O Oitavo Espectro da Saudade
Edgar Izarelli de Oliveira
Passar o dia desanimado não me seria tanto problema
Se, ao menos, eu conseguisse converter o tédio em ócio criativo,
Mas a saudade domina meus pensamentos até que eu canse da luta
E comece a lembrar de datas, dos horários, dos tons de voz, dos abraços, dos sonhos...
Na verdade, já faz algum tempo que sinto se aproximar de mim,
Pacificamente e sem me deixar saídas plausíveis ou reações cabíveis,
Essa sensação estranha que força um elo a mais para correntes, já separadas,
De coisas abstratas que ainda parecem fantasmas tomando formas vagamente visíveis
Só pra que eu não esqueça que o oitavo ciclo do inferno é o paraíso mais perfeito.
No começo, eu achei que era algo passageiro que, depois, foi parecendo desespero,
Mas hoje eu sei que é saudade pura, daquela que pulsa nas veias, nos músculos, nervos.
E quem diria que, depois de tanto tempo, me faria tanta falta esperar por alguém?
Quem diria que eu passaria horas criando pretextos inexistentes pra combater o medo
De telefonar só pra ouvir a voz da pessoa amada, como se isso fosse crime inafiançável?
Quem diria que o querer por querer um dia não bastaria pra pessoas que se gostam...
E seria preciso querer precisar pra poder reatar as linhas da comunicação possível?
E quem diria que eu repetiria, algum dia, a mesma pergunta sorrateira:
Só por que a relação acabou o amor, agora, é carta rasgada que ninguém nunca lerá?
É tão proibido assim mostrar afetividades sinceras a quem não nos integra mais?
Sei lá, mas essa saudade me induz a querer precisar querer estar por perto...
Só pra descobrir que o oitavo espectro da saudade é a própria saudade.