Minhas Amantes
Edgar
Izarelli de Oliveira
Eu amo a Poesia.
Já cheguei a declarar que ser poeta é casar-se com ela
E para ela estar sempre disponível e sempre amável,
Mas, sem querer dar fama errada aos artistas,
Não sou assim tão fiel…
Tenho lá meus casos com outras artes!
A Música é a amiga de todas as horas,
Todas mesmo. Piano, quando estou triste;
Guitarra, quando estou alegre; Harpa, quando estou
tranquilo;
Tambores, quando preciso; Violão, quando me apaixono;
Flauta transversal ou Ocarina, quando me diverte; Rabeca pra
descansar.
E aquela Voz suave que sempre consegue me fazer fechar os
olhos e delirar,
Quando estou no ápice do prazer. Gemidos no ouvido...
Não passo mais de duas semanas sem pegar a Dança pra dançar!
É Dança Celta pra se conhecer, Medieval pra se encontrar,
Cigana pra me encantar...
É Balé Clássico pra assumir, Break pra impressionar, Jazz
pra cativar...
É Rock pra descontrair, Valsa pra conquistar, Street pra me
agitar...
É Country pra aquecer, Frevo pra alucinar, Salsa pra rebolar
e Forró pra completar...
É Tango pra me seduzir, Lambada pra me abalar, Gafiera pra
assegurar...
Dança do Ventre pra se mostrar, Pole Dance pra se despir e
Improviso pra acabar!
Às vezes, até Funk ela me faz dançar!
A Pintura é caso antigo, primeiro amor inesquecível, impossível
é não relembrar!
Linhas sensuais no sorriso e no olhar, pinceladas suaves de
carinho nas mãos,
Muitos ângulos pra se admirar e múltiplas perspectivas pra
me ensinar
Como se faz para capturar e gravar a melhor imagem da
felicidade me emocionando,
A cada painel colorido com a dedicação de quem não quer nada
mais que colorir a vida!
E, a cada afresco, vai me mostrando técnicas de como
embelezar a chuva,
Desenhar o sol a Carvão, usar Nanquim em neblina, Guache em
passarela,
Acrílica em folha seca, Maquiagem pra tapar as verrugas da
lua, Aquarela em fogueira
E, depois de tanto encanto, ainda lhe sobra o batom dos
lábios para corar meu corpo!
Ultimamente, ando querendo modelar a cintura de uma bela
Escultura
Dar-lhe seios fartos, quadris largos, lábios grossos e
cabelos soltos, espalhados no ar,
Mas eu quero alguma matéria quente e úmida que barro,
madeiras e pedras não me dão.
Artes Plásticas e flexíveis, uma dessas modernices que andam
fazendo por aí...
Borracha? Acho que Borracha não me contentaria, não...
Acho que me afeiçoaria muito mais ao Papel Marchê ou às
Fibras de Metais Elétricos..
Enquanto não acho a matéria-prima certa pra esculpir
delicadezas de mulher,
Sempre paro pra admirar os flashes faiscantes nos olhos da
Fotografia!
Ah! Minha cobiçada menina, fotografe-me onde quiseres, onde
eu menos espero,
Faça montagens românticas só pra me marcar em redes sociais,
me tenha no caderno!
Tenho até uma amante oficial, a Interpretação.
E como essa sabe quem sou eu!
Me conhece de dentro pra fora, de fora pra dentro, virado do
avesso, pouco importa!
Cria corpos que me despertem, cria mentes que me interessem,
ilumina os holofotes
Escolhe sempre os melhores figurinos, pensa sempre nos
cenários mais incríveis,
Faz cenas, ceras, coceiras, inventa mil situações só pra
complicar, me deixar sem saída!
E deixar mais intensa a hora certa de contracenar comigo
aquele amor gostoso
Sobre o palco de tesão que sustenta todo o espetáculo de se
reinventar
Só pra tê-la nos braços por alguns momentos!
Tenho, sim, meus casos e isso não é segredo pra ninguém,
Mas é a Poesia chamar, com suas metáforas sedutoras,
Suas entrelinhas maravilhosas e suas atraentes antíteses
Suas mil formas inesperadas de me fazer sentir que tudo faz
sentido,
Que nada, por mais que pareça deslocado, pode ser
considerado errado,
E eu volto totalmente a atenção e o deslumbramento para ela!
E ela me recompensa, pois bem sabe que sou dela e que nunca
fugirei deste matrimônio!
Ela sabe, com certeza ela sabe, que, se mantenho laços
estreitos com outras artes
E se desejo conhecer mais além, é por devoção, por amor!
É só pra saber ouvir cada vez mais as palavras que ela me
traz
E saber corresponder cada vez mais todo o bem que ela me faz
Pra poder me encantar cada vez mais quando ela vier me
mostrar a paz!
Elas, todas artes que me enamoram,
Elas até que se dão bem, nunca brigam,
Não fazem escândalo, não me disputam...
São até amigas, confidentes, irmãs.
Por que as mulheres não são como as artes!?