20 de Abril, estava eu no sarau Tearte de abertura da SELIC (SEmana LItero-Cultural) no Centro Cultural Mestre Assis, aqui no Embu das Artes, e resolvi apresentar essa poesia em form a de dramtização. Para começar a perfomance eu dei boa tarde pra cada uma das pessoas que estavam dispostas no primeiro círculo (mesmo sendo noite, porque tarde combina mais com poesia, não sou louco não XD) e fui para o meio para começar a primeira fgrase da poesia em si, quando, inesperadamente, a roda da cadeira se solta e caio no chão!!! XD Felizmente, tenho muitops amigos que me ajudam quando caio, literalmente falando... XD E não me machuquei, continuei a poesia depois e ainfda fiz mais três perfomances durante o sarau ^^ Sem mais quedas... E aí um amigo meu pediu para ler essa poesia por que gostou muito, mas sabem que sou da teoria de compartilhar arte com todos. E espero que gostem!
Abraços
Ed!

Ah! Domingo, 22/4, das 10:00 às 12:00 e, também, das 15:00 às 17:00 tem sarau itinerante no Largo 21 de Abril, a praça central de Embu! Venha participar na companhia de Poetas da cidade!

quarta-feira, 11 de abril de 2012

Apredizado que somente a experiência fornece...

Trilhas Sensíveis (aprendizado, equilíbrio exagerado e surpresas emocionantes)

Edgar Izarelli de Oliveira



Com o passar dos anos, vamos aprendendo as virtudes que nos convém

E repreendendo particularidades sinceras pra, quem sabe, apreender um futuro melhor...


E, neste processo, acho que acabei levando a serenidade muito a sério

E exagerei no equilíbrio frontal da minha vida..

Acho que deixei o controle emocional me controlar,

Formando labirintos de razões para não chorar.

Infelizmente, me esqueci que não dá pra separar muito bem lágrimas e sorrisos;


Com isso, só o que consegui foi ir construindo silêncios e especulações,

Trocando minha espontaneidade, meus impulsos e meus instintos,

Por blocos de concretismos e grandes falhas entre meus pulsos,

Até esgarçar completamente a fina linha lírica de poesias

Que mantinha meu coração um pouco acima da linha alcançada pelo meu olhar terreno

E me permitia a convivência tolerável com a normalidade.


Posso até ter conquistado uma base sólida de sabedoria e sensatez,

Mas de que me vale tudo isso, se, sem ímpeto, a ação se limita à reflexão;

E mesmo a sinceridade foi trincada devido aos choques consecutivos com a realidade?


Hoje, tudo o que posso fazer é assistir os acontecimentos através de janelas fechadas;

E, com um sorriso irônico nas faces, esperar algo que, num lance surpreendente,

Quebre a repulsão estática que criei com essa corrente de pessimismos semi-novos

E rasgue a rede de raciocínios regulares que impede a explosão da expressão escrita.


E, no final, eu reconheço: Preciso da expansão das emoções que já ofereci como esmola

A qualquer um que as quisesse ou necessitasse ter um pouco mais de sensibilidade;

Mas descobri recentemente que o vazio me dói mais que a angústia ou tristeza...

Eu tinha medo. Medo de que a decepção, sempre sádica, me apanhasse desprevenido.

E, mesmo parecendo cinismo, assumo, sou eu quem mais precisa de trilhas sensíveis!

quinta-feira, 29 de março de 2012

minha amiga Lívia coloca algumas coisas minhas nesta page!!!

http://www.facebook.com/luiglimamundodificil

Curtam... são algumas estrofes de poesiuas minhas e frases famosas, tem um bom conteúdo!

domingo, 18 de março de 2012

Inspirada en Mi Amor

Trajetórias

Edgar Izarelli de Oliveira


Saí do caminho torto, comum e passional das emoções

E trilhei apostas retas e razoavelmente seguras,

Tendo comigo apenas a mísera coragem

De um mapa de pensamentos construídos a improviso

E uma pequena gaiola de julgamentos feitos em cima da hora,

Pra tentar manter sob minha custódia e companhia

A frágil linha de vida deste pássaro canoro.


Mas todas as estradas cederam à pressão do senso-comum

E dos fatos, contra-sensos e contra-cenas da realidade.


O piso do penhasco presente já está se esfarelando

Pelo peso das expectativas frustradas que transporto no peito.


Grito ao precipício profundo que se abre logo em frente, a um passo de mim:

“Como soltar um sonho de amor para que ele se disperse no ar?”

E uma voz serena e sábia me responde ecoando de algum lugar futuro:

“Como se solta um pássaro para que ele volte a voar?”


E com a expectativa despedaçada pela arte do instante,

Eu abro os braços e a porta da gaiola...

O pássaro até alça um vôo tímido e desajeitado,

Mas parece estranhar com frieza a hostilidade do horizonte,

E, sem que eu possa entender, ele muda a trajetória

E vem cantar maviosamente triste ao meu ouvido:


“Até a liberdade pode ferir um coração cativo,

Volta comigo ao caminho belo e antigo

E vai consertando esse coração partido,

Pois, é seu todo o meu amor nativo!”


E o vento sussurrante me restitui toda a leveza de um corajoso “sim!”


quarta-feira, 7 de março de 2012

Explicando a enquete acima...

Boa noite, gente!

Este post é para apresentar a enquete que acabei de criar, por favor votem, a opinião de vocês será de grande peso na minha escolha.

Bom... Estou em um dilema profissional atualmente e gostaria da ajuda de vocês para escolher em que projeto me focar com maior afinco neste ano. Tenho quatro projetos para apresentar no momento, mas talvez esteja na hora de inovar um pouco e, por isso, me abro à idéia de criar algo novo. Bem, vamos lá.

Projeto 1 Continuar “Gênesis” (Velhos Testamentos): “Gênesis” é o título da “pseudo”-novela que postei aqui de Dezembro 2011 a Fevereiro 2012 (quem quiser ler clique AQUI). “Gênesis” atingiu bom sucesso e, particularmente, considero este o meu melhor texto em prosa; no entanto, de acordo com o plano original, se trata de uma das cinco partes de um romance cujo todas as partes já têm um titulo e uma idéia geral a ser desenvolvida, porém o livro como um todo ainda não tem um nome definido. Pretendo manter a linha psico-dramática e utilizar basicamente os mesmos recursos de descrição espacial e “flashbacks” e “analises psicológicas” enquanto se narra um acontecimento no presente. Este projeto ocorre linearmente no tempo cronológico, o que significa, em outras palavras, que cada parte do livro segue o tempo do relógio. Os personagens principais continuam a aparecer durante o desenrolar das cinco tramas de cada parte e da “trama global” do livro. Por ser cronológico, os personagens vão envelhecendo e mudando algumas características tanto físicas quanto psíquicas. Talvez o maior desafio, como escritor, seja a pesquisa na área de psicologia para escrever o personagem principal, Carlos Magno Vieira, e todas as suas análises, posto que as três protagonistas têm um modelo vivo pra seguir. A próxima parte, que eu até já escrevi duas páginas e parei por motivos puramente pessoais, é intitulada “Velhos Testamentos” e se passa quase três anos depois do tempo presente em “Gênesis”.

Projeto 2 “O Retorno de Saturno” (Versão Stella): “O Retorno de Saturno”, publicado aqui entre Maio e Junho 2010, é também a primeira parte de um romance maior (quem quiser ler ou reler clique AQUI). Na época, era o melhor trabalho em prosa da minha carreira. Basicamente, é uma típica história de amor em que um casal é separado por uma terceira pessoa e acaba voltando depois dez anos; porém a trama tratará, dentro do tema das relações humanas, uma vasta gama de assuntos que com certeza trará polêmicas a se debater na sociedade brasileira. A grande sacada deste trabalho é que cada uma das partes apresenta a versão de uma personagem diferente sob o mesmo espaço de tempo e sob a mesma cena principal. O diferencial deste formato é justamente a variação do narrador que possibilitará a identificação do leitor com variados tipos humanos. Eu já estava escrevendo a segunda versão, a de Stella, quando fui brutalmente interrompido pela depressão de 2011 que, posteriormente, acabou se tornando o texto de “Gênesis”, por isso creio que terei de rever todo o texto já escrito e fazer um reformulação geral. O maior desafio com certeza será manter o estio de escrita distante das intensas análises psicológicas tão presentes no primeiro projeto.

Projeto 3 “Enigma”: “Enigma” é o quinto livro de poesias na minha lista imaginária de publicações. Reúne poesias de quase todas as fases da minha poética, mas, em especial, a parte mais “intimista” e “conflituosa” de 2009, que foi suprimida de “Infinitivos: Onde tudo é possível” por alteração de objetivo neste último, e, também, parte da produção mais “secreta” do segundo semestre de 2010. Basicamente a idéia do livro é quase parnasiana, pois, se trata da poesia falando da poesia, da relação entre poeta/poesia e do prazer contraditório obtido através do fazer poético. Grande maioria de poesias inéditas.

Projeto 4 “Porta Encostada”: “Porta Encostada” seria o sétimo livro de poesias e revelaria, se colocada na ordem certa, toda a evolução filosófica pela qual passou toda a minha lírica romântica. Contando com poesias já apresentadas aqui no blog, datadas de 2011 pra cá, que, na minha modesta opinião, apresentam um refinamento muito superior no que diz respeito ao trabalho em si e à bela riqueza de sentido obtida pelos novos jogos de palavras, o livro também apresentaria poesias que ainda serão produzidas.

Os livros de poesia são projetos a longo prazo já que ainda temos vários exemplares de “Infinitivos” a serem vendidos. Já os trabalhos prosaicos, creio que em um ano eu acabo pelo menos mais uma parte de “Gênesis” ou duas versões de “O Retorno de Saturno”, se a vida permitir... Não estou lá muito otimista, mas preciso trabalhar! Para efeito de curiosidade, o quarto e o sexto livros de poesia trariam versões de romantismo. “Bárbaras Paixões”, como o próprio nome sugere, é constituído de poesias mais “picantes”, mais apaixonadas e intensas. “Tsunami – A Cripta” mostra a história completa de um amor mais calmo e suave desde o encontro inesperado à separação dolorosa. São dois livros bem fortes, mas que fogem um pouco da minha real proposta literária, por isso perderam espaço.

Bom, passei a madrugada aqui escrevendo por que é realmente importante. Por favor, votem. Começo os trabalhos em Abril, até lá creio que não postarei mais nada de muito novo.

Abraços

Ed

terça-feira, 21 de fevereiro de 2012

Gênesis - 21º Capítulo - Final





Eu dei um beijinho no rosto dela e, logo depois, me distanciei em choque. Ela só podia estar brincando... Decidi nem dar muita bola, mas uma coisa é certa ela me conhece e me entende como ninguém. E o silêncio dela no resto do trajeto até chegar aqui, a hesitação toda, aquela conversa sobre escolhas e a carta em minhas mãos que estou desdobrando e lendo, minhas emoções girando. Tudo parece assumir outras conotações, outros sentidos...

”Carlos, se eu estiver chorando, abra os braços por que eu vou te abraçar na certeza do presente. Se eu estiver séria, abra os braços por que eu vou te abraçar na certeza do presente. Se eu estiver sorrindo... Feche os olhos e sinta meu calor por que eu vou te abraçar e te dar a certeza de que está tudo bem, tudo certo! Se você quiser ir fazer uma visita pra Felícia pra descobrir suas próprias respostas, me chame, se precisar de companhia, e eu estarei com você! Marília”

E minha escolha é obvia, embora seja regida também pelas emoções dessa noite fria de maio. Felícia é passado. Marília é quem me faz bem. Eu abro os braços pra acolher de novo o equilíbrio das partes. “Na verdade, é esse jogo de sentidos maleáveis que torna as emoções plausíveis de serem analisadas e, consequentemente, influenciadas pelo ato de refletir sobre elas, após a conscientização de sua existência. Podemos, por assim dizer, concluir que as emoções são capazes de criar relações, mas é a consciência do que ocorre com elas que permite à mente julgar se tudo o que sentimos está realmente acontecendo. Emoção e razão não são inimigas, são duas contrapartes em uma conversa mutua dentro e fora dos campos mentais ou inter-pessoais.” O último parágrafo da introdução às relações humanas; li enquanto caminhávamos do ponto de ônibus até aqui. E eu concordo. É outono, mas tudo parece florescer. Tudo bem, ta tudo certo!

Paulo e a mulher já entraram e fecharam a porta. Marília finalmente se virou de frente pra mim e está levantando as mãos e passando elas na frente dos olhos... Agora está levantando a cabeça e vindo, sorridente, em passo leve e rápido e já me abraça muito forte.

- E então? Qual é a resposta?- pergunto bem baixinho e correspondendo o abraço, dessa vez, sim, com toda a sinceridade do mundo.

- Ela está grávida de cinco meses e ele é um grande homem por resolver assumir o filho dele, mas estava morrendo de vergonha de assumir pra mim, que estive com ele por seis anos, o que fez, por isso, não serve pra mim. Não é sincero como você e eu quero paz e segurança, sem perder o amor!- responde ela e emenda rindo com um olhar sedutor e aproximando o rosto do meu.- Me leva pra casa?

E mesmo com a proximidade, ainda me sobra tempo de analisar... Ela sofreu tanto se colocando no papel de traidora e, na verdade, ela acaba de descobrir que o homem a quem ela fazia questão de provar que não escondeu nada é quem tinha muita coisa escondida. Ela deve estar tão carente, embora seu tom, sua postura, suas palavras e seu sorriso, concordem entre si e, por isso, não mostram nada além de uma mulher segura daquilo que quer e disposta a lutar por isso até conseguir. Mesmo assim...

- Não é cedo demais pra começar algo?? Você pode tá querendo só esquecer ele! Acabou de descobrir tudo isso. - pondero eu num último relance de medo.

- Carlos, você pensa demais, confabula demais... - diz ela em tom de brincadeira e muda para o tom compenetrado de seu olhar.- A única coisa que descobri hoje foi o começo de uma história que eu quero viver!

E enquanto ela me rouba esse beijo ardente e incontrolável, com a calma de quem sabe amar sem perder o seu valor, eu me entrego sem esperar muito, apenas o bastante pra criar um laço que não machuque, e concluo: emoções são voláteis demais, o próximo beijo já terá um outro sabor. Não é possível dar uma segunda chance a uma mesma emoção nem a uma mesma relação, mas é possível dar uma segunda chance às emoções em geral e abrir uma porta para o que o mundo pode nos dar de melhor!

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Obrigado por terem acompanhado e compartilhado essa história comigo ao longo destes dois meses. Eu espero que tenham gostado. Por favor, comentem. Desculpem por quaisquer erros não-intencionais que tenham passado batido durante as revisões.

Quero anunciar que pretendo continuar essa série, já tenho idéias para a continuação, mas não prometo nada...

Abraços Ed


sábado, 18 de fevereiro de 2012

Gênesis - 20º Capítulo

Minha tentativa de afastamento e retração falhou por que logo que acordou, minha acompanhante começou a fazer perguntas sobre mim. Eu estava inseguro, mas ela soube como se mostrar confiável. Confiável ela sem dúvida é, sempre me olhou nos olhos enquanto conversávamos. Mesmo assim eu resistia, e para que? Proteger minha razão? Ora, pra que tive tanto medo de perder o controle? Minhas respostas, que começaram o mais breves possível, foram se alongando no decorrer da conversa, mesmo assim eu puxava tudo para o presente. Falei das aulas desafiadoras do professor Sérgio, da minha amiga Letícia, das outras matérias, de como eu gostava de psicologia... Marília percebeu minha grotesca insistência em fugir do meu passado. Eu não falava com ninguém a respeito da minha ex-namorada, exceto com os poucos amigos daquela fase que, de vez em quando, ainda falam comigo. De fato, nem mesmo Letícia sabia da existência de Felícia. Tudo que a pessoa que mais me conhecia sabia é que tinha acontecido algo muito grave com minha mente. Mas Marília soube exatamente o que falar para me deixar sem saída nenhuma...

- Mas, Carlos, quando nos conhecemos, você me disse que fazia Letras e você foi o primeiro a fazer uma análise profunda e boa do meu livro, devia ser ótimo em literatura.- disse ela me olhando nos olhos após ter escolhido muito bem as palavras, movendo levemente e fixando por um segundo, os olhos pro canto superior direito das órbitas, indicando atividade na região lírica do cérebro.- Por que decidiu fazer psicologia?

E, então, eu podia até dizer que as pessoas mudam e fazer uma brincadeirinha boba, dizendo que, apesar de tudo testemunhar contra mim, eu ainda era humano, portanto, sujeito a mudar... Eu pensei mesmo em fazer isso, mas, sei lá, acho que considerei que seria estúpido com ela, que havia compartilhado comigo toda aquela dor e todo o passado dela. Pode ser que a sinceridade dela já havia me transformado em outra pessoa, mais próxima do que eu era antes de tudo isso começar. Mesmo assim, eu ia jogar toda a culpa nos meus chamados amigos, aqueles que me abandonaram depois de uma denúncia falsa de que eu era falso, mas Marília colocou minha mão entre as dela e apertou me olhando nos olhos, como se pedisse com todo o coração pra mim dizer a verdade e talvez fosse isso mesmo que eu precisava achar, uma mulher que me deixasse sem saída nem racional e nem emocional, pra que, eu tivesse somente a opção de dizer a verdade. E eu queria muito conversar com alguém que me entendesse. Quando me dei conta eu estava trocando carinhos com ela... E contando toda a verdade da minha vida, enquanto eu chorava aquele choro de limpeza emocional e ela quase sorria de me ver chorando, feliz por ter descoberto que eu ainda tinha salvação.

Contei tudo, toda a minha vida, olhando sempre nos olhos dela. Era mesmo a minha sinceridade absoluta que tinha me separado da Felícia, agora, depois de tanto tempo esquecida num canto da minha mente, estava criando vínculos com Marília Buonicelli, a escritora do meu livro de cabeceira, é a vida trazendo surpresas! Contei como conheci meus amigos no intervalo do colegial e como foi duro ver que eles nem sequer procuraram saber meu lado da história quando uma ex-namorada de um deles disse a eles que eu havia dito a ela que eles não eram confiáveis; quando eu já havia avisado eles que, dias antes, ela havia me dito que eu é que não podia confiar neles. Até hoje, nem eu consigo acompanhar direito essa história, mas ali já comecei a ver que a sinceridade nem sempre é garantia de que a relação vai funcionar.

Contei que fiquei três semanas me preparando pra sair de casa, depois daquela confusão e, mesmo assim, levei uns bons dois meses procurando algum sentido nessa história toda, sem sucesso. Contei que minha vida só tinha voltado ao normal quando conheci a minha ex-namorada que me cobrava a sinceridade, mas, na hora h, não aguentou e nem entendeu o que eu estava tentando dizer, como o namoro inteiro também tinha sido instável. E contei como havia sido sofrida a separação, por que eu era totalmente dependente dela. E foi aí que realmente percebi como Marília é especial pra mim e rara para o mundo.

Eu mostrei a carta para ela, depois de contar toda a história da relação e da carta, ou quase toda. Ainda não havia contado exatamente o que causou a tal separação. Ela abriu a carta com cuidado e leu só para si, depois devolveu o papel ao envelope e lacrou de novo com um pequeno adesivo que tirou da capa do caderninho dela, me entregando de volta.

Ela suspirou, me olhou no fundo dos olhos e disse que eu tinha que ler a carta, mas quis saber o que, de tão grave e sincero, eu tinha dito a ela. Eu abaixei a cabeça com medo de falar e foi a vez dela de levantar carinhosamente a minha cabeça e com um sorriso me fazer o carinho mais sincero que eu já senti, sem nada de malícia ou pena, dizendo que para ela eu podia contar tudo. Eu me senti seguro como nunca havia me sentido nos braços dela, foi de longe a melhor sensação que eu já tive, por isso decidi contar ela. Acho que ela teve de se segurar pra não rir, mas a verdade é que eu disse a minha ex-namorada que havia outra mulher me encantando, mas que eu não queria trair ela por que, realmente, sabia que aquele encanto não poderia substituir a história que nós já havíamos construído. Eu esperava que Marília fosse fazer o que todas as outras pessoas pra quem contei essa história fizeram. Me perguntar qual a finalidade disso, o que eu esperava que Felícia entendesse?

Mas Marília é excepcional. Ela me sondou naquele olhar espantado e carinhoso que só ela tem e, por alguns instantes, ficou calada, me admirando... Eu pensava que ela estava me achando completamente doido e me surpreendeu quando ela pediu uma folha emprestada por que precisava escrever uma carta pra alguém especial. Eu emprestei a folha certo de que seria para o Paulo... Agora percebo que minha arrogância me servia de auto-afirmação, funcionava como um simulador de segurança, mas era mais um pedido de socorro, já que minha auto-estima estava lá embaixo desde que meus amigos cortaram os laços daquela maneira.

E, quando Felícia apareceu, eu acabei jogando todas as esperanças de um relacionamento bom em cima dela. Nós tínhamos sim quase o mesmo projeto de vida, achei que eu podia me entregar, mas essa entrega, na relação afetivo-amorosa eu ainda não sabia fazer. Eu não conservei nada pra mim. Todos os meus projetos, meus sonhos, toda a minha vida estava baseada na presença dela... Quando ela saiu da minha vida, meu chão imaginário caiu... E foi uma queda tão brusca que não consegui me reerguer de verdade, tive que inventar uma outra pessoa pra continuar viva por mim, mas... Marília sempre fez parte do processo e, nessa noite de maio, ela me reergueu definitivamente.

- Ela não entendeu nada, não é? Se sentiu traída?- disse Marilia se referindo à minha ex e me olhando nos olhos com um olhar de mulher decidida que me envolveu, enquanto dobrava a carta já escrita e a colocava na bolsa sem cuidado nenhum, e eu concordava com a cabeça.- Você usou as palavras com o sentido exato do que queria dizer. Você também só queria proteger o que valia a pena e eu entendo...- e aprofundando ainda mais o olhar.- Eu não viraria as costas pra você assim. Não viraria, não... Eu não virarei nunca.- eu abaixei a cabeça pensando que ela estava dizendo aquilo pra me consolar, mas, sem temer nada nem ninguém, ela levantou meu queixo e me fez carinho.- Carlos, olha pra mim! Eu sei que vou ter que lutar muito pra te convencer que seja lá o que aconteça nessa madrugada é com você que eu quero acordar amanhã!- ela fez uma pausa e observou minha reação. Eu olhava fixamente nos olhos dela, sem querer acreditar no que ela estava fazendo. Uma mulher do nível de Marília...- Carlos, sabe do que devemos cuidar em primeiro lugar?- continuou ela colocando a mão no meu peito.- De nós mesmos, sim, mas para isso não é necessário não sentir nada! E você conseguiu! Você cuidou de mim quando nem eu mesma acreditava em mim, me fez companhia a noite toda e ainda é sincero a ponto de fazer o que fez. E você, Carlos, me provou que ainda existem pessoas boas e inteligentes no mundo.- ela me abraçou e disse no meu ouvido.- Eu vou atrás da nossa resposta, da minha resposta, pra me libertar de algumas dúvidas que me prendem a essa história. Fica ao meu lado, fica ao meu lado, ta?

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Continua... 21/2/12 às 15:00... Último capítulo...

Por favor comentem o que acharam do capítulo de hoje.

Abraços Ed

quarta-feira, 15 de fevereiro de 2012

Gênesis - 19º Capítulo

Quem diria que ela ficaria assim tão serena diante da verdade? Mas, para isso, tive que apontar todos os sinais físicos e mecanismos mentais que ela estava mostrando e explicar que aquilo era um medo desnecessário, entre aspas, é claro, por que era só não criar expectativas em cima do que não é certo e fica tudo bem. Tive ainda que demonstrar, com metáforas, que expectativa só machuca por que espera algo e, se não acontecer o esperado, a situação se torna frustrante, pois, nunca estamos realmente preparados para o imprevisto; e, também, argumentar que, além de tudo, expectativa causa sofrimento antecipado, pois, é um tipo de ansiedade bem difícil de controlar por ser quase um mecanismo lógico-racional que funciona com base em sentenças condicionais aplicadas indevidamente ao campo emocional, e que, se não se podia controlar totalmente, era possível torná-la menos nociva.

Até que ela mesma percebeu que queria mesmo saber a verdade sobre o que tinha se passado na cabeça do Paulo, não importava qual fosse. Ela me pediu pra ir com ela, afinal, ela tinha tomado uma decisão importante e, admitindo estar assustada, disse que minha presença já ajudaria muito. Ela lavou o rosto no banheiro do hotel, para tirar um pouco o aspecto de choro, e, logo, pegamos o primeiro ônibus.

Eram 22:30 quando saímos para a avenida e cruzamos uma passarela para aguardar o tal ônibus e até que esse passou rápido pelo nosso ponto. Essa hora sempre há alguns lugares disponíveis, mas nós tivemos a sorte de sempre encontrar um banco inteiro só pra gente, assim pudemos nos sentar sempre um do lado do outro e conversar.

Durante o trajeto, Marília foi conversando espontaneamente comigo sobre o que ela esperava que fosse acontecer quando chegássemos aqui. Conversar é mesmo um ótimo jeito de se manter sob controle. Ter alguém que nos escute é mais que gostoso é uma necessidade. Eu acho incrível, mas ela foi concluindo sozinha que não devia esperar nada, ela estava fazendo o que ela achava o correto a se fazer, o que ela precisava fazer; e, se a necessidade dele fosse mesmo permanecer sem falar com ela, ela teria de aceitar.

Eu fui realizando o mesmo processo junto com ela, sem exteriorizar pra não atrapalhar as reflexões dela. Eu realmente não disse quase nada e não sai de uma postura que mostrava um interesse enorme e um distanciamento maior ainda, pois eu estava no fundo da minha consciência, me trabalhando, percebendo que minhas próprias expectativas podiam ser resumidas e facilmente resolvidas, a frustração toda podia ser aceita com certa benevolência se eu a encarasse como um aprendizado. Tudo isso foi se revelando nas palavras da escritora e depois de tantos anos acertando tudo pelo racional e dispensando as emoções, eram elas que vinham me resgatar e mostrar que eu já estava pronto para aceitar, como um adulto, que a separação tinha me libertado de certos padrões sociais e certos medos que eu tinha; como, por exemplo, o medo da solidão e o tabu de fazer sexo por prazer. E pensar que até hoje nem acreditava mais no dito “fazer amor”... E agora eu tenho vontade real de me ligar afetivamente com alguém...

Tudo por que, embora eu estivesse com uma perna dobrada em cima da outra e os braços cruzados, mas buscando sempre o olhar dela, ela estava aberta, gesticulando bastante, ela estava segura comigo e isso estava me fazendo bem; de vez em quando ela até me arrancava um sorriso, graças a algum gesto carinhoso...

Ela foi muito carinhosa durante os quarenta minutos que ficamos naquele ônibus e isso começou a me agradar. Ela fez grande parte do percurso com a cabeça encostada no meu ombro, mesmo que eu estivesse numa postura fechada e por mais que tentasse não quebrar minha solidão, às vezes, enquanto ela falava, eu fazia um carinho nos cabelos ou no rosto dela para retribuir o carinho que ela fazia no meu braço. Claro que eu sabia que ela só estava fazendo aquilo por que era o jeito dela de se sentir segura, mas ela acabou me deixando cada vez mais confortável, mais próximo, mais íntimo. Já não queria apenas as respostas ou cumprir promessas. Percebi que gostava mesmo de estar com alguém tão madura que me permitia me descobrir cada vez mais e seja lá como fosse o resto da noite eu queria continuar por perto, mas ai veio um bloqueio... Percebi que eu estava me apaixonando por ela e, naquela hora, me veio do inconsciente a certeza que eu ia passar pela mesma dor novamente, era mesmo um trauma bem forte em mim...

E eu realmente sinto que agora esse trauma já foi superado pra sempre. Não está mais escondido debaixo de um jeito arrogante de racionalizar as emoções. Esse meu jeito racional de ser eu não vou mais mudar, mas pretendo me refinar, permitindo que as emoções boas continuem fazendo parte dos meus dias mesmo que sob vigília permanente, principalmente a felicidade. Estou feliz. De uma maneira calma e sensata, mas, feliz. Me sinto livre. O medo já passou e acho que estou pronto pra aprender a amar sem cair na obsessão das paixões. São essas obsessões que nos machucam nos relacionamentos, o medo de perder o carinho e atenção do outro, nos faz cometer pequenas loucuras que podem extrapolar os limites de tudo. E são essas loucuras que eu não quero mais pra mim.

Mas aquele medo de me entregar ainda persistia, quando Marília começou a perguntar sobre mim, ela queria me conhecer melhor, conhecer a minha pessoa. Isso já era no terceiro ônibus. Ela precisava descansar um pouco e a viagem do segundo ônibus seria mais comprida um pouco, segundo a amiga dela. E de fato foi; então, depois de conversamos um pouco mais sobre a vida dela antes de Paulo, época em que, segundo ela mesma, e com isso eu tinha que concordar, se lançou verdadeiramente como escritora criando um estilo próprio de escrever. Fiquei sabendo que ela conheceu Paulo num encontro de artistas e, estando fascinada com o jeito peculiar das fotos que ele produzia, o chamou pra ser ilustrador do terceiro trabalho dela, e ai eles, como já era de se esperar, se apaixonaram. O namoro deles não foi estável, mas ela acreditava ter sido o período mais próspero de sua vida e atribuía isso a estar com ele. Contestei esse fato dizendo que, mesmo se fosse outra pessoa, se houvesse uma grande ligação afetiva, ela se desenvolveria do mesmo jeito ou até melhor, se a pessoa fosse mais estável. Ela concordou com um sorriso tranquilo, mas ponderou que, na época, ele foi o único com quem ela sentiu que tinha afinidades. Entretanto, ela ia completar a frase dizendo que na verdade tinha uma outra pessoa que havia sim mexido com ela, mas não disse quem... E pelo olhar dela, eu achei que talvez pudesse ter sido eu... Depois daquele olhar, ela se encostou no meu ombro, me abraçou e dormiu até perto do ponto que tínhamos que descer.

Enquanto ela dormia, encostada em mim, tão sensível que parecia ter voltado à fragilidade, eu tentava fazer um distanciamento psicológico senão acabaria me envolvendo com ela e ela dizia ainda amar o Paulo, embora estivesse dormindo quase no meu peito como se fosse um casal bem estruturado depois de uma noite de prazeres. Me custa acreditar que ela pode gostar de mim, todos os sinais mostram que sim, acho que só saberei daqui há pouco quando ela voltar. Por enquanto ela ainda parece estar conversando com Paulo e a mulher que apareceu na porta que, agora, olhando atentamente, parece estar usando um pingente com forma de coração folhado a ouro.

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Continua... 18/2/12 às 15:00

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Abraços Ed

domingo, 12 de fevereiro de 2012

Gênesis - 18º Capítulo

- Eu ia dar dinheiro pro mendigo comprar comida, tamanha foi a impressão que tive de que tudo ainda tinha uma mínima chance de dar certo... Fiz um trato com ele... - e ela parou a frase por uns instantes, de novo.- Eu entendi quando ele apontou a faca pra mim, a vida dele deve ser muito difícil, dura e assustadora. O trato era que ele podia levar tudo que eu tinha comigo, menos o pingente, o dinheiro dos ônibus que eu tinha que pegar e a chave do meu carro que não serviria de nada pra ele por que o carro está concertando e vai demorar muito pra ficar pronto. Cheguei até a mostrar as coisas pra ele, e ele aceitou, já que poderia vender quase tudo, a bolsa, os livros, os dois pen-drives virgens, o celular novo... Eu estava pegando as minhas coisas quando gritaram que eu estava sendo assaltada e surgiu aquele intrometido... Pessoas tendem mesmo a julgar as aparências e não buscar os sentidos, não é?- concordei com um gesto e a deixei continuar, totalmente admirado com a bondade com a qual ela tratou um mendigo estranho; aquilo fugia completamente da minha concepção de vaidade, aquilo sim foi coragem, como eu havia deduzido. Dialogar com um assaltante armado... Ela é incrível!

Marília e Paulo pararam de falar e estão apenas se olhando. Ele está um pouco menos combativo, sua postura mudou. É perceptível que ele, agora, está pronto para recebê-la em seus braços. Ela chega até a preparar o abraço, mas contém o movimento antes de um toque e fala alguma coisa, ele responde com um olhar para dentro da casa e um gesto afirmativo feito com a cabeça. Os dois se olham e ele chama alguém com outro gesto de cabeça. Aparece na porta da casa uma mulher um pouco mais alta, com a pele mais morena e mais gordinha que Marília, vestida com uma camisola muito sensual. As duas trocam olhares e falam alguma coisa... Marília não parece brava ou triste... Apenas, serena e, talvez, um pouco mais fechada, seus braços se cruzaram na frente do corpo há alguns segundos... Bem diferente da postura que adotou comigo há pouco mais de quarenta minutos, aquela era uma postura meiga. Mesmo estando de costas dá pra perceber que ela está sendo simpática, mas com uma retração muito grande. Ela acaba de dar um passo pra trás e contrair um pouco os ombros... E foi essa postura de retração que ela desmanchou em mim, há pouco. Eu convivi com distimia, uma depressão com sintomas mais leves, porém, mais duradouros, pode persistir por anos e levar ao suicídio por conta da sensação de tristeza constante. Eu sábia disso há muito tempo, mas não queria me tratar por que achava que seria inútil voltar a ser como antes... Minha cura só começou quando...

- O povo do ponto e do ônibus me provou isso. Dar parabéns à violência só por que parecia um salvamento, é ridículo! Do mendigo eu não tenho raiva nenhuma, sei que, na situação dele, até eu fugiria da briga com o que pudesse levar nas mãos...- Marília olhou para o chão e continuou.- Eu não queria ter que acreditar... Mas o Paulo parece fazer parte desse grupo... - ela deixou as últimas lágrimas caírem e me olhando nos olhos, continuou com uma voz mais aveludada.- Já pra você, sou eu quem deve desculpas... Quando você disse que você tinha se inspirado no Pietro, eu pensei que você fosse do tipo de pessoa que não enxerga além do que está escrito nos livros. Pietro não é um exemplo de felicidade, mas sempre soube... Você não é o Pietro, você...- ela fez um carinho no meu rosto, como que para ver se eu era real, mas eu gostei tanto disso, faziam mais de sete anos que não sentia um carinho verdadeiro no rosto.- Ainda está comigo. Pietro jamais seria capaz de tanta humanidade, ele teria chamado alguma entidade do governo que me detivesse. Você, Carlos, pegou só a parte boa do Pietro, o gosto pelo sentido, mas imagino que isso já era parte de você... Agora eu entendo você... Você é como eu, gosta dos sentidos... - ela se levantou, pegou a bolsa, tirou dela um papel e uma caneta, escreveu exibindo um sorriso sincero e me entregou o papel, me dando um beijinho no rosto.- Eu prometi um autógrafo e você merece... Obrigado, Carlos, você me ajudou demais. Não precisa se preocupar, eu vou voltar pra casa da minha mãe... Tchau...- me deu um outro beijinho e ia sair.

Mas eu já não podia deixar ela sair da minha vida, não sem antes vê-la feliz, de verdade, e não nesse tom de resignação. Eu não podia deixar ela seguir o mesmo caminho que eu, aquele caminho triste e solitário. Agora eu consigo traduzir assim aquele misto de emoções e pensamentos sem direção e o espanto de alguém me descrever tão bem em poucas palavras. Eu podia até já ter conseguido ajudar ela a não ser tão triste quanto eu, mas não era o suficiente. E tudo me fez pegar a mão dela, olhar em seus olhos e dizer numa voz firme que eu não usava há muito tempo, uma voz decisiva e calma:

- Marília, seja sincera, você está feliz?- ela me correspondeu o olhar e balançou a cabeça negativamente, enquanto se virava de frente pra mim.- Como eu pensei... Você precisa do sentido de tudo, não é? Precisa fechar ou reabrir de vez sua história com o Paulo, precisa conversar com ele!- ela ia mexer a boca, mas eu antecipei.- Você não precisa de pretexto nenhum para conversar com alguém que você gosta, só precisa assumir que quer conversar, e, se precisa de segurança emocional, eu vou com você e fico até o fim ao seu lado, eu prometo! Por favor, faça isso por nós dois. Nós dois precisamos saber se segundas chances existem e se as emoções podem mesmo nos fazer felizes!- olhei bem no fundo dos olhos dela, ela sorriu e me abraçou forte parecendo confirmar que ia, mas creio que, se correspondi o gesto, foi simplesmente pra não ficar parado. Acho que ainda não estava totalmente pronto pra apertar o abraço e demonstrar que realmente sentia.

Depois de me soltar, porém, Marília começou a tentar se convencer de que não devia vir até aqui com argumentos falsos. Era perceptível que ela estava com medo. Suas mãos paradas, sem fazer gestos, a hesitação em me olhar e os movimentos laterais de cabeça feitos de maneira rápida e constante acusavam a falsidade de suas palavras; enquanto estas me diziam que já estava tarde pra pegar os três ônibus necessários pra se chegar do outro lado da cidade, por isso era contramão para mim, ele não ia atender e ela não queria me fazer perder tempo. Eu neguei tudo o que me dizia respeito, mas concordei que ele podia não atender, não mentiria pra ela.

Embora eu soubesse que tudo aquilo era o mesmo drama que eu fiz com a carta do envelope rosa, eu via o mesmo medo e o mesmo desejo, a mesma ânsia de saber a verdade não querendo que ela se revelasse de maneira que nos cause dor; quando tentei acalmar ela, por várias vezes pensei até que ponto eu podia ir sem manipular a verdadeira vontade dela, já que o medo estava cumprindo seu papel fundamental de evitar sofrimento, mas estava prendendo Marília numa cadeia de ilusões. Claro que ela podia escapar disso mais fácil que eu e até sem ajuda, existia essa possibilidade, porém, se havia essa, havia a contrária.

E a contrária eu sei bem como é duro de quebrar o gelo que se forma. Leva-se muito mais tempo do que sabendo a verdade, agora eu sei. Por via das dúvidas, decidi deixar de lado a questão ética e arriscar que ela tinha que saber a verdade pra se libertar dessa história.

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Continua... 15/2/12 às 15:00

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Abraços Ed