Quando os motivos evaporam e tudo se condensa em pequenas
moléculas de raiva
E o mundo todo se confunde numa só névoa, formando uma
mescla de massas pesadas,
Quase que instintivamente
Procuro aquela palavra dura e certeira, em voz tranquila de
mulher madura,
Que me aterra na areia macia de alguma praia deserta.
Me dá solo e segurança, me aponta sentidos e me deixa
escolher sozinho
Para que desbrave meus próprios caminhos...
E quando tudo desaba em lágrimas trancafiadas em sorrisos de
uma luz amarelada,
Quase que religiosamente
Eu retorno ao olhar que consegue reconhecer, tão
detalhadamente, ao me vasculhar,
O peso de cada mentira.
E, num único abraço, retira, do fundo das minhas retinas,
Cada dano causado pelo maltrato de mãos ambiciosas em minhas
tênues estruturas,
Deixando em meu espírito a semente precisa pra qualquer
cura...
E quando ninguém mais tem a peça sobressalente que conserta
Essas histórias prosaicas mal-contadas tão orgulhosamente,
É você quem me traz os versos que constituem originalmente
O estilo que mais me expressa perfeitamente.
É surpreendente perceber como, quase que imediatamente,
Aparecem, todas as manhãs, aquelas suas fotos recentes
Parecendo querer me lembrar que essa presença insistente
Transpassa, sim, a fronteira dos meus sonhos dormentes
E vai além, sim, de meros desejos de adolescente,
Provando ser sentimento adulto que em meu coração se estende!
E, recobrada esta certeza, reencontro novamente minha alma
completa!
Edgar
Izarelli de Oliveira