EdLua.Artes

EdLua.Artes
Blog mantido por Lua Rodrigues e por mim. Trata de Artes, Eventos Culturais, Filosofia, Política entre outros temas. (clique na imagem para conhecer o blog)

sábado, 7 de janeiro de 2012

Gênesis - 6º Capítulo

Abri um sorriso ao perceber que ela tinha falhado. Eu não tinha demonstrado afetação nenhuma, nem sorriso nem lágrima, nada. Mas não pude qualificar como pertencente ao grupo de sinais neutros o fato de eu ter aberto os braços espontaneamente. Foi um gesto impensado com certeza, emocional, sim. Minha pergunta era “qual a emoção presente ali?”. Mas, de qualquer forma, o interesse dela estando decifrado, eu podia voltar a minha vida racional. Estava tudo no seu devido lugar; interesse por interesse, eu também poderia estudar até onde vai obstinação de uma pessoa que pensa ser regida pelas emoções. E se não tivesse conhecido essa mulher que agora olha pra mim, lá da pensão, com aquele olhar claro de confusão emocional duelando com a ausência completa de certezas racionais, procurando em mim a imagem do que é certo a se fazer... Eu ainda não entenderia nada de relações humanas.

“Marília, não me olhe assim... Você sabe que a razão é incapaz de tomar decisões que não dependem de valores a se ganhar ou se perder... Você sabe o que fazer...” Com certeza esse é o significado que tento transmitir com esse meu olhar atordoado, enquanto Marília me observa rodar as cartas inquietantemente nas mãos...

Espere! A Teoria do Exemplo. “Uma mente em caos pode buscar suporte ao observar atentamente uma situação similar”... É claro! E aqui ainda há muito mais em jogo! Eu represento o poder de decisão, porque, metaforicamente falando, minha presença induz a mente dela a enxergar em mim a sua própria parte masculina, posto que sou o homem que soube ouvir, entender e racionalizar todas as emoções controversas da parte feminina de sua mente. Já para mim, ela, a figura de Marília, representa a contraparte emocional, feminina, da minha personalidade e, como a escolha de ler ou não a carta de Felícia tem peso igual nos dois lados da balança da razão, eu estou esperando que as emoções tomem a iniciativa. Estou esperando que Marília toque a campainha, enquanto ela espera que eu abra a carta. Um esperando a ação do outro para a imitar, ciclo sem fim de inércia diante do espelho e nada acontece...

De repente, uma idéia arriscada está percorrendo a rede dos meus neurônios...

É arriscado porque, bom, teoricamente, é uma mentira. Marilia precisa ver que eu tenho a coragem de ler a carta da minha ex, pois, assim, ela terá força para tocar a campainha e perseguir a resposta que nós dois queremos. Pois bem, tudo que tenho a fazer é abrir o envelope, tirar dele a carta e desdobrá-la, mas eu não preciso ler... É certo que a resposta me interessa, mas não o faço só por isso; eu realmente quero ver Marília feliz. Estranho. E mesmo assim resta uma dúvida, se vai dar certo, é claro que vai. Mas será que resistirei à leitura? Sim, essa é a grande questão, porque minha defesa mental estava justamente em não abrir o envelope. Uma vez aberto por mim, não tem sentido não ler a carta e minha mente curiosa com certeza a leria.

Mas esta não me parece uma hora para refletir sobre isso... Marília precisa deste estímulo. Se eu pudesse, eu mesmo tocaria aquela campainha e teria esta conversa por ela, como ela já leu a tal carta por mim, mas uma carta não é uma conversa, apesar de ser uma conversa. Bom, Carlos, é isso, meu rapaz...

Eu abro a carta e finjo ler, enquanto observo, por cima do papel, Marília se virar e tocar a campainha, toda insegura de tudo e de si mesma. A campainha toca e eu sou carregado de volta ao ônibus... Onde, parado num ponto, um grito de mulher me despertou da leitura daquele livro antigo que tratava do tema da aula do professor Sérgio.

“Assim sendo, podemos ter padrões positivos de conduta que interferem de forma negativa numa relação, ou desvios de comportamento como base de manutenção. Podemos inclusive iniciar relações a partir de defeitos do outro que nos gerem emoções contraditórias, mas isso não significa, de forma nenhuma, que não somos capazes de perceber coisas boas no outro e reconhecê-las como partes importantes de consideração numa relação saudável e desprovida de inveja negativa. Na verdade...”

E, nessa parte, o ônibus parou num ponto. Eu sou diferente, não gosto de ler em veículos que não estejam em movimento. É o balanço que envolve minha mente e atenta para a leitura. Fechei o livro. Olhei para fora, lá estavam as flores violetas caindo. O homem que estava a meu lado desceu.
.........................................................................................................................................


quinta-feira, 5 de janeiro de 2012

Bom dia VII

Bom dia!

Desejo que hoje você permita que a lucidez provinda da tua parte mais divina e sábia, que está enclausurada num complexo emaranhado de paixões e compensações, quebre a rede pré-estabelecida de pensamentos confusos, choro com soluço, e possa iluminar, de um ângulo descomunal, o chão debaixo dos teus pés.

Afinal, é tão fina a linha entre o bem e o mal, a segurança e o tédio, o amor e o vazio, a alegria e o desespero, a felicidade e o destempero, que só de um ponto de vista estranho, inventado a partir da vivência do infinitivo, é que se torna possível enxergar a sombra rala que separa e distingue o choro de sofrimento do choro de prazer.

E, assim, tentando ser vela, estrela próxima, ou, então, a sombra que denuncia a presença de qualquer outra luz, eu quero reconstruir a tua maravilhosa e antiga capacidade, ainda existente, de peneirar e usar como lupa para fogueira do amor-próprio os pequenos prismas e os grandes momentos de sabedoria catados às margens do rio sujo que serpenteia através do vale comum das mentiras de outrem que invertemos em nossas verdades laminadas e cortantes pra nos ferir sem saber!

quarta-feira, 4 de janeiro de 2012

Gênesis - 5º Capítulo

Eu estava tomando consciência das emoções. Quando alguma coisa me incomoda, eu sempre procuro descobrir por que. Acho, inclusive, que foi por essa ânsia de descobrir o que se passa nos meus mais profundos locus mentais, que, depois de suplantada tanta dor emocional, eu resolvi fazer psicologia. Não, eu não queria ajudar os outros. Só queria me ajudar. Mergulhei fundo na minha pesquisa sobre as emoções, justamente pra tentar me esquecer delas, de como elas tinham me ajudado a dar passos largos e determinados, ainda que fossem tiros no escuro, ou promessas ao futuro. Me veio a menção de um riso ao semblante agora. Promessas, Carlos? Já não sabes mais nem o que é uma simples afirmação, vive de especulação. Tuas orações freqüentam o campo das teorias não-provadas, onde “talvez seja” e “se for” são as únicas constantes. Você já prometeu algo, Carlos? Me pergunto, ainda, como perguntei à tarde, quando percebi Letícia por perto.

Minha amiga deve ter percebido que eu estava em estado mental alterado, em alfa, e se reservou, em silêncio, a alguns passos longe de mim. Sinal de respeito? Talvez. Ou, vai ver, era assombro por ver que, nem em choque, minha mente parava de se sondar. Ela me olhava com tamanha intenção de chegar à porta da minha mente que conseguiu anunciar a sua presença.

- Talvez, Letícia, se você quiser falar comigo, seja melhor você se aproximar, é só um palpite.- disse eu sem parar de ler o livro que tinha em mãos ou de acariciar a carta.

- Como você sabe que sou eu?- perguntou se aproximando.

- Dois mais dois são quatro?- respondi em tom de lógica e a olhei nos olhos.- Puro raciocínio. Você estava preocupada comigo, deve achar que pode me ajudar depois de ter assistido a uma aula inteira sobre a minha mente. Além, é claro, de estar curiosa para saber o que aconteceu para que eu me transformasse nisso e estar assustada e chateada por eu ter deixado seu abraço na situação em que estava e, ainda mais, você é a única pessoa com quem converso. Os outros não viriam nem se eu morresse...

- Puxa!- disse ela impressionada sem perder a calma e caminhando para diante de mim.- Cada vez mais você me surpreende com essa capacidade de pensar em tudo e estar quase sempre certo.- sentou-se cruzando as pernas e deixando a mochila no chão.- Acertou quase tudo, Carlos, exceto que sei como funciona sua mente, até gostaria de saber...- fez uma pausa, olhando pra carta que havia no meu colo, depois continuou.- Mas acho que você também não se entende muito bem...

- Eu sei exatamente como minha mente funciona. Eu mesmo criei e controlo cada aspecto do meu pensamento.- disse eu sem falsidade.- Cada ponto forte, cada mecanismo de defesa, cada trauma, até a sombra eu sei onde está.

- Carlos, você não saiu dos meus braços porque estava com raiva ou porque precisava se mostrar independente e forte nem pelo choque da surpresa.- disse ela com absoluta certeza.- Você saiu porque essa é sua sombra, a parte oculta de você que, se evocada, te dará mais força que qualquer outra coisa no mundo. A sua sombra é a relação inter-pessoal, estou certa?

- Sim, está.- respondi com um riso sério nas faces e fechei o livro que estava lendo.- Continue.

- Você tem medo de usar isso a seu favor...- fez outra pausa para refletir e logo continuou.- Por que você já conhece a força que isso te dá...- ela me olhou espantada como se finalmente tivesse descoberto a vida em Marte.- Não! Você tem medo do preço a se pagar... É claro! Sua rede de pensamento é básica, afinal! Você prefere acreditar que as pessoas se relacionam por razões, por que a razão não forma vínculos, assim não te dá a força, mas te dá a estabilidade de não ter que sofrer rupturas!

- Interessante.- respondi sem hesitar.- Mas não faço isso por medo e, sim, por opção. Medo indica possibilidade de ocorrer algo errado, certo?- ela balançou afirmativamente a cabeça, embora seus olhos estivessem indecisos; prossegui.- Pois bem, e eu descobri que mesmo que todos de uma relação cumpram com o contrato pré-estabelecido para que aquela relação funcione adequadamente, a relação vai cair. Eu não tenho o interesse de começar algo que já sei que vai falhar...

- Carlos, e o que está atrás desse desinteresse?- perguntou ela numa voz meio irônica a qual respondi com um olhar frio e interessado.- Medo.-continuou.- Medo da dor da separação.

- E para que eu temeria algo que já superei tantas vezes?- perguntei frio e direto.

- Se lembra do que você me disse quando me conheceu e eu vivia triste e não sabia por que?- jogou ela e, ao ver minha expressão de surpresa, engrossou a voz para que se assemelhasse à minha.- Há coisas que cremos ter superado, mas, na verdade, permanecem como medos e angústias latentes em nós.

Eu vi aquela conversa se passando como filme diante dos meus olhos. Tinha sido há dois anos. Ela andava triste e eu me interessei pela tristeza dela, pois, estávamos estudando a primeira parte da psicologia clinica, e por que, de certo modo, eu era o único que percebia aquela angústia. Me aproximei dela para testar minhas habilidades e acabei descobrindo que o problema era uma frase forte de uma colega da terceira série. Ela achava que já havia superado, mas haviam resquícios claros daquela relação... Medo de estar fazendo escolhas que levavam ao fracasso. E, mesmo tendo tudo pra ser feliz, ela continuava presa... Eu parei e olhei pra esta carta, a de Felícia, que estava em minhas mãos. Resíduos físicos de que ainda não havia superado e nem sabia se queria superar, eu poderia viver minha vida inteira nesta esperança.

- Nossa, Letícia, professor Sérgio analisou tão profundamente assim a minha mente só com uma conversa tão curta?- eu creio que ri.- Muito bem, Letícia, agora você já conhece tudo da minha mente, pode me deixar. Eu sei que seu interesse era aprender a analisar o mundo como eu.

-Não, você acaba de errar duas vezes.- respondeu minha amiga muito séria, como há muito não a via.- Professor Sérgio, Carlos, não é assim tão baixo como pensas. Depois que você saiu, ele não falou mais de você; ele não tinha intenção nenhuma de usar sua mente como exemplo para uma sala faminta. Falou de uma terceira pessoa com tanta propriedade que todo mundo percebeu ser ele mesmo. Vê, Carlos? Ele passou também por essa fase racional, por isso ele te entende tão bem e quer te ajudar.- ela me entregou aquele livro que estava lendo no ônibus.- Até pediu para que eu te entregasse isso afirmando que ia te ajudar a entender o que ele explicava a respeito das emoções. Pegue. Quanto a mim...- continuou depois que eu já tinha pego o livro e estava tentando acompanhar os rumos inesperados da conversa.- Carlos, eu não te uso pra nada, quero ficar perto de você por que confio em você. Você me curou de coisas que nem sabia que eram doenças. Eu só quero poder retribuir e tirar você da defensiva antes que tantos muros pra não deixar que as emoções destrutivas entrem, te ceguem ainda mais para as boas emoções de quem te quer bem...- ela abriu os braços.- Vem! Se deixe abraçar pela amizade, Carlos!

Eu abri os braços e ela me abraçou bem forte, me fazendo prometer que eu ficaria bem. Senti pela primeira vez que tenho uma amiga mais leal... Depois ela teve de ir embora; até me ofereceu carona, mas eu recusei, queria ficar ali e reorganizar a bagunça da minha mente... Após algumas horas de reflexão, acabei deduzindo que o interesse dela era simplesmente me fazer acreditar que existe amizade para poder estudar a reação de alguém que volta a sentir a força de um abraço depois de anos racionalizando que não há força nenhuma em nenhum tipo de carinho e encarava carinho como distração para cérebro ou manipulação. Tinha sentido. É época de pensar no TCC e minha mente daria um prato cheio para qualquer bom aluno de psicologia que gostasse de discussões sobre bloqueios relacionados à área sócio/afetiva, justamente a área de interesse do professor Sérgio. Além do mais, interesse por retribuir o que fiz era interesse por se testar me usando de cobaia.

........................................................................................................................................

Continua... No dia 7/1/12 às 15:00

Por favor, comentem o que acharam do capitulo de hoje!

Abraços, Ed

domingo, 1 de janeiro de 2012

Gênesis - 4º Capítulo

Realmente, a solidão é um dos melhores remédios para um choque dessa densidade. Eu me lembro de ter atravessado o corredor a passos largos e decididos, embora os olhos mostrassem a minha alma claramente perdida. Aquele corredor vazio, somado às palavras do professor Sérgio, me trouxe lembranças de como a vida já havia sido mais feliz, mais fácil e mais falsa. Eu já não tinha como evitar, alguém finalmente havia descoberto meus “quartos secretos”. Eu estava mesmo fugindo das emoções de tanta dor que elas já tinham me causado. Segundas chances que nunca me foram dadas haviam transformado minha pessoa. Foram duas vezes e eu não queria a terceira por saber que não ia aguentar.

Quem disse que instinto e razão não se combinam?

No meu caso, o instinto de auto-preservação se aliou muito bem ao pensamento racional. Eu entrei num banheiro para deficientes físicos, tranquei a porta e me apoiei na barra da pia para me olhar no espelho. Comecei um curto monologo interior no qual eu avaliei a situação com calma, ver minhas lágrimas escorrendo me trouxe ainda mais lembranças fortes:

Meus melhores amigos, aqueles que eu considerava como irmãos, me acusaram de falsidade quando tentei proteger a nossa amizade da verdadeira pessoa falsa, ainda lutei para reatar os vínculos, mas eles não me deram nem sequer a chance de me explicar. Golpe duro, mas superei graças à Felícia, minha namorada, que, depois de seis meses ao meu lado, interpretou como traição um pedido de socorro, terminou comigo e, lembre bem, Carlos das emoções, como você se humilhou pra ela voltar com você, por que a vida sem ela já não tinha sentido nenhum. Ri um riso irônico. Ela me deu uma segunda chance? Não! Mas, mesmo assim, tentei de novo, expliquei de novo que minhas intenções eram justamente evitar a traição, pedi perdão um milhão de vezes pelas mais variadas razões que eu havia imaginado poder magoado ela. Adiantou? Nada! Tentei ainda uma terceira vez, já sem coragem nenhuma... A carta num envelope rosa me devolveu alguma esperança. Esperança que resolvi guardar viva e sempre perto de mim. Isso faz sete anos...

Minha mente ainda pondera se é melhor abrir logo a carta e matar ou viver de vez a esperança, ou se deixa-la fechada até o dia da minha morte, acreditando, sem acreditar, nas pessoas, é o melhor a se fazer. E, enquanto aceno para Marília, que chegou à porta da pensão faz pouco menos de um minuto, dando a ela a segurança de que eu estarei aqui até isso acabar, sinto o peso da carta de Felícia nas minhas mãos me relembrar que a racionalidade pode até me custar caro, mas me salvou a vida, através de um personagem de um romance. E me pergunto, ainda uma vez, por que Marília quer que eu leia essa carta?

E, ai, me lembro da cena pela qual estamos aqui, Marília dará uma segunda chance de uma segunda chance acontecer... Assim como eu, mas com uma diferença, ela tem a mim aqui. Eu estava sozinho, ninguém entendia o que eu estava fazendo, ou procurava me ajudar. Meus amigos, todo mundo me disse que não eram amigos de verdade. Felícia, todo mundo dizia que ela não merecia tanta loucura assim. E eu acabei esfriando, me tornei gelado e calculista. É estranho pensar que um abraço atrasado em sete anos, pode começar a mudar as coisas e preparar terreno para uma coisa maior e mais definitiva.

Letícia gosta de conversar comigo por que acha que interpreto o mundo de um jeito mais delicado, mais analista, com mais calma. É a única pessoa que tolera minha presença em seu espaço social, alias, é a única que me chama para junto de si. Devo agradecer a ela ainda esse fim de semana por isso. Só hoje percebi o quão sincera ela é. Eu achava que ela me queria por perto por interesse de aprender a utilizar o meu método de análise do mundo. Eu sempre achei que ela absorveria tudo que eu podia dar pra ela e depois me abandonaria no primeiro erro que eu cometesse; e eu já estava pronto para admitir que sair do abraço dela tinha sido um erro, logo, ela me deixaria.

Quem foi a única pessoa que me procurou pelo campus inteiro com um livro para mim, na mão, por que a mochila dela estava muito cheia? Letícia!

Letícia me encontrou debaixo de uma árvore, com um monte de livros abertos espalhados no chão, todos falavam de emoções, mas não sobre a perspectiva do movimento emocional dentro das relações humanas. E, embora eu não tivesse notado ainda, eu estava tentando achar a resposta que eu queria nas perguntinhas do professor Sérgio, caçando ela onde menos ela podia estar. Estava desesperado, sim, mas não a ponto de sacrificar o que me manteve vivo até hoje: a esperança.

Me lembro que segurava este envelope exatamente como seguro agora. Acaricio as dobraduras quase como se estivesse acariciando o rosto da minha ex-namorada. Era um apelo, naquela hora, como em tantas outras. Ao mesmo tempo em que me maltratava lembrando da dor que aquela separação me causou, me trazendo de volta a racionalidade; me fazia lembrar de quão bom era me permitir ter emoções ou, ainda melhor, me permitir vivê-las, e isso me mantinha num equilíbrio fraco que me permitia viver. Mas, agora, o carinho já é outra coisa que já nem sei o que é. Parece ser carinho puro, sem apelos ou lamentações.

Marília, na soleira da pensão, ainda hesita em tocar a capainha. Vejo ela estender forças para apertar o botão que chama a resposta e depois deixar o braço cair. Insegurança? Nem tanto. Eu conheço isso, mas não sei denominar. Assim como minha carta, toda a esperança dela, o sentido de sua vida, está nessa conversa. O que me faz lembrar da conversa que tive com Letícia. Minhas memórias... O que afinal querem me mostrar que eu ainda não tenha visto?

..................................................................................................................................

Continua... No dia 4/1/12 às 15:00

Por favor, comentem o que acharam do capitulo de hoje!

Abraços, Ed

E Feliz Ano Novo a todos!