EdLua.Artes

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Blog mantido por Lua Rodrigues e por mim. Trata de Artes, Eventos Culturais, Filosofia, Política entre outros temas. (clique na imagem para conhecer o blog)

quarta-feira, 18 de maio de 2011

Pensamento de uma madrugada de trabalho.

"Quem quiser entender a mente de um escritor, deve entender que, para nós, amarelo-ouro não é amarelo-tempo nem amarelo-sorriso; que não é igual ao amarelo-areia, nem amarelo-alegre; mas, também, não é amarelo-milho ou amarelo-sol, muito menos amarelo-banana ou qualquer outra fruta que possa ser amarela. Amarelo-ouro é amerelo-ouro, diferente de dourado. Achou complcado? Que pena, o mundo nem é só amarelo. Tem branco, preto, azul, verde, vermelho, roxo (que não é nem lilás nem púrpura), laranja, marrom, e rosa (que pode, ou não, ser mistura de paixão e paz)... E isso está parecendo mente de pintor..."

Post dedicado a uma conversa com uma certa Srta. Rosa que escreve suas memórias no blog ao lado...

domingo, 15 de maio de 2011

Narração - Início 1

Boa tarde, gente!
Finalmente consegui começar o novo conto. Devo dizer que o ofício de escrever com alma, às vezes, exige semanas de intensa reflexão. O enredo eu tinha na mente há muito tempo, o problema era por onde começar. A forma interfere, sim, no conteúdo. Meu dilema: começo, meio ou fim, qual a melhor parte pra se começar a narrar um conto tão complexo e trincado na linha temporal? Muitos dirão que o começo é sempre o começo... Será? É antiga a ideia de se começar "in media res" (no meio da coisa, da ação) e, falando francamente, tirando os contos de fadas, quase todos os outros textos narrativos que já li começam a ser narrados do meio ou do fim da ação a que se propõem contar, por que isso dá a possibilidade do flashback nas memórias dos personagens; uma experiência deliciosa de se fazer. Essa é uma característica muito forte da literatura nacional, cujo o maior estopim deve ter sido com o Grande Mestre, o Bruxo das Letras, Machado de Assis em "Memórias Póstumas de Brás Cubas", onde o autor defunto começa a narrar sua vida a partir de sua morte. Clarisse Lispector também... Toda vez que me lembro do conto "Amor" a primeira cosa que me vem à mente é a cena de abertura, onde há uma mulher sentada num banco de bonde com uma rede tricô cheia de compras no colo, e embora a ação principal do conto se inicie ai, Clarisse nos leva para dentro da vida da personagem, para depois continuar a narração do fato principal. E para demonstrar a minha paixão por esse recurso, temos o meu querido "O Retorno de Saturno", onde, na verdade, há dois fatos sendo narrados. um é do momento de referência presente, que se passa na igreja matriz, e conta o reencontro, e outro no passado que conta como foi vida do personagem até aquele momento.

Quando o "in media res" não acontece, geralmente temos os chamados prólogos. Prólogos são a inversão do "in media res", por assim dizer. Trata-se de uma parte de duração variável, podendo ser uma frase num conto mais curto até um capítulo num romance, que conta algo que aconteceu antes do fato pricipal e que causa toda a história, permitindo ao escritor, uma linearidade temporal mais ampla, sem cortar os flashbacks. Aqui a narração começa pelo fato que a desencadeia, por isso é mais usado em gêneros ligados ao suspense clássico, aquele em que as ações, a descoberta ou não de um fato, interferem na resolução do mistério. Diferente, portanto, do suspense psicológico onde lembranças e pensamentos, ou a falta destes, são a causa e a resolução da trama narrativa,, o que explica que, neste gênero, o " in media res" e prólogo podem se combinar. O prólogo pode ser um flashback da ação principal ou outras inúmeras variações.

Há, também, narrativas que contam somente a ação principal, o que havia antes é por conta da suposição feita através dessa ação.

E há o estilo "Era uma vez..." onde se conta a ação por inteiro, do início ao fim, sem cortes temporais na narração...

Pois bem, pra que todo esse tutorial sobre início de narração? O post era só pa avisar sobre o novo conto, mas, já que as idéias foram vindo, eu fui escrevendo... E agora vou explicar porque foi tão difícil escolher que tipo de início usar e porque optei pelo "in media res".

Bom, além da preferência por este recurso, pela identificação e impacto, acho que o próprio estilo do conto exigia que fosse assim. É um conto psicológico, mas não tem clima de suspense, o estilo parece o "O Retorno de Saturno", porém o enredo é muito diferente. "O Retorno de Saturno" é mais um capítulo de um livro do que propriamente um conto isolado, por isso, tive que me preocupar apenas com uma visão, um foco, daquilo que estava sendo narrado, ou seja, o conto tem apenas uma história que vai se se desdobrando até atingir o presente. Em outras palavras, é uma versão de uma história, um ponto de vista sobre uma coisa determinada a partir da qual todos os outros personagens vão se desdobrar e ganhar versões próprias, futuramente será um romance de recortes.

Mas, sobre o novo conto, se eu abrisse com um prólogo, teria de ser a cena chave da trama. Clímax no começo pode até funcionar... Mas é melhor deixar para mais adiante. Até por que é um enredo complexo onde serão contadas, no mínimo, quatro coisas em tempos diferentes... O "in media res" valoriza os flashbacks que é o recurso a ser utilizado largamente em contos como esse,. descartando o começo pelo começo. Assim restava saber se começava do meio a cena que acaixa tudo ou do fim. Começando do final, eu ganho efeito de suspense e retiro a tensão e atenção da cena principal, que liga as coisas e ganho também espaço de correção narrativa... Resolvi, começo pela última cena!

Um abraço
Ed