Edgar Izarelli de Oliveira
Três crianças brincavam de pega-pega numa tarde ensolarada de um verão simples. Época em que tudo ainda era fácil; o gostar era simplesmente gostar por que havia o não-gostar. Meninos e meninas só se diferenciavam pelos brinquedos. Mas pega-pega não dependia de brinquedos. Eram todos iguais: a mesma correria entre as árvores daquele bosque, a mesma graça, o mesmo riso e os mesmo tombos.
A tarde e o tempo também corriam para pegar a energia dos infantes, mas estes pareciam desprezar completamente a chegada da noite e do sono. A tarde passou. Já era o anoitecer, o Sol já estava se pondo, mas ainda havia luz, quando as crianças se sentaram na grama baixa para descansar antes de voltar para casa.
As crianças cansadas estavam sentadas no alto de um morro, olhando na direção do campo florido que ficava monte a baixo, se estendendo até um pequeno lago. Parecia que a graça do dia tinha acabado, mas a noite traria de novo o riso na manhã seguinte. A hora do sono se aproximava, como uma borboleta: suave e inconstante no ar.
Os últimos raios de Sol, porém, trouxeram uma última surpresa para aquele dia feliz. Surpresa em forma de borboleta e de cor azul! Uma borboleta azul dançava entre as flores brancas do campo de dente-de-leão e aquele vento suave de suas asas espalhava as sementes destas flores. Uma borboleta azul, de azul de céu noturno brincava antes da noite chegar!
As três crianças observaram aquilo com a impressão de estarem diante de um fato novo, mágico, inexplicável. A borboleta dançava...
A primeira das crianças se levantou ao ver um espanto tão grande no rosto de seus amigos, disse ser apenas uma borboleta e nada mais, se despediu e ficou criança, não cresceu. Com o passar dos anos, ficou sozinho e foi se sentido triste, passando a não gostar das borboletas azuis, depois de nenhuma borboleta, depois de ninguém, depois nem de si mesmo.
A segunda criatura humana juvenil não entendeu como era possível alguém não crer na mágica de uma borboleta azul, diziam-lhe que essa borboleta traria muita coisa boa a quem conseguisse conquistá-la. A pobre criança se fascinou com a possibilidade e se pos a correr cegamente atrás da borboleta que fugia da captura como o vento foge das mãos. A criança não desistiu e, quando tocou no inseto, de tanto correr olhando para o céu fora de seu alcance, acabou tropeçando numa pedra, caindo e rolando até o lago. Na queda, quebrou os braços, não conseguiu nadar, mas ainda sabia boiar... E boiou a vida toda, sem direção, sem entender “como’s” e “porquês”.
A terceira criança, após salvar o amigo do lago e levá-lo ao alto do morro, pôs-se a esperar, com muita fé, a dançarina azul se aproximar por vontade própria. A criança deitou e ficou bem quietinha para não assustá-la e esperou que a borboleta pousasse em seu corpo. Como ela não vinha, a criança decidiu oferecer um presente... Foi até um campo de violetas do outro lado do morro, pegou uma flor, a maior e mais bonita, a colocou em seus cabelos e deitou-se de novo no meio dos dentes-de-leão.
A borboleta viu a violeta como algo especial, era o que ela procurava na sua dança: a flor que lhe tinha dado a cor linda que levava nas asas. E pousou na flor.
Essa criança foi feliz e cresceu forte e cheio de amor para com as borboletas, tornando-se um adulto mais vivo, com a mente madura, o coração aberto e o espírito de criança preservado.