Equinócios em Claro (Folha Branca, Primavera, Madrugada)
Edgar Izarelli de Oliveira
Exploro mais uma folha branca,
Procurando as folhas coloridas do Outono,
Mas, acho que esqueci: é final de setembro,
Porém, estou preso ao ar primaveril do hemisfério sul.
As aves migratórias me são estranhas,
As flores, o sol, a luz, as roupas brancas na rua,
A limpeza abrindo espaço para que o Verão,
Aquele chato, espaçoso e fútil do Verão,
Possa voltar e, com aquela linda chuva de raios
(ao menos, a chuva continua linda nessa época enfadonha do ano),
Quebrar tudo que consegui construir de bom e confortavelmente quente
Durante a visita aconchegante e culta do meu querido Inverno.
E quanto de mim, ainda hoje, consegui salvar. Quanto ainda há pra ser salvo?
E para quê? Se o Verão vai levar tudo no primeiro temporal de novo...
Exploro essa folha vazia na tentativa de salvar parte do Inverno,
Algum prazer que me desperte amanhã,
Algum fôlego gemido, suspiro resmungado, pedindo mais um pouco,
Mais um pouco desse romance inteligente e diferente que ainda não terminei de ler,
Mais um pouco das coisas que redescobri, realinhei e reaprendi no Outono,
Um pouco mais dessa chama que conservei viva, escondida debaixo do cobertor,
Mas parece que um vazio imenso já está me preenchendo, me dispersando no ar.
Me entupo de sobremesas frias e chocolate meio-amargo,
Mas o sabor da constatação, bem mais amargo do que a metade do chocolate,
Parece que vai ficar na minha boca durante anos...
Eu ainda tento me equilibrar entre dias e noites, entre a doçura e o sarcasmo,
Mas de repente me parece que amadurecer significa aprender a beber
Café puro de manhã, chá gelado de boldo com carqueja, cerveja na padaria,
E esquecer o cappuccino, chá quente de cerejeira com mel nas tardes frias de Inverno,
E a taça de vinho de qualidade apurada depois de um bom jantar íntimo.
Amadurecer, de repente me parece ruim, de repente me parece perder as emoções
E ter um coração vazio guardado na geladeira ou no freezer, peça de carne,
Pra churrasco com festa na piscina da casa de praia...
Não estou disposto a fazer isso comigo mesmo.
Vou dar mais uma chance a alguma fada que ainda acredite na Primavera,
Assim como essa folha explorada durante toda uma madrugada ainda se compraz
E, de um jeitinho só dela, ainda me dá uma chance de escrever algo que valha a pena.
Não me deixe só, não agora, que a aurora ainda pode nos revelar algo de bom,
Alguma surpresa, voz de inspiração pra que alguma nova poesia floresça,
Trazendo novas pétalas de linguagem, novos sentidos para nós,
Invenções mais minhas ainda, quem sabe, mais nossas,
Só não nos deixe murchar em botão... Em botão, não!
Eu quero expor nossas emoções ao sol!