EdLua.Artes

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Blog mantido por Lua Rodrigues e por mim. Trata de Artes, Eventos Culturais, Filosofia, Política entre outros temas. (clique na imagem para conhecer o blog)

quinta-feira, 27 de setembro de 2012

"Um dia frio", um bom lugar pra ler poesia.. "E o pensamento lá em você" e tudo me Inspira!


Um dia de Inverno
                                   Edgar Izarelli de Oliveira

Agora a primavera já é fato consumado
E ainda há este outono temporão em mim,
O colorido que maquia a secura do fim
E engana o coração num beijo sucateado...

Eu já estava até me acostumando com um novo ritmo de vida,
Mas já que o expresso do inverno reapareceu por um dia,
Gritando a última chamada, última saída, abraços de despedida...
Aproveito pra tornar à alegria e retomar minha alma sadia!

É hora de resolver assuntos inacabados, amores pendentes, saudades latentes.
É hora de quitar as dívidas, fazer as pazes comigo e com o que sobrou da gente.
É hora de me abrir para o que pode haver de novo, o inesperado, o surpreendente.
É hora de fazer a transição, a transcrição, completar a transação, acertar a translação
E partir a uma órbita mais alinhada ao redor de outra estrela que guie minha evolução.
É hora de encarar a solidão a frio, recolher os fragmentos e consertar o coração. 

É hora de tirar o peso dos lençóis, dos cobertores, do edredom
E aproveitar o frio pra concentrar algum sentimento tão quente
Que me permita sobreviver ao inverno constante dos olhares alheios.

terça-feira, 25 de setembro de 2012

Fazia tempo que não vinha uma poesia de duas páginas...


Minhas Amantes
                                  Edgar Izarelli de Oliveira

Eu amo a Poesia.
Já cheguei a declarar que ser poeta é casar-se com ela
E para ela estar sempre disponível e sempre amável,
Mas, sem querer dar fama errada aos artistas,
Não sou assim tão fiel…
Tenho lá meus casos com outras artes!

A Música é a amiga de todas as horas,
Todas mesmo. Piano, quando estou triste;
Guitarra, quando estou alegre; Harpa, quando estou tranquilo;
Tambores, quando preciso; Violão, quando me apaixono;
Flauta transversal ou Ocarina, quando me diverte; Rabeca pra descansar.  
E aquela Voz suave que sempre consegue me fazer fechar os olhos e delirar,
Quando estou no ápice do prazer. Gemidos no ouvido...

Não passo mais de duas semanas sem pegar a Dança pra dançar!
É Dança Celta pra se conhecer, Medieval pra se encontrar, Cigana pra me encantar...  
É Balé Clássico pra assumir, Break pra impressionar, Jazz pra cativar... 
É Rock pra descontrair, Valsa pra conquistar, Street pra me agitar... 
É Country pra aquecer, Frevo pra alucinar, Salsa pra rebolar e Forró pra completar...
É Tango pra me seduzir, Lambada pra me abalar, Gafiera pra assegurar...
Dança do Ventre pra se mostrar, Pole Dance pra se despir e Improviso pra acabar!
Às vezes, até Funk ela me faz dançar!

A Pintura é caso antigo, primeiro amor inesquecível, impossível é não relembrar!
Linhas sensuais no sorriso e no olhar, pinceladas suaves de carinho nas mãos,
Muitos ângulos pra se admirar e múltiplas perspectivas pra me ensinar
Como se faz para capturar e gravar a melhor imagem da felicidade me emocionando,
A cada painel colorido com a dedicação de quem não quer nada mais que colorir a vida!
E, a cada afresco, vai me mostrando técnicas de como embelezar a chuva,
Desenhar o sol a Carvão, usar Nanquim em neblina, Guache em passarela,
Acrílica em folha seca, Maquiagem pra tapar as verrugas da lua, Aquarela em fogueira
E, depois de tanto encanto, ainda lhe sobra o batom dos lábios para corar meu corpo!

Ultimamente, ando querendo modelar a cintura de uma bela Escultura
Dar-lhe seios fartos, quadris largos, lábios grossos e cabelos soltos, espalhados no ar,
Mas eu quero alguma matéria quente e úmida que barro, madeiras e pedras não me dão.
Artes Plásticas e flexíveis, uma dessas modernices que andam fazendo por aí...
Borracha? Acho que Borracha não me contentaria, não...
Acho que me afeiçoaria muito mais ao Papel Marchê ou às Fibras de Metais Elétricos..
Enquanto não acho a matéria-prima certa pra esculpir delicadezas de mulher,
Sempre paro pra admirar os flashes faiscantes nos olhos da Fotografia!
Ah! Minha cobiçada menina, fotografe-me onde quiseres, onde eu menos espero,
Faça montagens românticas só pra me marcar em redes sociais, me tenha no caderno!



Tenho até uma amante oficial, a Interpretação.
E como essa sabe quem sou eu!
Me conhece de dentro pra fora, de fora pra dentro, virado do avesso, pouco importa!
Cria corpos que me despertem, cria mentes que me interessem, ilumina os holofotes
Escolhe sempre os melhores figurinos, pensa sempre nos cenários mais incríveis,
Faz cenas, ceras, coceiras, inventa mil situações só pra complicar, me deixar sem saída!
E deixar mais intensa a hora certa de contracenar comigo aquele amor gostoso
Sobre o palco de tesão que sustenta todo o espetáculo de se reinventar
Só pra tê-la nos braços por alguns momentos!

Tenho, sim, meus casos e isso não é segredo pra ninguém,
Mas é a Poesia chamar, com suas metáforas sedutoras,
Suas entrelinhas maravilhosas e suas atraentes antíteses
Suas mil formas inesperadas de me fazer sentir que tudo faz sentido,
Que nada, por mais que pareça deslocado, pode ser considerado errado,
E eu volto totalmente a atenção e o deslumbramento para ela!
E ela me recompensa, pois bem sabe que sou dela e que nunca fugirei deste matrimônio!
Ela sabe, com certeza ela sabe, que, se mantenho laços estreitos com outras artes
E se desejo conhecer mais além, é por devoção, por amor!
É só pra saber ouvir cada vez mais as palavras que ela me traz
E saber corresponder cada vez mais todo o bem que ela me faz  
Pra poder me encantar cada vez mais quando ela vier me mostrar a paz!
    
Elas, todas artes que me enamoram,
Elas até que se dão bem, nunca brigam,
Não fazem escândalo, não me disputam...
São até amigas, confidentes, irmãs.
Por que as mulheres não são como as artes!?   

segunda-feira, 24 de setembro de 2012

Exercício de Teatro que transformei em Conto

Boa Madrugada, gente!
Para contextualizar. Faço Curso de Teatro com Almir Rosa, tenho aprendido muito com ele. Na última aula, ele dirigiu micro-cenas baseadas em situações fictícias e pediu para que os alunos continuassem somente e especificamente as suas personagens como eles agiriam após a cena, para isso não poderíamos nos apegar a escrever qualquer expressão da personagem com quem contracenamos. Mesmo tendo prática na área prosaica, meus contos sempre procuram relatar ao máximo todas a expressões de todos os personagens para que o entendimento seja apurado em todas as dimensões. Ação e reação são constantes nos meus trabalhos prosaicos. Pra ser sincero, nunca tinha penando em deixar uma parte escondida e tentar mostrá-la à partir da reação. Decidi encarar como um novo desafio. O resultado está neste pequeno conto, posto também o perfil que o professor deu para a minha personagem. Comentem. Abraços!
Ed


Perfil: um homem de alta classe social, por volta de 35 anos, dono de uma grande empresa, casado, sem filhos.   

Despedida

Ângelo chega animado em sua casa e vai ao encontro de sua mulher, abraçando-a com ímpeto, mas carinhosamente. Ele se afasta um pouco, cruza as pernas em sua cadeira de rodas e comunica em tom claramente eufórico, olhando no rosto de sua esposa: “A grana da viagem saiu, podemos ir amanhã mesmo!”. Fica sem palavras ao ouvir a resposta de sua esposa e, apenas depois de algum tempo olhando para chão, volta o olhar para ela e indaga num tom descrente e visivelmente alterado: “Mas... é a viagem que você sempre quis fazer...!”. Diante da resposta, Ângelo vira a cadeira de lado para a esposa, como se estivessem sentados num sofá, e seus gestos e postura indicam tanto desnorteio e tristeza, quanto certo distanciamento. Ele não chora nem ri, apenas, olha vagamente para as coisas. Sem reação imediata, ele procura não olhar para a esposa, tentando se orientar em alguma coisa mental, algo só dele. Finalmente, Ângelo gira as rodas de sua cadeira, com certa fraqueza, lentidão, mas sem se demonstrar abalado, até um piano, abre a tampa das teclas, respira fundo, dedilha bruscamente um glissando e algumas notas de uma música. Para, também bruscamente, abaixa as mãos até as coxas, lentamente, e fala, numa voz baixa, olhando para as teclas do piano: “Tudo bem, eu assino. Já está tarde, dorme aqui... amanhã a gente vê o que faz.” Volta a tocar a música de onde parou. Não dirige mais o olhar nem a palavra à esposa. Só se retira do piano para dormir. Dorme na sala, tirando o casaco e usando-o como cobertor.

No dia seguinte, Ângelo acorda e, com movimentos lentos, olha o relógio, se espreguiça, veste o casaco, vai até o piano, pega um porta-retrato, admira a foto por algum tempo, deixa o porta-retrato virado pra baixo. Pensa por algum tempo, olha redor de si como se estranhasse o local, mas com um ar de saudade. Ângelo, então, pega um bloquinho-de-notas e uma caneta em cima do teclado, escreve um recado, descarta a folhinha do bloco, amassa, joga ao chão, suspirando e balançando negativamente a cabeça, e torna a escrever. Descarta essa folhinha, deixa o bloquinho e a caneta em cima do piano. Torna a pegar o porta-retrato, prende a folha junto à foto, deixa o porta-retrato em pé sobre o piano. Toca a mesma música. Vai até a mesa do telefone e liga para alguém, dizendo: “Remarque todas as reuniões deste mês para conferência de vídeo e me encontre em Paris semana que vem. Tout ira bien, Tout ira bien!” Ângelo pega seu passaporte e seu cartão de crédito, guarda no bolso do casaco e sai, rodando lentamente sua cadeira de rodas, com um leve sorriso de agradecimento. 

Edgar Izarelli de Oliveira