EdLua.Artes

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Blog mantido por Lua Rodrigues e por mim. Trata de Artes, Eventos Culturais, Filosofia, Política entre outros temas. (clique na imagem para conhecer o blog)

segunda-feira, 16 de janeiro de 2012

Gênesis - 9º Capítulo

- Não!- ela me olhou nos olhos e deixou a bolsa cair no chão.- Isso já não vale nada! Toda essa vida foi roubada de mim e isso, tudo isso é apenas matéria morta.- os olhos dela se moveram de maneira estranha e conhecida ao reagir ao meu olhar já mais convidativo a uma conversa.- Carlos, né? Essa escritora nunca mais será a mesma, se é que ainda sobrará alguma mulher...- e ela voltou ao esconderijo de suas mãos.

Era depressão. Ela não valorizava nada mais do que possuía. Mais que isso, era crise existencial. Um daqueles momentos em que não ser nada parece melhor do que ser o que se foi ou o que se é. Eu não me lembrava mais o que é desvalorizar matéria por um ideal. Mas, meu nome, como ela sabia? Ela me conhecia, mas de onde? Eu não a reconheci imediatamente. Minha mente gastou algum tempo se sondando, tentando achar aquela mulher em algum lugar no tempo. Eu não me lembrava dela, mas também não me era uma pessoa tão estranha assim. Marília, agora as lembranças são claras como água e já não sei mais o que tudo isso significa.

Um homem de cabelo comprido e cavanhaque bem feito, vestido com um roupão branco abre a porta da pequena casa e, com um sorriso forçado e verdadeiro ao mesmo tempo, cumprimenta Marília com um beijo suave e distante na face, parecendo surpreso em vê-la. Ele lança um olhar desconfiado a mim, Marília o abraça bem forte e faz um carinho em seu rosto, ele fala alguma coisa e se solta rapidamente dos braços carinhosos daquela mulher, assim eles começam a conversar. Então esse é o Paulo...

Minha mente volta ao ônibus, à minha epifania. Escritora? Eu não conhecia nenhuma escritora exceto a autora daquele fantástico romance psicológico que iniciou a minha saída da depressão que perdurou por seis meses após Felícia ter me deixado. O livro mostrava um personagem puramente racional, um psicopata, que conseguia tudo o que queria. Hoje sei que na verdade ele não era psicopata já que, durante todo o romance, apesar de manipular muito bem todas as pessoas ao seu redor, não matou ninguém, mesmo quando isso era a melhor opção. Ele sempre dava um jeito de preservar a vida e afastar o antagonista, que era seu irmão, um sentimental que sempre botava a perder as conquistas da família por ter atitudes viciosas. Esse livro era assinado por Marília Buonicelli.

Eu havia comprado o livro junto com outros tantos que me chamaram a atenção numa bienal, um dia antes de conhecer Felícia e ela tomar pra si todos os momentos vagos ou não, da minha vida. Seis meses e três semanas depois, eu estava diante do dilema: o que fazer com tanto tempo livre? Me foi sugerido que fizesse o que queria fazer antes da minha namorada mudar tudo, mas eu não lembrava de quem era eu antes dela. Precisava de uma nova identidade e acabei assumindo como certa grande parte da personalidade do personagem criado por Marília. Demorou muito tempo até me parecer de verdade com o tal do Pietro, mas consegui.

No fim do outono daquele ano, a escritora esteve numa noite de autógrafos em minha cidade e eu estive lá para prestigiá-la. Sua obra havia me ensinado como não sofrer mais por males emocionais. Eu precisava agradecer a autora que, se não me falha a memória, não se parecia nem um pouco com aquela mulher ao meu lado no ônibus. É engraçado lembrar, mas conheci Marília na sacada daquele centro cultural, sem saber que era ela. Conversamos um pouco sobre a obra e ela pareceu espantada ao ver a minha interpretação, eu era tão novo e já tinha o coração quebrado em milhões de pedaços. Ela, depois de cinco minutos, pegou uma caneta e escreveu num marca-páginas do evento, o número do seu celular com seu nome ao lado, me disse pra ligar para ela dali a alguns anos e foi andando para dentro da multidão. Quando eu vi o nome dela pedi um autógrafo e ela me respondeu que quando me encontrasse de novo me daria o autógrafo. Fiquei olhando ela, uma mulher alguns poucos anos mais velha que eu, linda e talentosa. Não ia esperar alguns anos pra ligar, apesar de ter entendido que ela queria dizer para que eu amadurecesse um pouco mais as minhas idéias. Nessa época eu envelhecia mais rápido, a depressão me cobrava respostas e eu corria atrás delas. Posso ter sofrido muito, mas foi a época que mais cresci intelectualmente.

Uma semana depois liguei pra ela, tentei umas quarenta vezes querendo continuar a conversa sobre literatura, mas ela não atendeu. Talvez por isso eu tenha bloqueado a memória, eu ainda não era racional e isso tinha me machucado um pouco.

No ônibus, eu tinha apenas uma vaga lembrança; algo que parecia se assemelhar a uma vida que eu já havia perdido. Vida passada? Não podia ser. Eu apenas supunha ser Marília por que era a única escritora viva de quem tenho livros na estante. Mas precisava ter certeza que era ela que estava ali, chorando. De repente me lembrei de uma cena similar do livro que ela tinha escrito. Não se passava num ônibus, mas duas pessoas se encontravam depois de muito tempo. O encontro foi obra do acaso e, como a literatura permite certa fantasia, as duas começam a conversar sem se lembrarem uma da outra. Se não me engano, é a cena de abertura do livro.

- “Hey, como vai o coração?”- disse eu, com um tom de cantada, tentando encenar a primeira fala do livro com naturalidade e simpatia, mas estava tudo enferrujado dentro de mim.

Ela olhou pro lado com cara de espanto. Senti que ela estava pronta para me dizer algum palavrão e me dar um tapa, mas ela olhou bem no fundo dos meus olhos com aqueles olhos que começaram a se mexer e brilhar, sorriu e moveu os olhos para o canto superior esquerdo, tentando se lembrar de alguma coisa, depois olhou para minhas mãos.

- “Meu coração? Foi roubado pela realidade já há algum tempo.”- disse ela num tom de lamentação e, olhando vagamente para a porta do ônibus, voltou a chorar.

Era a frase que eu queria ouvir, a segunda fala do livro, que, tirando o choro, tinha sido encenada exatamente como eu a imaginava. Ela, a mulher do ônibus, era mesmo Marília Buonicelli, ou alguém que decorou o livro... Só podia ser a autora do livro que tanto me havia ajudado; por isso, minha mente sentia tanta necessidade de ajudá-la. Era retribuição. Eu não podia crer, e ainda acho que estou meio alucinado pela conversa com minha amiga esta tarde. Sete anos depois... Pena que ela estava assim tão triste. Ainda não era compaixão, mas era algo mais que humanidade. Eu precisava ajudar Marília. Tentei me lembrar da continuação do dialogo do livro.

- Está mesmo acontecendo isso?- murmurou ela, falando consigo mesma e se arranhando nos braços.- Nunca imaginei que um dia seria verdade. Um coração roubado...- ela riu com ironia.- Pra que viver sem coração? Eu perdi tudo... A última esperança me foi roubada por um mendigo, nada mais real...- suspirou, pegou a bolsa e tirou dela o estojo e o caderno, abriu o estojo devagar, pegou uma caneta, abriu o caderno na ultima folha e começou a escrever.- E a última página de uma vida tão feliz mostra palavras tristes, sem vida. A proteção falhou, a mentira acabou e isso talvez seja bom...- ela falava o que escrevia numa voz de choro.- Lágrimas rolam, e agora? Continuar viva? Tenho um apontador, mas o lápis finalmente acabou. A caneta sem tinta cospe ainda uma gota de sangue negro da minha vida. O próximo ponto será o final.- ela voltou a chorar desesperadamente.

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Continua... No dia 19/1/12 às 15:00

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Abraços, Ed

sexta-feira, 13 de janeiro de 2012

Gênesis - 8º Capítulo

- O ladrão era mendigo, eu acho; estava vestindo roupas velhas e rasgadas.- me contou o motorista.- Estava armado com um canivete que apontava para o peito da moça. Ela estava tirando um pequeno envelope de papel da bolsa que o mendigo tentava tomar dela. Foi ai que o rapaz apareceu atrás do mendigo e tomou a faca dele com um daqueles golpes de karatê, sabe... Só que, no susto, ela deixou a bolsa e o envelope caírem no chão, o rapaz conseguiu pegar a bolsa, mas o envelope o mendigo levou... Ela ficou desesperada, brigou com o rapaz, depois começou a chorar e a gente trouxe ela pra dentro.

Agradeci as informações e, quase imediatamente, comecei a processá-las, voltando a me sentar no meu lugar.

Para com isso! Não tinha heroísmo nenhum nas ações daquele rapaz. O mendigo devia estar morto de fome, roubando pra sobreviver, já que quase ninguém dá esmola hoje em dia. Uma faca? Se fosse um revolver ainda teria certa valentia, mesmo sendo covarde atacar pelas costas. E ainda desarmar com técnica de artes marciais? Posso ser leigo nesse assunto, mas não a ponto de não saber que desarme com as mãos nuas é técnica avançada. Entrar numa briga sabendo que vai ganhar é vaidade, não heroísmo. Eu pensei tudo isso naquela hora. Agora, revendo a situação, talvez o heróico seja saber usar o conhecimento para proteger um desconhecido e manter o controle sob pressão; mas ainda acho que a vaidade foi maior. Ainda mais sabendo o outro lado da história...

Eu quis levantar e mostrar a todos o que havia por trás da máscara daquele jovem, mas, quando olhei para a moça chorando ao meu lado, me pareceu muito mais lógico ajudar ela do que destruir um momento de vaidades inglórias.

Marília acaba de tocar a campainha da pequena casa mais uma vez, suas mãos ainda trêmulas me lembram a expressão de desespero que eu quis socorrer. Ela não parava de chorar. E, quanto mais ela chorava, mais eu queria poder amenizar a dor para poder conversar com ela, eu ainda não fazia idéia de quem era a mulher ao meu lado. Demorei alguns minutos pensando no que poderia acalmá-la sem invadir aquele choro sincero que eu estava abismado em ver. Era um choro puro... Desesperado, sim, mas de coração... Um choro que eu já tinha perdido e considerava extinto da humanidade e, talvez, por isso mesmo, me fazia crer em pequenas coisas antigas.

Me lembrei que Felícia sempre escondia as coisas o máximo que podia pra não me magoar, e eu brigava com ela quando percebia que ela estava triste comigo. Hoje sei que aquele era o jeito dela proteger algo que valia a pena, mas sempre achei um erro esconder as emoções, porque, na minha cabeça, situações que nos machucam tendem a se repetir se não fizermos o causador saber que nos fere. Ela escondeu nosso namoro dos pais, escondeu tristezas; queria viver de alegrias. E quem não quer? A idéia de que as coisas se completam eu nunca consegui explicar a ela, mas ela exigia sempre a minha sinceridade. Não me era problema algum ser verdadeiro, até o dia em que contei pra ela uma coisa séria que estava acontecendo... E ela decidiu terminar comigo.

Naquela época em que estávamos juntos, eu escrevia poesia e pintava alguns quadros, adorava tirar fotos e minha vida era a flauta mágica... Hoje a arte é parte do passado. Minha região lírica nunca voltou a funcionar como artística e tive que dar-lhe outra função, a da mentira.

Considerei mil maneiras de me aproximar de Marília no ônibus, de conhecer as razões daquelas lágrimas; mas nenhuma me pareceu boa e segura o bastante. Não queria piorar as coisas, o que, de certa maneira, bloqueava qualquer uma de minhas ações incisivas e persuasivas. Um abraço, um pergunta filosófica, um discurso sobre o medo de se viver numa cidade grande. Eu era um estranho e qualquer ato estranho de um estranho a faria se sentir mais assustada, mas qualquer pessoa seria estranha para ela naquele momento. Ela tinha sido assaltada por um estranho, supostamente salva, e sua reação provava que tinha sido condenada, por outro estranho; quer dizer, o que a faria imaginar que um terceiro desconhecido quisesse ajudá-la? Um gesto carinhoso e ela pensaria ser um tarado tentando se aproveitar de sua fraqueza. E se, por outro lado, o carinho a fizesse sorrir e ver que tinha alguém preocupado com ela, essa não era a minha intenção. Eu queria que ela falasse sobre o que estava sentindo, falasse sobre a dor e me contasse sua versão do assalto.

Peguei sua bolsa, estava aberta. Averigüei o interior, sem que ela percebesse. Celular; carteira; estojo; três livros-de-bolso; dois pen-drives; batom; espelho portátil; contas do serviço público; chaves de algumas portas e de um carro; brincos; uma pulseira; preservativos; pílulas anticoncepcionais e anti-gripais; lenços-de-papel molhados e uma caixa destes, provavelmente vazia; embalagens vazias de chocolate e um pequeno caderno. Estava tudo ali e eu misturei muitas dúvidas aos objetos. Me perguntava, sem parar, coisas que não faziam sentido: O que fora roubado de tão importante pra ela estar chorando assim? Se ela tem carro porque pegar ônibus? Chocolate, lenços molhados, pílulas anti-gripais... Está em TPM, gripada ou deprimida?

- Moça, sua bolsa.- disse eu lhe entregando o objeto.- Me perdoe, mas tomei a liberdade de verificar se faltava algo de valor.- ela pegou a bolsa balançando a cabeça baixa negativamente entre soluços.- Bem... Parece que está tudo ai e...- parei a frase em surpresa.
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Abraços, Ed

terça-feira, 10 de janeiro de 2012

Gênesis - 7º Capítulo

Passaram alguns segundos e ouvi alguns gritos de várias vozes misturadas, vi o motorista do ônibus descer e parar na frente da porta, bloqueando a passagem com seu corpo robusto; tirei os fones de ouvido e a noticia chegou lá de trás, vinda na voz de uma moça preocupada. “Meu Deus! Um assalto!”. Olhei em volta, o pavor da grande metrópole já tinha se espalhado no rosto da maioria... A mulher do fundo anunciou: “Cruzes! Aquele cara é louco... Está enfrentando o assaltante. Meu Senhor do Bom Fim, não quero ver!”. Não escutei mais nada dentro do ônibus durante algum momento de tensão, na certa todos tinham virado a cara para não ver a tragédia. As vozes lá de fora gritavam: “Cuide dela!”, “Deixe o ladrão ir!”, “Ele já está desarmado!”... De repente, a mulher do fundo exclama: “Meu Deus! Ele é um anjo! Um herói!”... E, de lá de fora, um grito de socorro cortou os aplausos do heroísmo, o grito foi desumano, mas deu para reconhecer que a voz era de uma mulher jovem “NÃO!!! Volta aqui com isso! Não tem valor nenhum para você!”, dizia ela, claramente se dirigindo ao ladrão. Escutei um tapa seguido deu um diálogo... Aterrador para a maioria...

- Por sua culpa eu perdi a coisa mais valiosa desse mundo!- disse a mulher chorando muito.- Eu tinha um trato com aquele bandido...

- Desculpa se aquele pedacinho de papel era mais importante que sua vida ou que a vida de todos aqui.- disse um homem calmamente.- E desculpa se arrisquei minha vida pra proteger pessoas estranhas.

- Obrigada...- disse a mulher após alguns soluços.

- Meu Pai do Céu!- gritou janela a fora a moça do fundo, completamente abismada.- Rogai por essas almas mal-agradecidas, Senhor!

- Rogai, Senhor.- falei comigo mesmo em tom de sarcasmo.- Rogai por essa alma precipitada.

Emoções colocam em primeiro lugar aquilo que mais interessa no momento, não o que é mais importante ou valioso a longo prazo. Isso funciona tanto para heróis quanto para loucos. Ora, revendo essa memória me parece que todo heroísmo é loucura, só que, por salvar alguém, é uma loucura digna de aplausos. Mas o engraçado é que emoções muito fortes sempre tentam salvar algo de valor, a sua própria existência, a existência de quem a sente, a existência de um outro ser, a existência de uma relação... Por que só o auto-sacrifício é ato heróico e, mesmo assim, só quando o sacrifício é coroado com a vitória? E eu me orgulhava de ser racional! Marília mesmo antes de entrar no ônibus já estava me trazendo tudo isso, que só agora consegui organizar em um pensamento aceitável...

Passaram alguns segundos e ela apareceu na porta do ônibus entre os dois homens. Acho que o motorista convenceu o restante do povo do ponto a não embarcar, mas devo considerar a hipótese de solidariedade espontânea em massa, apesar de mais difícil de crer, mas não impossível diante dos fatos. O motorista subiu acompanhado por uma jovem mulher de vestido de flores violetas e expressão desesperada; escondendo as faces nas mãos e chorando inconsolavelmente, certamente a vítima do assalto, que vinha meio que conduzida pelo homem que tinha acabado de deixar o transporte público. Ele a guiou até o banco de onde se levantara e a sentou ali, ao meu lado, e entregou a ela a bolsa que tinha nas mãos e, como ela o ignorasse, ele entregou a bolsa a mim. Ao menos era cavalheiro. Eu achei que ele fosse sentar e deixá-la em pé...

Ele, como não era surpresa nem a mim nem a ninguém, foi recebido com uma grande salva de palmas que o aclamava o grande herói daquela hora, todos os estranhos foram até ele e lhe deram os parabéns pelo ato de bravura, enquanto ele sorria e dizia que qualquer um em sua condição teria feito a mesma coisa. Somente duas pessoas não o aplaudiram: eu, que detesto hipocrisias de qualquer tipo e acho bem piores as sociais, e a mulher que eu ainda não tinha reconhecido, mas estava ali, chorando e soluçando ao meu lado. Eu parei para apenas observar. Ela estava chorando e ninguém notava, estavam todos preocupados em engrandecer o herói vencedor, mas à heroína que parecia ter perdido muito mais que um minuto de sanidade individualista por uma vida próxima, ninguém era capaz de dirigir uma palavra amiga. E pela primeira vez em anos, eu queria ajudar alguém sem pensar em receber algo em beneficio próprio. Não era compaixão ainda, mas era humanidade e, naquele instante, eu lembrei do abraço de Letícia.

Olhei para o homem. Ele era forte, porte atlético, cabelos curtos, pele morena. Observando bem atentamente, pude perceber algumas coisas fora do lugar. Suas roupas não aparentavam sinal algum de briga. Nenhuma mancha de sangue nem qualquer sujeira ou amassado que mostrasse que ele caiu no chão, nada. Tudo no devido lugar. Achei estranho, muito estranho.

Tão estranho que fiz uma coisa que geralmente não faria, perguntar o que tinha acontecido. A única questão era pra quem perguntar. A jovem mulher ainda estava em choque e rejeitaria qualquer aproximação, a mulher dos fundos iria engrandecer muito a façanha do herói e não contaria a parte importante com detalhes. Pensei em perguntar a ele, mas seria a pior da escolhas por que ai eu teria três hipóteses, no mínimo... Ou ele tinha realmente agido por coragem e, nesse caso, sua mente poderia ou não se lembrar das coisas como foram exatamente. Por outro lado, se ele não havia feito nada por bravura, poderia mentir e aumentar os detalhes para que se parecesse mais heróico, ou podia até dizer a verdade, mas, querendo defender seu momento de glória, seria arrogante, e ai eu teria que pegar outra versão; então fui direto à prova dos nove, o motorista. Levantei, abaixei o volume da música e fui falar com ele, quando o ônibus parou num semáforo.
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Abraços, Ed

sábado, 7 de janeiro de 2012

Gênesis - 6º Capítulo

Abri um sorriso ao perceber que ela tinha falhado. Eu não tinha demonstrado afetação nenhuma, nem sorriso nem lágrima, nada. Mas não pude qualificar como pertencente ao grupo de sinais neutros o fato de eu ter aberto os braços espontaneamente. Foi um gesto impensado com certeza, emocional, sim. Minha pergunta era “qual a emoção presente ali?”. Mas, de qualquer forma, o interesse dela estando decifrado, eu podia voltar a minha vida racional. Estava tudo no seu devido lugar; interesse por interesse, eu também poderia estudar até onde vai obstinação de uma pessoa que pensa ser regida pelas emoções. E se não tivesse conhecido essa mulher que agora olha pra mim, lá da pensão, com aquele olhar claro de confusão emocional duelando com a ausência completa de certezas racionais, procurando em mim a imagem do que é certo a se fazer... Eu ainda não entenderia nada de relações humanas.

“Marília, não me olhe assim... Você sabe que a razão é incapaz de tomar decisões que não dependem de valores a se ganhar ou se perder... Você sabe o que fazer...” Com certeza esse é o significado que tento transmitir com esse meu olhar atordoado, enquanto Marília me observa rodar as cartas inquietantemente nas mãos...

Espere! A Teoria do Exemplo. “Uma mente em caos pode buscar suporte ao observar atentamente uma situação similar”... É claro! E aqui ainda há muito mais em jogo! Eu represento o poder de decisão, porque, metaforicamente falando, minha presença induz a mente dela a enxergar em mim a sua própria parte masculina, posto que sou o homem que soube ouvir, entender e racionalizar todas as emoções controversas da parte feminina de sua mente. Já para mim, ela, a figura de Marília, representa a contraparte emocional, feminina, da minha personalidade e, como a escolha de ler ou não a carta de Felícia tem peso igual nos dois lados da balança da razão, eu estou esperando que as emoções tomem a iniciativa. Estou esperando que Marília toque a campainha, enquanto ela espera que eu abra a carta. Um esperando a ação do outro para a imitar, ciclo sem fim de inércia diante do espelho e nada acontece...

De repente, uma idéia arriscada está percorrendo a rede dos meus neurônios...

É arriscado porque, bom, teoricamente, é uma mentira. Marilia precisa ver que eu tenho a coragem de ler a carta da minha ex, pois, assim, ela terá força para tocar a campainha e perseguir a resposta que nós dois queremos. Pois bem, tudo que tenho a fazer é abrir o envelope, tirar dele a carta e desdobrá-la, mas eu não preciso ler... É certo que a resposta me interessa, mas não o faço só por isso; eu realmente quero ver Marília feliz. Estranho. E mesmo assim resta uma dúvida, se vai dar certo, é claro que vai. Mas será que resistirei à leitura? Sim, essa é a grande questão, porque minha defesa mental estava justamente em não abrir o envelope. Uma vez aberto por mim, não tem sentido não ler a carta e minha mente curiosa com certeza a leria.

Mas esta não me parece uma hora para refletir sobre isso... Marília precisa deste estímulo. Se eu pudesse, eu mesmo tocaria aquela campainha e teria esta conversa por ela, como ela já leu a tal carta por mim, mas uma carta não é uma conversa, apesar de ser uma conversa. Bom, Carlos, é isso, meu rapaz...

Eu abro a carta e finjo ler, enquanto observo, por cima do papel, Marília se virar e tocar a campainha, toda insegura de tudo e de si mesma. A campainha toca e eu sou carregado de volta ao ônibus... Onde, parado num ponto, um grito de mulher me despertou da leitura daquele livro antigo que tratava do tema da aula do professor Sérgio.

“Assim sendo, podemos ter padrões positivos de conduta que interferem de forma negativa numa relação, ou desvios de comportamento como base de manutenção. Podemos inclusive iniciar relações a partir de defeitos do outro que nos gerem emoções contraditórias, mas isso não significa, de forma nenhuma, que não somos capazes de perceber coisas boas no outro e reconhecê-las como partes importantes de consideração numa relação saudável e desprovida de inveja negativa. Na verdade...”

E, nessa parte, o ônibus parou num ponto. Eu sou diferente, não gosto de ler em veículos que não estejam em movimento. É o balanço que envolve minha mente e atenta para a leitura. Fechei o livro. Olhei para fora, lá estavam as flores violetas caindo. O homem que estava a meu lado desceu.
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quinta-feira, 5 de janeiro de 2012

Bom dia VII

Bom dia!

Desejo que hoje você permita que a lucidez provinda da tua parte mais divina e sábia, que está enclausurada num complexo emaranhado de paixões e compensações, quebre a rede pré-estabelecida de pensamentos confusos, choro com soluço, e possa iluminar, de um ângulo descomunal, o chão debaixo dos teus pés.

Afinal, é tão fina a linha entre o bem e o mal, a segurança e o tédio, o amor e o vazio, a alegria e o desespero, a felicidade e o destempero, que só de um ponto de vista estranho, inventado a partir da vivência do infinitivo, é que se torna possível enxergar a sombra rala que separa e distingue o choro de sofrimento do choro de prazer.

E, assim, tentando ser vela, estrela próxima, ou, então, a sombra que denuncia a presença de qualquer outra luz, eu quero reconstruir a tua maravilhosa e antiga capacidade, ainda existente, de peneirar e usar como lupa para fogueira do amor-próprio os pequenos prismas e os grandes momentos de sabedoria catados às margens do rio sujo que serpenteia através do vale comum das mentiras de outrem que invertemos em nossas verdades laminadas e cortantes pra nos ferir sem saber!

quarta-feira, 4 de janeiro de 2012

Gênesis - 5º Capítulo

Eu estava tomando consciência das emoções. Quando alguma coisa me incomoda, eu sempre procuro descobrir por que. Acho, inclusive, que foi por essa ânsia de descobrir o que se passa nos meus mais profundos locus mentais, que, depois de suplantada tanta dor emocional, eu resolvi fazer psicologia. Não, eu não queria ajudar os outros. Só queria me ajudar. Mergulhei fundo na minha pesquisa sobre as emoções, justamente pra tentar me esquecer delas, de como elas tinham me ajudado a dar passos largos e determinados, ainda que fossem tiros no escuro, ou promessas ao futuro. Me veio a menção de um riso ao semblante agora. Promessas, Carlos? Já não sabes mais nem o que é uma simples afirmação, vive de especulação. Tuas orações freqüentam o campo das teorias não-provadas, onde “talvez seja” e “se for” são as únicas constantes. Você já prometeu algo, Carlos? Me pergunto, ainda, como perguntei à tarde, quando percebi Letícia por perto.

Minha amiga deve ter percebido que eu estava em estado mental alterado, em alfa, e se reservou, em silêncio, a alguns passos longe de mim. Sinal de respeito? Talvez. Ou, vai ver, era assombro por ver que, nem em choque, minha mente parava de se sondar. Ela me olhava com tamanha intenção de chegar à porta da minha mente que conseguiu anunciar a sua presença.

- Talvez, Letícia, se você quiser falar comigo, seja melhor você se aproximar, é só um palpite.- disse eu sem parar de ler o livro que tinha em mãos ou de acariciar a carta.

- Como você sabe que sou eu?- perguntou se aproximando.

- Dois mais dois são quatro?- respondi em tom de lógica e a olhei nos olhos.- Puro raciocínio. Você estava preocupada comigo, deve achar que pode me ajudar depois de ter assistido a uma aula inteira sobre a minha mente. Além, é claro, de estar curiosa para saber o que aconteceu para que eu me transformasse nisso e estar assustada e chateada por eu ter deixado seu abraço na situação em que estava e, ainda mais, você é a única pessoa com quem converso. Os outros não viriam nem se eu morresse...

- Puxa!- disse ela impressionada sem perder a calma e caminhando para diante de mim.- Cada vez mais você me surpreende com essa capacidade de pensar em tudo e estar quase sempre certo.- sentou-se cruzando as pernas e deixando a mochila no chão.- Acertou quase tudo, Carlos, exceto que sei como funciona sua mente, até gostaria de saber...- fez uma pausa, olhando pra carta que havia no meu colo, depois continuou.- Mas acho que você também não se entende muito bem...

- Eu sei exatamente como minha mente funciona. Eu mesmo criei e controlo cada aspecto do meu pensamento.- disse eu sem falsidade.- Cada ponto forte, cada mecanismo de defesa, cada trauma, até a sombra eu sei onde está.

- Carlos, você não saiu dos meus braços porque estava com raiva ou porque precisava se mostrar independente e forte nem pelo choque da surpresa.- disse ela com absoluta certeza.- Você saiu porque essa é sua sombra, a parte oculta de você que, se evocada, te dará mais força que qualquer outra coisa no mundo. A sua sombra é a relação inter-pessoal, estou certa?

- Sim, está.- respondi com um riso sério nas faces e fechei o livro que estava lendo.- Continue.

- Você tem medo de usar isso a seu favor...- fez outra pausa para refletir e logo continuou.- Por que você já conhece a força que isso te dá...- ela me olhou espantada como se finalmente tivesse descoberto a vida em Marte.- Não! Você tem medo do preço a se pagar... É claro! Sua rede de pensamento é básica, afinal! Você prefere acreditar que as pessoas se relacionam por razões, por que a razão não forma vínculos, assim não te dá a força, mas te dá a estabilidade de não ter que sofrer rupturas!

- Interessante.- respondi sem hesitar.- Mas não faço isso por medo e, sim, por opção. Medo indica possibilidade de ocorrer algo errado, certo?- ela balançou afirmativamente a cabeça, embora seus olhos estivessem indecisos; prossegui.- Pois bem, e eu descobri que mesmo que todos de uma relação cumpram com o contrato pré-estabelecido para que aquela relação funcione adequadamente, a relação vai cair. Eu não tenho o interesse de começar algo que já sei que vai falhar...

- Carlos, e o que está atrás desse desinteresse?- perguntou ela numa voz meio irônica a qual respondi com um olhar frio e interessado.- Medo.-continuou.- Medo da dor da separação.

- E para que eu temeria algo que já superei tantas vezes?- perguntei frio e direto.

- Se lembra do que você me disse quando me conheceu e eu vivia triste e não sabia por que?- jogou ela e, ao ver minha expressão de surpresa, engrossou a voz para que se assemelhasse à minha.- Há coisas que cremos ter superado, mas, na verdade, permanecem como medos e angústias latentes em nós.

Eu vi aquela conversa se passando como filme diante dos meus olhos. Tinha sido há dois anos. Ela andava triste e eu me interessei pela tristeza dela, pois, estávamos estudando a primeira parte da psicologia clinica, e por que, de certo modo, eu era o único que percebia aquela angústia. Me aproximei dela para testar minhas habilidades e acabei descobrindo que o problema era uma frase forte de uma colega da terceira série. Ela achava que já havia superado, mas haviam resquícios claros daquela relação... Medo de estar fazendo escolhas que levavam ao fracasso. E, mesmo tendo tudo pra ser feliz, ela continuava presa... Eu parei e olhei pra esta carta, a de Felícia, que estava em minhas mãos. Resíduos físicos de que ainda não havia superado e nem sabia se queria superar, eu poderia viver minha vida inteira nesta esperança.

- Nossa, Letícia, professor Sérgio analisou tão profundamente assim a minha mente só com uma conversa tão curta?- eu creio que ri.- Muito bem, Letícia, agora você já conhece tudo da minha mente, pode me deixar. Eu sei que seu interesse era aprender a analisar o mundo como eu.

-Não, você acaba de errar duas vezes.- respondeu minha amiga muito séria, como há muito não a via.- Professor Sérgio, Carlos, não é assim tão baixo como pensas. Depois que você saiu, ele não falou mais de você; ele não tinha intenção nenhuma de usar sua mente como exemplo para uma sala faminta. Falou de uma terceira pessoa com tanta propriedade que todo mundo percebeu ser ele mesmo. Vê, Carlos? Ele passou também por essa fase racional, por isso ele te entende tão bem e quer te ajudar.- ela me entregou aquele livro que estava lendo no ônibus.- Até pediu para que eu te entregasse isso afirmando que ia te ajudar a entender o que ele explicava a respeito das emoções. Pegue. Quanto a mim...- continuou depois que eu já tinha pego o livro e estava tentando acompanhar os rumos inesperados da conversa.- Carlos, eu não te uso pra nada, quero ficar perto de você por que confio em você. Você me curou de coisas que nem sabia que eram doenças. Eu só quero poder retribuir e tirar você da defensiva antes que tantos muros pra não deixar que as emoções destrutivas entrem, te ceguem ainda mais para as boas emoções de quem te quer bem...- ela abriu os braços.- Vem! Se deixe abraçar pela amizade, Carlos!

Eu abri os braços e ela me abraçou bem forte, me fazendo prometer que eu ficaria bem. Senti pela primeira vez que tenho uma amiga mais leal... Depois ela teve de ir embora; até me ofereceu carona, mas eu recusei, queria ficar ali e reorganizar a bagunça da minha mente... Após algumas horas de reflexão, acabei deduzindo que o interesse dela era simplesmente me fazer acreditar que existe amizade para poder estudar a reação de alguém que volta a sentir a força de um abraço depois de anos racionalizando que não há força nenhuma em nenhum tipo de carinho e encarava carinho como distração para cérebro ou manipulação. Tinha sentido. É época de pensar no TCC e minha mente daria um prato cheio para qualquer bom aluno de psicologia que gostasse de discussões sobre bloqueios relacionados à área sócio/afetiva, justamente a área de interesse do professor Sérgio. Além do mais, interesse por retribuir o que fiz era interesse por se testar me usando de cobaia.

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Continua... No dia 7/1/12 às 15:00

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Abraços, Ed

domingo, 1 de janeiro de 2012

Gênesis - 4º Capítulo

Realmente, a solidão é um dos melhores remédios para um choque dessa densidade. Eu me lembro de ter atravessado o corredor a passos largos e decididos, embora os olhos mostrassem a minha alma claramente perdida. Aquele corredor vazio, somado às palavras do professor Sérgio, me trouxe lembranças de como a vida já havia sido mais feliz, mais fácil e mais falsa. Eu já não tinha como evitar, alguém finalmente havia descoberto meus “quartos secretos”. Eu estava mesmo fugindo das emoções de tanta dor que elas já tinham me causado. Segundas chances que nunca me foram dadas haviam transformado minha pessoa. Foram duas vezes e eu não queria a terceira por saber que não ia aguentar.

Quem disse que instinto e razão não se combinam?

No meu caso, o instinto de auto-preservação se aliou muito bem ao pensamento racional. Eu entrei num banheiro para deficientes físicos, tranquei a porta e me apoiei na barra da pia para me olhar no espelho. Comecei um curto monologo interior no qual eu avaliei a situação com calma, ver minhas lágrimas escorrendo me trouxe ainda mais lembranças fortes:

Meus melhores amigos, aqueles que eu considerava como irmãos, me acusaram de falsidade quando tentei proteger a nossa amizade da verdadeira pessoa falsa, ainda lutei para reatar os vínculos, mas eles não me deram nem sequer a chance de me explicar. Golpe duro, mas superei graças à Felícia, minha namorada, que, depois de seis meses ao meu lado, interpretou como traição um pedido de socorro, terminou comigo e, lembre bem, Carlos das emoções, como você se humilhou pra ela voltar com você, por que a vida sem ela já não tinha sentido nenhum. Ri um riso irônico. Ela me deu uma segunda chance? Não! Mas, mesmo assim, tentei de novo, expliquei de novo que minhas intenções eram justamente evitar a traição, pedi perdão um milhão de vezes pelas mais variadas razões que eu havia imaginado poder magoado ela. Adiantou? Nada! Tentei ainda uma terceira vez, já sem coragem nenhuma... A carta num envelope rosa me devolveu alguma esperança. Esperança que resolvi guardar viva e sempre perto de mim. Isso faz sete anos...

Minha mente ainda pondera se é melhor abrir logo a carta e matar ou viver de vez a esperança, ou se deixa-la fechada até o dia da minha morte, acreditando, sem acreditar, nas pessoas, é o melhor a se fazer. E, enquanto aceno para Marília, que chegou à porta da pensão faz pouco menos de um minuto, dando a ela a segurança de que eu estarei aqui até isso acabar, sinto o peso da carta de Felícia nas minhas mãos me relembrar que a racionalidade pode até me custar caro, mas me salvou a vida, através de um personagem de um romance. E me pergunto, ainda uma vez, por que Marília quer que eu leia essa carta?

E, ai, me lembro da cena pela qual estamos aqui, Marília dará uma segunda chance de uma segunda chance acontecer... Assim como eu, mas com uma diferença, ela tem a mim aqui. Eu estava sozinho, ninguém entendia o que eu estava fazendo, ou procurava me ajudar. Meus amigos, todo mundo me disse que não eram amigos de verdade. Felícia, todo mundo dizia que ela não merecia tanta loucura assim. E eu acabei esfriando, me tornei gelado e calculista. É estranho pensar que um abraço atrasado em sete anos, pode começar a mudar as coisas e preparar terreno para uma coisa maior e mais definitiva.

Letícia gosta de conversar comigo por que acha que interpreto o mundo de um jeito mais delicado, mais analista, com mais calma. É a única pessoa que tolera minha presença em seu espaço social, alias, é a única que me chama para junto de si. Devo agradecer a ela ainda esse fim de semana por isso. Só hoje percebi o quão sincera ela é. Eu achava que ela me queria por perto por interesse de aprender a utilizar o meu método de análise do mundo. Eu sempre achei que ela absorveria tudo que eu podia dar pra ela e depois me abandonaria no primeiro erro que eu cometesse; e eu já estava pronto para admitir que sair do abraço dela tinha sido um erro, logo, ela me deixaria.

Quem foi a única pessoa que me procurou pelo campus inteiro com um livro para mim, na mão, por que a mochila dela estava muito cheia? Letícia!

Letícia me encontrou debaixo de uma árvore, com um monte de livros abertos espalhados no chão, todos falavam de emoções, mas não sobre a perspectiva do movimento emocional dentro das relações humanas. E, embora eu não tivesse notado ainda, eu estava tentando achar a resposta que eu queria nas perguntinhas do professor Sérgio, caçando ela onde menos ela podia estar. Estava desesperado, sim, mas não a ponto de sacrificar o que me manteve vivo até hoje: a esperança.

Me lembro que segurava este envelope exatamente como seguro agora. Acaricio as dobraduras quase como se estivesse acariciando o rosto da minha ex-namorada. Era um apelo, naquela hora, como em tantas outras. Ao mesmo tempo em que me maltratava lembrando da dor que aquela separação me causou, me trazendo de volta a racionalidade; me fazia lembrar de quão bom era me permitir ter emoções ou, ainda melhor, me permitir vivê-las, e isso me mantinha num equilíbrio fraco que me permitia viver. Mas, agora, o carinho já é outra coisa que já nem sei o que é. Parece ser carinho puro, sem apelos ou lamentações.

Marília, na soleira da pensão, ainda hesita em tocar a capainha. Vejo ela estender forças para apertar o botão que chama a resposta e depois deixar o braço cair. Insegurança? Nem tanto. Eu conheço isso, mas não sei denominar. Assim como minha carta, toda a esperança dela, o sentido de sua vida, está nessa conversa. O que me faz lembrar da conversa que tive com Letícia. Minhas memórias... O que afinal querem me mostrar que eu ainda não tenha visto?

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Continua... No dia 4/1/12 às 15:00

Por favor, comentem o que acharam do capitulo de hoje!

Abraços, Ed

E Feliz Ano Novo a todos!

quarta-feira, 28 de dezembro de 2011

Gênesis - 3º Capítulo

“Relações humanas dependem de fatores básicos, fora, claro, as leis de espaço/tempo, sendo eles: o interesse, razão péla qual os indivíduos se aproximam para iniciar uma relação, ou mantê-la, e, sobretudo e primordialmente, a emoção que constitui o interesse. (...) O interesse nada mais é do que emoção que chegou ao estado de pensamento e está pronta a se expressar de maneira ordenada para que possa ser pesada pelo balanço racional de custo/beneficio, mas, fundamentalmente, ainda é emoção e, por isso mesmo, sujeito à instabilidade. (...) Uma vez que a relação entre indivíduos sofre qualquer impacto, podendo este ser de origem externa ou interna, positivo ou negativo, a emoção que gera o interesse é modificada, causando tensão, relaxamento, equilíbrio, ou desarmonia na balança racional, o que leva à manutenção ou ao corte da relação, dependendo do plano do interesse. Assim sendo, pod...”

Eu fechei o livro de capa dura e envelhecida que data de 1957. Meus pensamentos haviam parado no primeiro trecho do capítulo de introdução aos relacionamentos humanos e não conseguiam ir além. Simplesmente, não entendiam o interesse como emoção ascendida, pois, colocando dessa maneira, as emoções são as bases do pensamento racional. Não pude suportar essa idéia maluca. Olhei para o relógio de pulso de um rapaz que estava se segurando na barra de metal. Eram 17:45 de hoje, digo, ontem. Já são 2:00 da manhã e Marília ainda está pensativa, parou no meio do caminho e me procurou com o olhar ainda há pouco. Mas agora já está andando de novo...

Fechei os olhos para reanimar a mente, e instigá-la a ler para provar o contrario daquela teoria que me parecia perversa; aquilo me parecia teoria de poeta ou qualquer outra classe de artista, mas não de psicólogo renomado com pós-graduação em filosofia. Ouvi as meninas fofocando, os rapazes discutindo coisas da faculdade ou de futebol ou sobre as ordens erradas dos chefes, o motorista reclamando do trânsito, os motores passando ao lado, as rodas girando. Resolvi colocar o fone de ouvido de meu celular e ouvir uma música relaxante. Ah! Que tranquilidade...

Graças à minha estratégia de ficar na faculdade até tarde, pegar ônibus quando ainda estavam relativamente vazios havia virado hábito, e ganhava muito mais conhecimento também, pois, podia ficar conversando com os professores ou lendo um bom livro na sombra das árvores. Mas, certamente, a maior vantagem era o ônibus com lugar pra se sentar. Eu estava sentado e pude relaxar com a música e olhar pela janela as flores de ipê-roxo balançando ao vento e caindo na alameda sob a luz alaranjada do poente. Eu, alheio ao ambiente de stress do ônibus, só queria encontrar a resposta para a pergunta: “É possível dar uma segunda chance a uma mesma relação?”

Maldita pergunta daquele velho maluco, professor Sérgio, de psicologia inter-pessoal. Manhã de um dia de maio. Repliquei a explicação dele, afirmando categoricamente que o interesse racional é única razão para as pessoas ainda se relacionarem, dei exemplos usando a própria sala de aula: todo mundo ali se usava. O professor olhou no fundo dos meus olhos e me fez a pergunta fatal: “Você acredita mesmo nisso, senhor psicopata?”.

A classe riu. Eu queria responder que sim e me afirmar psicopata. Mas a resposta não veio, nem que sim nem que não. Meu lado humano ainda existia e ainda tinha força para lutar depois de anos de auto-opressão? Todos pararam de rir quando perceberam meu choque. Uma menina se aproximou e me abraçou por trás e falou ao meu ouvido:

- Carlos, ta rindo do que?

- Relações humanas, minha cara Letícia, podem causar esse tipo de choque mental/emocional...- explicava o professor quando eu interrompi.

- Sim.- eu disse entre gargalhadas.- Eu quero acreditar nas emoções, quero acreditar nas segundas chances, mas o mundo me fez racional à força...- fiz uma pausa de descanso.- Então, sim, acredito na racionalidade.- me soltando do abraço de minha amiga e recuperando minha seriedade.

- Coração partido?- disse o professor.- Entendo. Seu olhar sempre atento e frio é isolamento, defesa. Você tenta se defender das emoções e a melhor maneira de conseguir isso é sendo vigilante e intocável, não é?- ele me olhou com mais atenção.- Espere! Você não é racional, você ainda acredita nas pessoas, mas tenta racionalizar para evitar ter que pedir...- eu ia saindo da sala, enxugando algumas lágrimas sinceras.- Carlos, espere, fique!

- De repente parece que ganhei a sua estima, professor.- respondi num tom grosseiro.- Ta vendo como tudo é interesse...- olhei para ele com raiva.- O senhor só me quer aqui por que percebeu que sou o exemplo perfeito pra aula de hoje... Vai analisar minha mente num tipo de terapia grupal e depois se vangloriar por ter me curado. Mas essa é a minha cura, minha rede racional me impede de esperar grandes atos de bondade de pessoas medíocres...- lhe dei as costas e sai da sala percebendo que todos haviam se espantado. Do corredor ainda ouvi o professor me dizer que ele queria mesmo me ajudar e convencendo Letícia a me deixar um pouco sozinho.

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Continua... No dia 1/1/12 às 19:00

Por favor, comentem o que acharam do capitulo de hoje!

Abraços, Ed

domingo, 25 de dezembro de 2011

Gênesis - 2º Capítulo

Ela me beija. Um beijo rápido, no canto direito da minha boca, deixando um gostinho a mais de suspense. Agora sim, é oficial, não sei o que esperar dessa madrugada gelada! Minha mente que costuma ser questionadora, dessa vez me dá apenas uma resposta: ela não quis invadir o sentido estreito da outra carta, mas quis me dar o gosto de um beijo na boca... Por quê? Acho que tenho já duas partes da tríade nas mãos, as duas cartas. A terceira peça será a resposta que queremos.

Antes de partir para tocar a campainha da pensão, ela faz carinho no meu rosto. Um gesto de agradecimento. Eu repito o gesto, também devo muito do que sou agora a essa mulher. Em menos de oito horas, ela me transformou em outra pessoa.

- Carlos, obrigada por ter me trazido até aqui em sã consciência.- diz ela me olhando nos olhos.- Espero que eu saiba escolher o melhor e espero que você saiba escolher o caminho do seu coração.- ela deixa o braço cair e cruza as mãos à frente do corpo, mas o olhar continua fixo.- Se você não quiser, não precisa ficar e presenciar a cena final, pode ir embora, saberá onde me encontrar amanhã...

- Marília, eu não vou embora...- digo lutando contra todas as minhas inseguranças.- Prometi que ficaria com você até a resolução final e pretendo cumprir...

- Mas...- replica ela me olhando preocupada nos olhos.- Pode demorar...- ela ri do meu olhar e continua.- É, nada que eu diga vai te fazer me abandonar, né?- faço que sim com a cabeça e vejo a boca dela se mover sem voz me dizendo para ler as cartas.

E, com um sorriso amarelo nos lábios, ela se vira de costas para mim e vai andando devagar. De repente, uma dúvida me veio à mente...

- Marília!- chamo em voz baixa, ela para e se vira de novo pra mim com um olhar de “pode falar”.- Qual eu leio primeiro?

Ela ri um riso divertido, mas contemplativo. Riso filosófico, daqueles demorados e de som abafado.

- Penso que se eu disser “a minha” será uma atitude de fura-fila, e eu não sou fura-fila.- e, sorrindo, ela complementa num gesto de pura humanidade.- Quem sou eu para atropelar pessoas do seu passado? Sério, Carlos, não sou tão banal e frívola assim pra não respeitar a carta da Felícia, ainda mais sabendo o que ela escreveu. Leia a dela primeiro.- ela pisca o olho direito.- Claro, essa é só minha opinião. O juízo final será seu.- se vira e continua andando em direção a pensão, murmurando.- Coragem, Carlos! Coragem!

E lá vai Marília atrás da nossa resposta. Enquanto eu abro o zíper de um bolso frontal da minha mochila e pego o envelope cor-de-rosa já muito marcado por tantas dobras e amassados.

Deixo a mochila aos meus pés e me encosto ao poste numa atitude taciturna. Olho para as cartas e para o vestido longo que se distancia de mim tremulando ao vento de uma madrugada qualquer. Minha mente me abre dois caminhos de investigação diante dos fatos e matérias que se apresentam aos meus sentidos.

Uma análise lógica da última fala da minha acompanhante seria absolutamente inútil e fútil, não só por que não tem lógica ela estar afetivamente interessada em mim e, mesmo se estivesse, não faria sentido pedir para ler primeiro a carta da outra pessoa e depois insinuar para ler a dela; mas por que minha mente, pela primeira vez em anos, está desabilitada para trilhar o caminho lógico das coisas; restando, portanto, apenas o fluxo de lembranças que o tremular desse vestido branco, longo e estampado com borboletas e flores em tons diferentes de lilás e violeta, me traz e a inundação de sensações estranhas e bárbaras que me sobra do encontro com Marília. Esse vestido tremulando me lembra...

É estranho me render à corrente das lembranças emocionadas, parece que toda essa noite ainda está pulsando de alguma maneira. Parece que perdi a noção do tempo e passado remoto está lentamente se confundindo com o que acaba de acontecer e isso me assusta. Não, é pior que medo, pavor ou fobia... É incômodo, confuso, chega a doer, mas é alívio e prazer. Felicidade em perder o controle da mente, só eu mesmo! Rodo as cartas nas mãos enquanto observo, totalmente paralisado pelo gozo do momento, a ruptura de minha barreira lógica. A barreira sólida dos meus dias tremulando ao vento e eu rindo, feito criança! Que lindo!

Olho mais uma vez para o vestido de Marília... Ele me lembra... Me deixo levar agora e de uma só vez para dentro da história...

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Continua.... No dia 28/12/11 às 15:00


Por favor, comentem o que acharam do capítulo de hoje

Feliz Natal!!!!

quinta-feira, 22 de dezembro de 2011

Gênesis - 1º Capítulo


É... São quase duas da manhã e eu aqui, longe de casa, com frio, no meio da rua, a alguns metros de uma pensão barata num bairro famoso pelas republicas de alunos da faculdade próxima; prestes a assistir e, quem sabe, até interferir a uma cena cujo desfecho será, certamente, uma surpresa. Eu não tenho idéia do que acontecerá diante dos meus olhos, não sei nem mesmo se vou conseguir assistir calado, talvez eu seja mesmo impulsivo demais e parta mesmo em defesa de uma história que não é minha, talvez eu vire as costas para ela, por eu não aguentar ver, e vá embora sem olhar pra trás; ou talvez minha simples presença aqui já seja o suficiente para causar algo novo, inesperado, uma reviravolta! Talvez até já tenha interferido em demasia... Tudo o que conversamos pode ter mudado de maneira definitiva o curso dessa conversa, correnteza de sentimentos, dos gestos, das ações e reações de ambas as partes, mas eu não pude ser indiferente... Ela precisava de alguém e eu precisava de uma resposta... Inesperadamente, estou diante dela agora...

Quem disse que seria fácil achar uma resposta tão profunda?

Pode ser apenas impressão minha, mas ela já não é a mesma. Sinto, pela sua hesitação aqui ao meu lado, pelo ritmo lento de sua respiração, as mãos relaxadas, os olhos fechados e a cabeça baixa, que ela está tentando ser forte... Está tentando juntar palavras e sentidos no fundo da sua alma já tão consagrada nesse ramo. Sinto que nem ela, afinal, sabe o que esperar, mas está, ao menos, reflexiva. Já é um começo. Me lembro da expressão de desespero banhando seus olhos... Parecia loucura.

E lá vai ela agora, meio insegura, dando o primeiro passo ao portão da pequena casa, ainda de olhos fechados. Não me surpreende que esteja, assim, tão assustada. Até eu estou muito assustado; essa noite pode derrubar por terra toda uma vida construída do que restou de dor num coração, o MEU! Essa noite pode me provar que estou errado e, embora quase todos queiram privar-se de erros, a minha vida inteira eu sonhei em me desmentir, em me provar o contrário do que acredito, só assim voltarei a ter esperança nas pessoas. Estou com medo, estamos com medo e isso é perceptível. Mas agora já não tem mais volta, eu preciso dessa resposta tanto quanto ela.

Vejo ela abrir os olhos, dar alguns passos e voltar a cabeça para trás, procurando, na minha imagem iluminada pela luz de um poste, alguma segurança. Me vendo ali, de pé, encostado ao poste, com meus braços nus cruzados e olhando atentamente para ela, ela vira o corpo trêmulo devagar e deixa rolar mais uma lágrima numa expressão desatenta que eu conheço bem.

Meu deus, o que fazer agora? Quantas vezes eu já tinha lançado esse mesmo olhar morto a tantas incontáveis pessoas? Esse olhar que implorava um abraço apertado... Me lembro bem das vezes que meu mundo caiu ou estava para cair, quanta força um simples abraço podia me dar. Mas, aqui? É arriscado demais para ela mesma.

Eu hesito, ela percebe e vai virando de frente para a casa do destino e andando lentamente, como quem dá tempo a um artista de rua para que se exiba com calma antes de lhe dar a moedinha.

Um abraço pode salvar uma vida, pode salvar uma história como essa. Um abraço pode salvar essa mulher, pode transmitir a ela toda a segurança que ela precisa para continuar viva mesmo se a casa cair. Eu não ganhei esse abraço, as coisas pra mim sempre foram mais difíceis. Tive que aprender toda uma nova estrutura de vida, mais regrada e rígida. Tive que buscar sozinho os presentes que essa dor, essa mesma dor que ela está vivendo, me deu. Tive que montar novos sentidos de formas tão incertas que a lembrança faz escorrer uma lágrima de compaixão. Um abraço é tudo que ela precisa para não perder nada, nenhuma das belezas que ela possui; e eu jurei que nunca deixaria alguém passar pelo que passei, não se essa pessoa aceitasse a minha ajuda. Pois bem, ela está mais que aceitando a minha ajuda, está pedindo aquele abraço... Vai, Carlos, seja homem, rapaz! Tá na hora de cumprir com sua palavra!

- Marília, espera!- digo abrindo os braços e um sorriso leviano.- Vem cá! Sei que precisamos desse abraço.

Ela me olha. Um olhar desses que se perdem entre os laços formados num encontro, quando já não se sabe mais o que significam os sinais. Ela vem a passos largos e me abraça demoradamente, apertadamente, e encosta a cabeça no meu peito devagar, me relembrando minha infância e os toques das borboletas que pousavam em mim. Meu sorriso ganha ares de nostálgico e verdadeiro. Ela vai ficando alguns momentos nos meus braços, tão tranquila... Mas chega a hora inevitável. Ela se afasta devagar, como se quisesse evitar o choque da distância, põe a mão esquerda sobre o meu coração, aponta, com um meneio de cabeça, a minha mochila ao chão, depois tira da própria bolsa a carta que escreveu ao meu lado e me entrega aquele papel dobrado descortesmente.

- Carlos, é para você essa carta.- ela me diz com a voz firme e me olhando nos olhos.- Por favor, leia quando a cena acabar...- eu tento interromper, mas ela coloca o dedo indicador na frente dos meus lábios pressionando-os levemente e prossegue.- Eu sei o que você vai dizer. Apenas leia, eu te peço, leia. Não a guarde durante anos como fez a uma outra carta.- fazendo uma clara menção à carta que eu tinha mostrado a ela no ônibus.- Eu acho que você deve ler aquela carta também. Acho que surpreenderá e te devolverá a vida perdida...- ela adocica a voz para continuar.- Adorei essa noite. Deus me mandou um anjo quando eu mais precisava. Por favor, pegue a carta, Carlos.

Eu levo a mão, lentamente, mais inseguro, e pego a carta dos segredos daquela alma. Claramente surpreso por essa resolução. Essa carta não era pra mim, tenho certeza, e, de repente, ela chega às minhas mãos, entregue pela própria remetente, e acompanhada com palavras tão delicadas e bem escolhidas. Tudo, nessa noite de maio, parece ser surpresa! Espere, ela está aproximando o rosto do meu? Tento virar o rosto, me afastar depressa, mas minhas emoções, reativadas pelo curto tempo de convívio com essa mulher, querem ver até onde ela pode chegar, até onde ela pode me surpreender. Meu corpo entende e para o movimento inquietante da minha razão.

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Continua... No dia 25/12/11 às 8:00

Por favor, comentem, o que acharam deste primeiro capítulo...

Abraços, Ed

PS: Obrigado pela ajuda Hina-chan!

quarta-feira, 21 de dezembro de 2011

Agradecimentos...

Good Dawn, people!

Hoje eu acabei de corrigir o texto do “Gênesis” e estou separando as partes, está tudo pronto para estréia hoje!!!

Mas enquanto corrigia, eu senti uma vontade de compartilhar algumas coisas com vocês... Pra falar a verdade, esse texto ser parte da apresentação. Eu sei que esse blog não é mais um diário da minha vida pessoal há muito tempo, mesmo praticamente todas as poesias, contos e pensamentos aqui tornados públicos, embora tenham forte teor artístico, não deixam de ser uma expressão daquilo que eu sinto, penso e vivencio. “Gênesis” está longe de fugir disso. Assim como quase todos os outros textos prosaicos de minha autoria, este também metaforiza partes importantes da minha vida. Este trabalho talvez seja um dos mais importantes, pois, traz à tona todo um processo psico-emocional pelo qual passei. Muita gente que acompanha este blog vai conseguir “lincar” “As rosas do amor” e “Sonho de outono”, dois outros contos publicados aqui, através deste novo texto. Os mais atentos talvez consigam perceber ligações com textos mais antigos, como o já tão citado “O Retorno de Saturno”...

Bom, a questão é que todo esse processo psico-emocional que citei, foi uma depressão muito forte pela qual passei no começo deste ano e demorou muito tempo até eu começar a me recuperar. E, se hoje eu posso dizer que valeu a pena ter vivido esse ano, eu preciso agradecer a muitas pessoas.

Minha família que suportou aquele período de loucura tão bravamente. Realmente família é que segura a onda nas fases difíceis. Mãe, Pai, Vó, a nossa secretaria e meus primos, obrigado por tudo que vocês fizeram e desculpem pelo trabalho que eu dei...

Tive várias amigas que me ajudaram, amigas antigas que acompanharam essa história inteirinha, e sempre me ajudaram como podiam, com uma conversa, uma visita, enfim como podiam, Etel, Cris, Vê, Pa, Jessy(Capitu), Hina-chan, Lilly, Naiara (My Rose) e, principalmente, Mandy... Obrigado a todas vocês pelo carinho, atenção e tempo dedicado a mim quando eu mais precisei... Alias hoje é aniversário da Mandy... parabéns, minha querida amiga!!!

A todo grupo da aula de tango, dos saraus Tearte, CRJ Embu e do Itapoesia e os amigos queridos que fiz ou reencontrei de agosto pra cá graças ao Facebook, deixo meu sincero agradecimento, pois vocês movimentaram muito meus planos e minha vida... Mas, especialmente, Andréa e Viviane Neres, Ana Maura, Nana e Tamis Reis, Daiana Fonseca, Érica, Bárbara, Priscila e Jailma (minha fadinha), obrigado minhas queridas, vocês todas me estimulam tanto a crescer profissionalmente e como pessoa, não quero nunca perder o contato com vocês!!!

Mas... Tem alguém que me acompanhou o ano todo e fez de tudo pra me ajudar, Nataly... Eu tive a sorte ou o merecimento, sei lá, de ser encontrado rapidamente por alguém que realmente me entende, entende minha mente e sentimentos, minhas palavras gesos, e me faz bem. Ela soube, em todas as fases, o que dizer e o que fazer pra me ajudar a me restabelecer e ficar bem comigo mesmo e com o mundo. Ela me ajudou fazer as pazes com valores meus, me ajudou a alcançar uma nova fase poética, devolveu a mim a essência dos bons dias e está me ajudando a encontrar uma maturidade emocional e mental que nem sei descrever de tanto que combina com aquilo que eu sempre almejei alcançar. Enfim, o crescimento que tive e ainda estou tendo em todas as áreas da minha vida com ela ao meu lado é maior e melhor que todas as outras experiências que já tive até aqui...

Natty, dizer obrigado é pouco perto de tudo que você representa na minha vida!

Talvez, essa “novela” que escrevi e vou postar aqui tenha um significado muito maior pra nós dois, Natty, eu gostaria muito que você acompanhasse esse meu pressente que é especialmente dedicado a você! Eu estava te devendo isso desde maio... Eu acho que você vai gostar...

Eu acho que todos vão gostar...

Abraços a todos

Ed

segunda-feira, 19 de dezembro de 2011

Gênesis- Apresentação.

Boa noite, pessoas!

Hoje vou fazer uma breve apresentação do meu novo trabalho chamado “Gênesis”.

Acabo de terminar de escrever, vou passar uma correção, e, na quinta-feira, dia 22/12 , começarei a postá-lo em forma de capítulos aqui, somente aqui, como aconteceu com meu conto “O Retorno de Saturno”. Será o meu presente de Natal para vocês..

Primeiramente, quero avisar que possui temas adultos, portanto, não é aconselhável para menores de 16 anos, mas claro que é só um conselho...

Dito isto, deixem-me explicar porque não estou classificando este trabalho em nenhuma denominação literária. Ele começou a ser desenvolvido em Maio deste ano, com o cálculo de ser um conto de mais ou menos 20 páginas, mas eu não consegui chegar nem à metade da trama nesse espaço; acabei concluindo na 42ª página, tendo uma extensão que não condiz muito com a de um conto tradicional.

Um outro problema encontrado no enquadramento deste trabalho dentro de uma classificação conhecida é a questão dos núcleos narrativos. Para simplificar um pouco e manter minha política de literatura para todos, o núcleo narrativo é o que dá liga aos diversos “ingredientes”de um trabalho literário narrativo, que conta ou noticia uma historia ou fato. Em outras palavras, é “o quê”, no sentido de substantivo, “a coisa” que se está contando. Então, por exemplo, o lide, o primeiro parágrafo de uma notícia, aquela frase que fica embaixo do título, sempre apresenta o núcleo da noticia: “Fulano de tal anunciou ontem que vai se aposentar por invalidez.” Então o jornalista desenvolve o texto em cima disso. Em contos, geralmente, o núcleo fica nas entrelinhas, mas, para ser considerado conto, é necessário que se tenha apenas um núcleo. Sinceramente, eu não sei se tem apenas um núcleo, embora todo enredo do trabalho se passe em apenas uma hora. Bom, fica a discussão para os literatos de plantão. Quem descobrir em que categoria se encaixa esse trabalho, me diga!

Bom, talvez o título chame atenção nessa época do ano, com o Natal logo ali, mas não se trata de um trabalho natalino e, além do título, pouco se aproxima de temas religiosos, embora debata muito diversos valores humanos e sociais; ou, melhor colocando, para mim não tem muitas referências bíblicas. Não pretendo, com está apresentação, trancar nenhuma interpretação possível. Gênesis foi o melhor título que consegui, pois, além de fazer esse link com o religioso, ainda fica bem sugestivo como título, portanto, vou deixar esse mistério para o prazer de vocês.

Como já disse, é um projeto iniciado em Maio, por isso talvez dialogue com as poesias e textos postados naquela época em que estava discutindo comunicação humana. Esse trabalho traz duas personagens centrais, Marília Buonicelli e Carlos Magno Vieira, Ambos nomes inventados que não fazem referência a ninguém. Os outros personagens com nome, não tem sobrenome e, embora o “professor Sergio” tenha tido alguma inspiração inconsciente nos meus professores de biologia e tango que eu só percebi depois, eu não procurei inspiração em ninguém com esses nomes conscientemente.

No mais, esse meu novo trabalho é narrado em 1ª pessoa participativa, o personagem fala sobre algo que aconteceu, está acontecendo ou acontecerá consigo mesmo e com aqueles que estão ao redor, como já é característica minha, e apresenta vários conflitos de diferentes ordens, psicológica, temporal, social, linguagem e etc. que são discutidos na trama. E onde procuro apresentar características de uma doença muito grave pela qual passei. A depressão. Muita gente não sabe, mas depressão tem níveis.

É um texto complexo que deve ser apreciado, saboreado, por isso e, logicamente, pela grande extensão, será postado aos poucos. Creio que em 21 capítulos. Pretendo postar uma parte a cada três dias. e abrirei um marcador só para ele no menu de marcadores, assi fica mais fácil de achar !


Também avisarei via Facebook, orkut e msn, sempre que postar uma parte.


Estréia dia 22/12!

Feliz natal!

Ed.

quarta-feira, 14 de dezembro de 2011

Uma poesia matutina...

Contestação

Edgar Izarelli de Oliveira


Talvez até eu esteja um pouco surpreso enquanto assino essa contestação.

Meu coração já teve muito mais a dizer, muito mais coisas a gritar...

Me lembro que duas folhas, às vezes, era pouco, era menos que o necessário,

E bem menos que o espaço exigido para se escrever uma boa poesia, rica em sentido,

Que fosse capaz de acalentar as dores, debater as contradições, cortejar as damas,

E, ainda, satisfazer a fome de arte e carinho que eu tanto sentia dentro e fora de mim...

Hoje, algumas poucas linhas já me bastam para os versos serem cunhados com cuidado,

Onze ou doze e já é bom tamanho, desde que sejam intensas o suficiente pra me lembrar

Que o amor já abriu meus olhos à luz, silenciou as carências e suavizou os excessos

E me provou que eu estou vivo e é pra viver, não pra lamentar

A pena de ter aprendido tudo o que sei pela força bruta dos dias.

Se isso é sabedoria, arte, delírio, liberdade, ou apenas vazio, eu já nem sei mais definir!

sábado, 10 de dezembro de 2011

Blog novo! Sarau Tearte!

Boa tarde, gente!! Escrevo para informar-lhes de que o Sarau do qual faço parte, o Sarau Tearte,, que acontece regularmente no segundo sábado do mês a partir das 20:00 horas, no Tapera Bar, e que hoje, se não me engano, completa sua 14ª edição (informação a ser confirmada) , está ganhando um Blog mantido pelas pessoas que fazem o movimento acontecer. Idéia de Daiana Fonseca. Para quem quiser conhecer um pouco do nosso sarau o blog é: http://sarautearte.blogspot.com
Visitem e conheçam o trabalho de mais poetas .

E, gente, não tem como não falar isso. Hoje é aniversário de uma pessoa que eu sei que eu sempre vou poder contar, apesar de todas as desavensas e diferenças de pensamento comum e até necessária, creio eu, nesse tipo de relação. Senhor Eliseu da Costa, Pai, Parabéns!!