Trajetórias
Edgar Izarelli de Oliveira
Saí do caminho torto, comum e passional das emoções
E trilhei apostas retas e razoavelmente seguras,
Tendo comigo apenas a mísera coragem
De um mapa de pensamentos construídos a improviso
E uma pequena gaiola de julgamentos feitos em cima da hora,
Pra tentar manter sob minha custódia e companhia
A frágil linha de vida deste pássaro canoro.
Mas todas as estradas cederam à pressão do senso-comum
E dos fatos, contra-sensos e contra-cenas da realidade.
O piso do penhasco presente já está se esfarelando
Pelo peso das expectativas frustradas que transporto no peito.
Grito ao precipício profundo que se abre logo em frente, a um passo de mim:
“Como soltar um sonho de amor para que ele se disperse no ar?”
E uma voz serena e sábia me responde ecoando de algum lugar futuro:
“Como se solta um pássaro para que ele volte a voar?”
E com a expectativa despedaçada pela arte do instante,
Eu abro os braços e a porta da gaiola...
O pássaro até alça um vôo tímido e desajeitado,
Mas parece estranhar com frieza a hostilidade do horizonte,
E, sem que eu possa entender, ele muda a trajetória
E vem cantar maviosamente triste ao meu ouvido:
Volta comigo ao caminho belo e antigo
E vai consertando esse coração partido,
Pois, é seu todo o meu amor nativo!”
E o vento sussurrante me restitui toda a leveza de um corajoso “sim!”