EdLua.Artes

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Blog mantido por Lua Rodrigues e por mim. Trata de Artes, Eventos Culturais, Filosofia, Política entre outros temas. (clique na imagem para conhecer o blog)

quinta-feira, 22 de dezembro de 2011

Gênesis - 1º Capítulo


É... São quase duas da manhã e eu aqui, longe de casa, com frio, no meio da rua, a alguns metros de uma pensão barata num bairro famoso pelas republicas de alunos da faculdade próxima; prestes a assistir e, quem sabe, até interferir a uma cena cujo desfecho será, certamente, uma surpresa. Eu não tenho idéia do que acontecerá diante dos meus olhos, não sei nem mesmo se vou conseguir assistir calado, talvez eu seja mesmo impulsivo demais e parta mesmo em defesa de uma história que não é minha, talvez eu vire as costas para ela, por eu não aguentar ver, e vá embora sem olhar pra trás; ou talvez minha simples presença aqui já seja o suficiente para causar algo novo, inesperado, uma reviravolta! Talvez até já tenha interferido em demasia... Tudo o que conversamos pode ter mudado de maneira definitiva o curso dessa conversa, correnteza de sentimentos, dos gestos, das ações e reações de ambas as partes, mas eu não pude ser indiferente... Ela precisava de alguém e eu precisava de uma resposta... Inesperadamente, estou diante dela agora...

Quem disse que seria fácil achar uma resposta tão profunda?

Pode ser apenas impressão minha, mas ela já não é a mesma. Sinto, pela sua hesitação aqui ao meu lado, pelo ritmo lento de sua respiração, as mãos relaxadas, os olhos fechados e a cabeça baixa, que ela está tentando ser forte... Está tentando juntar palavras e sentidos no fundo da sua alma já tão consagrada nesse ramo. Sinto que nem ela, afinal, sabe o que esperar, mas está, ao menos, reflexiva. Já é um começo. Me lembro da expressão de desespero banhando seus olhos... Parecia loucura.

E lá vai ela agora, meio insegura, dando o primeiro passo ao portão da pequena casa, ainda de olhos fechados. Não me surpreende que esteja, assim, tão assustada. Até eu estou muito assustado; essa noite pode derrubar por terra toda uma vida construída do que restou de dor num coração, o MEU! Essa noite pode me provar que estou errado e, embora quase todos queiram privar-se de erros, a minha vida inteira eu sonhei em me desmentir, em me provar o contrário do que acredito, só assim voltarei a ter esperança nas pessoas. Estou com medo, estamos com medo e isso é perceptível. Mas agora já não tem mais volta, eu preciso dessa resposta tanto quanto ela.

Vejo ela abrir os olhos, dar alguns passos e voltar a cabeça para trás, procurando, na minha imagem iluminada pela luz de um poste, alguma segurança. Me vendo ali, de pé, encostado ao poste, com meus braços nus cruzados e olhando atentamente para ela, ela vira o corpo trêmulo devagar e deixa rolar mais uma lágrima numa expressão desatenta que eu conheço bem.

Meu deus, o que fazer agora? Quantas vezes eu já tinha lançado esse mesmo olhar morto a tantas incontáveis pessoas? Esse olhar que implorava um abraço apertado... Me lembro bem das vezes que meu mundo caiu ou estava para cair, quanta força um simples abraço podia me dar. Mas, aqui? É arriscado demais para ela mesma.

Eu hesito, ela percebe e vai virando de frente para a casa do destino e andando lentamente, como quem dá tempo a um artista de rua para que se exiba com calma antes de lhe dar a moedinha.

Um abraço pode salvar uma vida, pode salvar uma história como essa. Um abraço pode salvar essa mulher, pode transmitir a ela toda a segurança que ela precisa para continuar viva mesmo se a casa cair. Eu não ganhei esse abraço, as coisas pra mim sempre foram mais difíceis. Tive que aprender toda uma nova estrutura de vida, mais regrada e rígida. Tive que buscar sozinho os presentes que essa dor, essa mesma dor que ela está vivendo, me deu. Tive que montar novos sentidos de formas tão incertas que a lembrança faz escorrer uma lágrima de compaixão. Um abraço é tudo que ela precisa para não perder nada, nenhuma das belezas que ela possui; e eu jurei que nunca deixaria alguém passar pelo que passei, não se essa pessoa aceitasse a minha ajuda. Pois bem, ela está mais que aceitando a minha ajuda, está pedindo aquele abraço... Vai, Carlos, seja homem, rapaz! Tá na hora de cumprir com sua palavra!

- Marília, espera!- digo abrindo os braços e um sorriso leviano.- Vem cá! Sei que precisamos desse abraço.

Ela me olha. Um olhar desses que se perdem entre os laços formados num encontro, quando já não se sabe mais o que significam os sinais. Ela vem a passos largos e me abraça demoradamente, apertadamente, e encosta a cabeça no meu peito devagar, me relembrando minha infância e os toques das borboletas que pousavam em mim. Meu sorriso ganha ares de nostálgico e verdadeiro. Ela vai ficando alguns momentos nos meus braços, tão tranquila... Mas chega a hora inevitável. Ela se afasta devagar, como se quisesse evitar o choque da distância, põe a mão esquerda sobre o meu coração, aponta, com um meneio de cabeça, a minha mochila ao chão, depois tira da própria bolsa a carta que escreveu ao meu lado e me entrega aquele papel dobrado descortesmente.

- Carlos, é para você essa carta.- ela me diz com a voz firme e me olhando nos olhos.- Por favor, leia quando a cena acabar...- eu tento interromper, mas ela coloca o dedo indicador na frente dos meus lábios pressionando-os levemente e prossegue.- Eu sei o que você vai dizer. Apenas leia, eu te peço, leia. Não a guarde durante anos como fez a uma outra carta.- fazendo uma clara menção à carta que eu tinha mostrado a ela no ônibus.- Eu acho que você deve ler aquela carta também. Acho que surpreenderá e te devolverá a vida perdida...- ela adocica a voz para continuar.- Adorei essa noite. Deus me mandou um anjo quando eu mais precisava. Por favor, pegue a carta, Carlos.

Eu levo a mão, lentamente, mais inseguro, e pego a carta dos segredos daquela alma. Claramente surpreso por essa resolução. Essa carta não era pra mim, tenho certeza, e, de repente, ela chega às minhas mãos, entregue pela própria remetente, e acompanhada com palavras tão delicadas e bem escolhidas. Tudo, nessa noite de maio, parece ser surpresa! Espere, ela está aproximando o rosto do meu? Tento virar o rosto, me afastar depressa, mas minhas emoções, reativadas pelo curto tempo de convívio com essa mulher, querem ver até onde ela pode chegar, até onde ela pode me surpreender. Meu corpo entende e para o movimento inquietante da minha razão.

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Continua... No dia 25/12/11 às 8:00

Por favor, comentem, o que acharam deste primeiro capítulo...

Abraços, Ed

PS: Obrigado pela ajuda Hina-chan!

quarta-feira, 21 de dezembro de 2011

Agradecimentos...

Good Dawn, people!

Hoje eu acabei de corrigir o texto do “Gênesis” e estou separando as partes, está tudo pronto para estréia hoje!!!

Mas enquanto corrigia, eu senti uma vontade de compartilhar algumas coisas com vocês... Pra falar a verdade, esse texto ser parte da apresentação. Eu sei que esse blog não é mais um diário da minha vida pessoal há muito tempo, mesmo praticamente todas as poesias, contos e pensamentos aqui tornados públicos, embora tenham forte teor artístico, não deixam de ser uma expressão daquilo que eu sinto, penso e vivencio. “Gênesis” está longe de fugir disso. Assim como quase todos os outros textos prosaicos de minha autoria, este também metaforiza partes importantes da minha vida. Este trabalho talvez seja um dos mais importantes, pois, traz à tona todo um processo psico-emocional pelo qual passei. Muita gente que acompanha este blog vai conseguir “lincar” “As rosas do amor” e “Sonho de outono”, dois outros contos publicados aqui, através deste novo texto. Os mais atentos talvez consigam perceber ligações com textos mais antigos, como o já tão citado “O Retorno de Saturno”...

Bom, a questão é que todo esse processo psico-emocional que citei, foi uma depressão muito forte pela qual passei no começo deste ano e demorou muito tempo até eu começar a me recuperar. E, se hoje eu posso dizer que valeu a pena ter vivido esse ano, eu preciso agradecer a muitas pessoas.

Minha família que suportou aquele período de loucura tão bravamente. Realmente família é que segura a onda nas fases difíceis. Mãe, Pai, Vó, a nossa secretaria e meus primos, obrigado por tudo que vocês fizeram e desculpem pelo trabalho que eu dei...

Tive várias amigas que me ajudaram, amigas antigas que acompanharam essa história inteirinha, e sempre me ajudaram como podiam, com uma conversa, uma visita, enfim como podiam, Etel, Cris, Vê, Pa, Jessy(Capitu), Hina-chan, Lilly, Naiara (My Rose) e, principalmente, Mandy... Obrigado a todas vocês pelo carinho, atenção e tempo dedicado a mim quando eu mais precisei... Alias hoje é aniversário da Mandy... parabéns, minha querida amiga!!!

A todo grupo da aula de tango, dos saraus Tearte, CRJ Embu e do Itapoesia e os amigos queridos que fiz ou reencontrei de agosto pra cá graças ao Facebook, deixo meu sincero agradecimento, pois vocês movimentaram muito meus planos e minha vida... Mas, especialmente, Andréa e Viviane Neres, Ana Maura, Nana e Tamis Reis, Daiana Fonseca, Érica, Bárbara, Priscila e Jailma (minha fadinha), obrigado minhas queridas, vocês todas me estimulam tanto a crescer profissionalmente e como pessoa, não quero nunca perder o contato com vocês!!!

Mas... Tem alguém que me acompanhou o ano todo e fez de tudo pra me ajudar, Nataly... Eu tive a sorte ou o merecimento, sei lá, de ser encontrado rapidamente por alguém que realmente me entende, entende minha mente e sentimentos, minhas palavras gesos, e me faz bem. Ela soube, em todas as fases, o que dizer e o que fazer pra me ajudar a me restabelecer e ficar bem comigo mesmo e com o mundo. Ela me ajudou fazer as pazes com valores meus, me ajudou a alcançar uma nova fase poética, devolveu a mim a essência dos bons dias e está me ajudando a encontrar uma maturidade emocional e mental que nem sei descrever de tanto que combina com aquilo que eu sempre almejei alcançar. Enfim, o crescimento que tive e ainda estou tendo em todas as áreas da minha vida com ela ao meu lado é maior e melhor que todas as outras experiências que já tive até aqui...

Natty, dizer obrigado é pouco perto de tudo que você representa na minha vida!

Talvez, essa “novela” que escrevi e vou postar aqui tenha um significado muito maior pra nós dois, Natty, eu gostaria muito que você acompanhasse esse meu pressente que é especialmente dedicado a você! Eu estava te devendo isso desde maio... Eu acho que você vai gostar...

Eu acho que todos vão gostar...

Abraços a todos

Ed

segunda-feira, 19 de dezembro de 2011

Gênesis- Apresentação.

Boa noite, pessoas!

Hoje vou fazer uma breve apresentação do meu novo trabalho chamado “Gênesis”.

Acabo de terminar de escrever, vou passar uma correção, e, na quinta-feira, dia 22/12 , começarei a postá-lo em forma de capítulos aqui, somente aqui, como aconteceu com meu conto “O Retorno de Saturno”. Será o meu presente de Natal para vocês..

Primeiramente, quero avisar que possui temas adultos, portanto, não é aconselhável para menores de 16 anos, mas claro que é só um conselho...

Dito isto, deixem-me explicar porque não estou classificando este trabalho em nenhuma denominação literária. Ele começou a ser desenvolvido em Maio deste ano, com o cálculo de ser um conto de mais ou menos 20 páginas, mas eu não consegui chegar nem à metade da trama nesse espaço; acabei concluindo na 42ª página, tendo uma extensão que não condiz muito com a de um conto tradicional.

Um outro problema encontrado no enquadramento deste trabalho dentro de uma classificação conhecida é a questão dos núcleos narrativos. Para simplificar um pouco e manter minha política de literatura para todos, o núcleo narrativo é o que dá liga aos diversos “ingredientes”de um trabalho literário narrativo, que conta ou noticia uma historia ou fato. Em outras palavras, é “o quê”, no sentido de substantivo, “a coisa” que se está contando. Então, por exemplo, o lide, o primeiro parágrafo de uma notícia, aquela frase que fica embaixo do título, sempre apresenta o núcleo da noticia: “Fulano de tal anunciou ontem que vai se aposentar por invalidez.” Então o jornalista desenvolve o texto em cima disso. Em contos, geralmente, o núcleo fica nas entrelinhas, mas, para ser considerado conto, é necessário que se tenha apenas um núcleo. Sinceramente, eu não sei se tem apenas um núcleo, embora todo enredo do trabalho se passe em apenas uma hora. Bom, fica a discussão para os literatos de plantão. Quem descobrir em que categoria se encaixa esse trabalho, me diga!

Bom, talvez o título chame atenção nessa época do ano, com o Natal logo ali, mas não se trata de um trabalho natalino e, além do título, pouco se aproxima de temas religiosos, embora debata muito diversos valores humanos e sociais; ou, melhor colocando, para mim não tem muitas referências bíblicas. Não pretendo, com está apresentação, trancar nenhuma interpretação possível. Gênesis foi o melhor título que consegui, pois, além de fazer esse link com o religioso, ainda fica bem sugestivo como título, portanto, vou deixar esse mistério para o prazer de vocês.

Como já disse, é um projeto iniciado em Maio, por isso talvez dialogue com as poesias e textos postados naquela época em que estava discutindo comunicação humana. Esse trabalho traz duas personagens centrais, Marília Buonicelli e Carlos Magno Vieira, Ambos nomes inventados que não fazem referência a ninguém. Os outros personagens com nome, não tem sobrenome e, embora o “professor Sergio” tenha tido alguma inspiração inconsciente nos meus professores de biologia e tango que eu só percebi depois, eu não procurei inspiração em ninguém com esses nomes conscientemente.

No mais, esse meu novo trabalho é narrado em 1ª pessoa participativa, o personagem fala sobre algo que aconteceu, está acontecendo ou acontecerá consigo mesmo e com aqueles que estão ao redor, como já é característica minha, e apresenta vários conflitos de diferentes ordens, psicológica, temporal, social, linguagem e etc. que são discutidos na trama. E onde procuro apresentar características de uma doença muito grave pela qual passei. A depressão. Muita gente não sabe, mas depressão tem níveis.

É um texto complexo que deve ser apreciado, saboreado, por isso e, logicamente, pela grande extensão, será postado aos poucos. Creio que em 21 capítulos. Pretendo postar uma parte a cada três dias. e abrirei um marcador só para ele no menu de marcadores, assi fica mais fácil de achar !


Também avisarei via Facebook, orkut e msn, sempre que postar uma parte.


Estréia dia 22/12!

Feliz natal!

Ed.