EdLua.Artes

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domingo, 26 de junho de 2011

Poesia, apenas...

Choro de Adulto

Edgar Izarelli de Oliveira


Sou poeta.

Choro por tudo.

Cada poesia minha

É choro, é lágrima,

Fluxo inacabável de emoções

Escorrendo devagar

Até tomar forma de versos.


Sou mesmo sentimental...

Sinto tudo profundamente, logo existo.

Eu me orgulho de saber chorar,

Já que admito minha humildade humana,

Minha condição frágil e inconstante,

Minha participação na vida:

Tudo é choro ou, ao menos, deveria ser...


Não choro somente a tristeza,

Lágrimas tristes não têm a minha exclusividade,

Embora sejam as mais frequentes nessa época doída e doida.

Choro o medo, a angústia, a esperança, a gratidão, o carinho, a decepção, o recomeço,

A vitória, a derrota, o impasse, a chegada, a sorte, a despedida, o azar, o riso da ironia,

O desespero, a insegurança da mudança, a doença e sua cura, a dor, a noite, o dia,

A culpa do erro, a responsabilidade da sinceridade, a solidão, a perda, a conquista,

O tempo que não passa, o tempo que passa rápido, o segundo, a eternidade,

E o milagre da reviravolta que ainda pode acontecer com uma colher de fé a mais.

E quem nunca chorou de felicidade, de saudades ou de amor?


Dizem que homem não chora, que vergonha!

Homem que chora é adulto que assume suas emoções.

Homem que não sabe chorar é mentiroso que só fala que sente,

Mas, no fundo, não sente coisa nenhuma;

Ou é criança, medrosa, que ainda não está pronta pra viver.

Por isso, eu assumo todas as minhas lágrimas,

Até as que não têm razão ou sentido.


Mas há, na vida, acontecimentos que roubam, de nós, a correnteza...

Roubam lágrimas, sentimentos e choros inteiros.

Talvez, hoje, eu saiba que envelhecer

Exige que se faça de concreto firme e fraco

O homem que escorria feito mar em fúria que esculpia montanhas,

Versos leves em situações duras.


Certos choros, os mais bonitos, já sei que não escorrerão mais de meus olhos,

Certas poesias já se calcificaram dentro de mim e não mais chegarão ao papel.

Já endureci muito, mas espero que eu ainda seja um cristal sobre algum altar místico,

Não quero ser concreto quebrado de calçada pisada com força e impiedade.

Quero preservar ainda algo de líquido, nem que seja só a beleza aparente das águas,

Se eu ainda posso chorar de coisas belas, por que me prender a ser de pedra?

Quero voltar a ser poeta e, acima de tudo, chorar com a propriedade de adulto.