Receita para se fazer uma boa
poesia
Observe o mundo e o comportamento
das pessoas.
Aplique a eles as peculiaridades
do olhar dos artistas.
Acrescente inspiração a gosto.
Escolha os temas mais maduros,
ásperos e espinhosos
(Atenção: só utilize os que
realmente cativam a tua alma).
Abra-os e extraia toda a polpa de
sentimentos.
Fatie as cascas de palavras
banais do cotidiano
E despeje tudo em metáforas
ligadas na velocidade de quebrar gelo.
Bata quaisquer sentidos até que
fiquem homogêneos e claros como água,
Aí adicione as antíteses pra
disfarçar o odor inadequado das grandes verdades.
Então, tempere com o gosto
sarcástico das ironias que o povo gosta.
Apimente com algumas colheres
abarrotadas de loucura
(Pode-se usar tabletes de
neologismos, pó de vivências, essência de paradoxo...
Pitadinhas de angústia ou prazer
também dão um sabor especial).
Para tingir a transparência deste
prato, misture corante de linguagem
(Se encontram desde tons suaves a
cores bem chamativas, em qualquer mercadinho).
Suavize a gosto o peso da
mistura, com um pacote de sonoridades
(Não precisa ser do tipo
tradicional/rimada porque é mais difícil de achar,
Além do que, os pacotes modernos
são deliciosos e surpreendentes).
Se julgar necessário, adocique
com saches de eufemismo
(tem em várias versões: pasta,
líquido, pó, granulado, cristal, diet, light, integral)...
Para dar a liga, acrescente
quantas xícaras de farinha de arte lhe for conveniente.
Por fim, mexa MANUALMENTE (sempre
manualmente, isso é MUITO importante!)
Até atingir a consistência
desejada: líquida, gelatinosa, fofa, puxa, dura, pedra...
Despeja a massa no recipiente que
melhor lhe comportar, forma fixa, verso livre, prosa,
E leve ao freezer, geladeira,
fogo, forno, churrasqueira... Fica a teu critério!
Sirva como puder, mas fica melhor
numa interpretação dramática,
E delicie-se quando bem quiser!
(Este prato vai ficando cada vez
melhor e mais nutritivo com a prática constante).
Chef: Edgar Izarelli de Oliveira