EdLua.Artes

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Blog mantido por Lua Rodrigues e por mim. Trata de Artes, Eventos Culturais, Filosofia, Política entre outros temas. (clique na imagem para conhecer o blog)

terça-feira, 3 de agosto de 2010

Acerca da Arte


Ciao, amici miei!

Hoje, no café filosófico, vamos falar de arte! Está certo, a idéia me é recente... Prometi a vocês um artigo filosófico e outro literário... Se tratando do meu pensamento original, eu falaria da minha “Teoria das Rosas” (não sei se é minha, mas vou pesquisar algo parecido) e da minha nova visão sobre a tradução (como prometi ao meu nobre amigo Prisco). Mas, como ambas são coisas paralelas e estão apoiadas sobre o mesmo tronco, a Arte, decidi, através de uma boa conversa com minha nobre amiga Naiara (guardem bem esse nome), que seria melhor explicar a base antes das ramificações. Portanto, os dois outros artigos serão devidamente desenvolvidos e postados, posteriormente. Deixando sempre claro que o que escrevo nesse blog são pensamentos meus e estes, geralmente, não têm base teórica, portanto passiveis de qualquer questionamento e não devem ser aceitos como verdades absolutas em hipótese nenhuma (até porque não existem verdades absolutas).

“A arte escolhe o artista, mas não escolhe quem a entenderá.” Uma frase que disse a Naiara, numa conversa sobre a arte escrita, no início da semana passada. Por enquanto, deixaremos a frase como uma peça solta de um grande quebra-cabeças e nos debruçaremos sobre a arte.

Talvez nossas primeiras perguntas quando nos deparamos com algo novo sejam: “o que é?”, “pra que serve?” e “como faz?”, mas essas perguntas só funcionam quando feitas sobre algo concreto o suficiente para que se possa delimitar e concluir, em concordância com outrem, sobre as respostas das perguntas, por exemplo: um automóvel é uma máquina que anda sozinha sobre quatro rodas (ou três, relembrando “Mr. Bean”) que serve para transporte, sendo feito em um grande processo industrial (que eu não sei explicar). Isso, é claro, descartando o princípio da dúvida e assumindo que existe uma coisa que se chama automóvel.

Para comprovar a ineficiência destas perguntas para coisas abstratas, basta tentar fazer o mesmo processo que fiz com automóvel com o amor. Vamos lá. Mesmo admitindo que exista algo chamado amor, eu não posso dizer que é um sentimento porque muitas pessoas diriam que é uma emoção ou que é um processo químico do cérebro ou, ainda, que não existem sentimentos; mas, mesmo que pudesse dizer que é um sentimento, pra que serviria o amor? Para coisas abstratas usam-se perguntas e respostas pessoais e subjetivas.

Ok, e o que tem a arte haver com tudo isso? Simples, a arte não é tão concreta quanto um carro, posto que não é facilmente delimitada, mas possui um claro objetivo, servindo para, exclusivamente, uma coisa. Por outro não é tão abstrata quanto o amor, já que pode ser percebida em várias de suas modalidades sem que se duvide que seja arte.

Bom, mas se arte não é objeto nem abstratismo, o que é? A arte é a verdadeira capacidade inata do ser humano. Ficou estranho, dá para explicar melhor? Vamos lá, passo a passo. A arte é a capacidade que temos para expressar o que sentimos e pensamos e essa capacidade nasce com a gente, em outras palavras, é um instinto; algo que faz parte de nós. Sim, todos nós temos a capacidade de produzir arte e a utilizamos de inúmeros jeitos; desde o jeito de andar à mais bela escultura ou peça teatral, tudo é arte porque tudo expressa coisas, nós é que não percebemos isso.

Agora vocês me perguntam qual a diferença entre arte que fazemos todo dia e arte considerada como tal. Eu digo que é a beleza e o nome de quem faz. Pessoas andam por ai todo dia o dia todo, mas já viu alguém desfilar como uma topmodel? Mas o que as topmodels fazem é andar com beleza, só isso.

Dizem os leigos que a arte é a eterna procura da perfeição e da beleza. Não é. Arte é expressão ou a criação de um modo belo de se expressar. Eu, por exemplo, me expresso bem com as letras; um bailarino não precisa escrever ou falar nada, a arte dele é a arte do movimento, um cientista usa da técnica de escrever e de falar pra expressar a verdadeira arte dele, a produção de conhecimento; um professor tem a arte de passar conhecimento. Todos têm sua arte mais desenvolvida onde, de certo, fariam sucesso. O problema é que nem todos descobrem qual é sua especialidade ou, o que é pior, negligenciam sua arte pra fazer outra coisa, dando origem a duas artes: arte pura e arte imitada. São inimigas fatais, a meu ver. Explico as diferenças abaixo, junto com o sentido daquela frase inicial.

Se formos pesquisar a origem etimológica da palavra “arte”, veremos que sua origem é latina e significava o que hoje chamamos de técnica. A disparidade entre ambas, hoje, na minha visão, é que a técnica se aprende, enquanto a arte é dom. Por exemplo: uma pessoa pode aprender a cozinhar de variadas formas e variados pratos, mas sua comida não vai superar o sabor da comida feita por alguém que tenha arte (dom) de cozinhar, ou seja aquela pessoa que aprendeu a técnica básica de cozinhar e se misturou a ela de tal forma que não se consegue se separar. Talvez um exemplo melhor seja a literatura. Para fazer um texto é preciso saber escrever, escrever é técnica básica nesse caso, a partir daí se pode tomar dois caminhos, o caminho da força bruta (Poe e a filosofia da composição) ou o caminho da arte pura.

No primeiro, o escritor pode ter uma idéia boa, mas demorar anos para escrever uma única frase, porque forçará a idéia a sair para o papel obedecendo a determinadas regras, tomando determinadas formas, e querendo chegar a algum sentido específico pré-determinado, o que envolve tempo e estudo. Não digo que não seja arte, mas é uma arte que eleva a técnica ao sublime (como os Parnasianistas propunham... Juro que estou até hoje tentando entender que utilidade teve isso para a arte), sendo assim, a arte proposta por Aristóteles, arte que imita, de maneira grotesca, uma idéia de um plano mais elevado, ao qual os antigos gregos chamavam de “mundo das idéias“, no qual se supõe que ficam todas as idéias. Um artista desta linha, a meu ver, é de uma arte mais baixa, posto que só faz uma cópia da arte pura, buscando a beleza e ferindo o verdadeiro sentido da arte que é a expressão, mas claro que devo levar em conta que copiar também é uma forma de se expressar, portanto, é arte.

Por outro lado, a arte pura acontece quando, espontaneamente, uma idéia completa em forma e conteúdo, podendo ou não fazer sentido para o escritor, se deixa ser captada e transcrita, no caso da arte escrita, ao papel; dessa maneira o artista é uma antena sensível ao movimento das idéias do outro plano e intensifica essas idéias com suas percepções do “mundo real”. Um artista dessa linha, seja qual for a especialidade (o que explica certos gênios como Mozart, Bach, Dali, Machado de Assis, Shakespeare, Kafka. Entre vários outros) consegue improvisar sua arte em qualquer lugar ou circunstância, justamente por ser livre, desde que exista a ligação ao plano das idéias, a que chamamos de inspiração. Entretanto, não produz a arte que quer ou o estilo, ou mesmo o tema, por causa de suas afinidades, o tipo de idéia que o artista capta está diretamente relacionado a sua personalidade, tipo de pensamento, sentimentos e sonhos (ambição). Como todas são variáveis, a arte está sempre mudando e evoluindo, o que explica as vanguardas européias, por exemplo. E um artista dessa linha sentimental não pode deixar de fazer sua arte do jeito que ela vier, mesmo que não faça sentido nenhum, pois ele pode ser só uma ferramenta para que alguém entenda o que ele fez. Isso quer dizer: “mesmo que não tenha sentido, faça; alguém pode estar precisando dessa coisa sem sentido.”

Para os que me perguntarem de onde tirei tudo isso... Bom, meu primeiro com a dualidade arte/técnica foi num anime japonês chamado “Bucky”, eu recomendo... Tem só 26 episódios, pra quem sabe assistir e entender, é um bom desenho. Os episódios 21e 22 explicam a diferença entre técnica e arte. Posteriormente a faculdade me comprovou que sou sentimental o bastante pra detestar ver poesias esquartejadas sobre uma mesa... Que foi, anime é mais cultura que novela!

Abraços

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