EdLua.Artes

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Blog mantido por Lua Rodrigues e por mim. Trata de Artes, Eventos Culturais, Filosofia, Política entre outros temas. (clique na imagem para conhecer o blog)

sexta-feira, 22 de julho de 2011

Engaiolado -poesia nova

Engaiolado




Edgar Izarelli de Oliveira







Hoje, caminhando uma caminhada reflexiva,




Me deparei com as grades azuis de uma creche...




E, sem que me desse conta, me agarrei a elas procurando o melhor ângulo.




Algo lá dentro me chamou e eu encostei o rosto,




Olhando nos quadradinhos regulares da grade. Do outro lado:




Crianças brincavam no gira-gira, corriam, gritavam, caiam, apostavam corrida em triciclos.




Alguns minutos se passaram e eu parecia um amante dos pássaros.




Observava as criaturinhas engaioladas com um olhar de pena e a expressão serena,




Mas as criaturinhas continuaram a brincar sem nem notar a minha existência e persistência...




De repente meu olhar ganha desejo e perde penas e pernas.




E ai, eu já não sei se a inocência prende ou liberta,




Mas eu é que pareço prisioneiro das desilusões do mundo,




Olhando passarinhos voarem despreocupados no céu nublado de um dia qualquer.

quarta-feira, 20 de julho de 2011

Mais um pensamento (diante de uma descoberta)

A vida é uma imensa ironia muito bem construida sobre a teia má das interpretações errantes. Uma mesma frase pode causar riso, choro, desconfiança ou raiva, mas sempre acaba com sugestivas reticências, chaves de portas amplas...

sábado, 9 de julho de 2011

Conto de Fadas?

As Rosas do Amor
Edgar Izarelli de Oliveira

Eu ouvi, uma vez, essa história antiga e quero repassar suas mensagens secretas a todos que se perguntam, assim como eu: afinal, o que significa o amor? Loucura ou devoção?

Há muito tempo atrás, numa época, mais nobre, em que cultivar flores era considerado arte maior, pois que havia tamanho carinho pela vida e suas belezas que era impossível considerar belo algo que não pudesse ser apreciado com todos os sentidos, havia também um homem capaz de cultivar qualquer flor, um nobre jardineiro (nobre mesmo, de brasão folhado a ouro fechando a capa e tudo) capaz de não só cultivar, mas também criar novas variedades de plantas cada vez mais maravilhosas. Era mesmo um magnífico trabalho.

Esse jardineiro morava num pequeno castelo, nos campos próximos a uma grande floresta que todos achavam ser lar de uma das mais terríveis bruxas do mundo, um lugar quase deserto, mas só ali encontrave-se a terra fértil de que precisava, por isso não era de se estranhar que fosse um tanto quanto recluso e solitário. Os poucos amigos que freqüentemente se maravilhavam com as flores eram camponeses e mercadores. De vez em quando, algum nobre da corte real, de passagem por aquela cercania, via de longe o castelinho e vinha ver a quem pertencia. Estes últimos sempre lhe diziam para expor suas obras de arte para a nova realeza, afirmando que lhe seria consagrado o posto de Jardineiro Real, mas ele sempre ignorava; dizia que as terras da corte não davam flores bonitas e ficava ali, dia-a-dia dedicado a suas flores.

Eis que um dia, ao acordar de manhã e sair ao jardim, encantou-se ao ver uma mulher admirando suas obras de arte com a delicadeza campestre de que tanto gostava, as roupas mostravam que ela tinha certa posse material, mas era simples de coração. O único detalhe que a tornava desagradável aos olhos dele, era o que certamente movia muitos olhos cobiçosos para ela, o atestado de sua perfeição. Além da beleza sutil, da simplicidade, das boas roupas, havia o brasão da Família Real em ouro maciço entre seus seios. Era uma princesa que, de tanto ouvir rumores sobre um floricultor fantástico em seu reino, fora averiguar com seus próprios olhos e, agora maravilhada pela beleza e saúde das flores, pedir para que ele lhe desse uma flor.

O jardineiro, calado, ia pegar uma rosa vermelha, mas a princesa o impediu, alegando que rosas ela já conhecia todas. Ela queria algo feito só para ela e queria acompanhar a criação. O jardineiro, apontando para um canteiro de plantas sem flores, disse que aquelas eram as melhores flores que ele já tinha feito para uma nobre antes. Infelizmente só abriam de sete em sete anos, durante um único dia do início do outono e só crescia ali na cercania, por isso tinha se mudado da corte e perdido sua dama nobre para um cavaleiro sanguinário que estava mais presente.

Mostrando um outro canteiro, onde se viam flores murchas, ele explicou que havia amado mais uma vez; uma garota do campo que adorava lírios, e ali estavam os lírios tristes da morte súbita por envenenamento que a levou no dia em que iam se casar. Os lírios floresceram durante a primavera tão felizes, mas, com as primeiras chuvas de verão, eles murchavam e ficavam tristes e vazios.

Depois que ela viu o resto do jardim, todo florido e cheio de vida, se lembrou que já era final do outono; perguntou ao jardineiro pra quem eram todas essas flores que ainda estavam abertas, ao que ele respondeu “para as virtudes e emoções de um homem sofrido”, ela entendeu. As flores eram a companhia feminina dele. E soube que seria impossível ganhar uma flor a troco de riqueza ou poder, o que ele queria e precisava era uma mulher. Mas já não fazia diferença por que ela, conforme contou a ele, também já tinha sofrido muito por amor e só queria um homem que não a quisesse por dinheiro e poder, mas, sim, por ela mesma.

E fizeram um trato. Se ela provasse que era digna de uma flor, ele faria tudo pra conseguir uma que abrisse todos os dias durante todo o ano e fosse tão linda quanto ela. E se ele conseguisse essa flor, os dois se casariam.

A princesa decidiu ficar ali já que ele precisava daquela terra para cultivar suas flores. Durante todo o inverno, os dois cuidaram juntos pra que as plantas não morressem de frio. Com os primeiros raios de sol da primavera, veio a ele a idéia da flor que faria sua princesa suspirar de amores. Seria uma trepadeira de pétalas macias que exalassem um perfume não muito forte, de coloração branca com manchas rosas bem quentes, em forma de rosa.

Com a ajuda da princesa e da engenharia botânica foi fácil conseguir a tal semente e plantá-la no jardim. A planta criou raízes, cresceu, ganhou folhas e botões, mas durante um ano as flores não abriram. O inverno chegou de novo e aquela planta foi protegida do frio com mais cuidado e atenção que todas as outras. Na primavera, algumas flores estavam fracas e doentes, assim como alguns aspectos da relação de casal. O jardineiro então, concertou o erro, começou a cuidar de todas as plantas igualmente, e pediu para que a princesa ficasse mais um ano com ele. Certamente a florzinha se abriria. Vendo aquele jardim ficando bonito e vivo novamente, ela decidiu ficar, mas não sem antes refletir alguns dias.

Mais um ano se passou e a tal flor não abriu apesar da planta estar cada vez mais bonita e forte, cobrindo todo o muro do jardim com botõezinhos brancos. Era tão bonito que a princesa decidiu que não precisava da flor pra se casar com um homem que a fazia tão feliz, mesmo numa vida campestre que ela nunca sonhara ter.

Se casaram e foram muito felizes durante um certo tempo, depois todo o amor que ele dedicava ao jardim foi deixando a princesa enciumada e nostálgica de homens que lhe davam toda a atenção sempre e sempre. O jardim já não tinha mais tanto encanto. Um dia, logo ao despertar, eles brigaram e, num ataque de raiva, ele se armou de uma tesoura de jardinagem e saiu ao jardim com a intenção de cortar a planta que havia feito para ela. O dia estava raiando e, ao ver o jardim brilhando de orvalho que parecia chorar daquela intenção mesquinha, ele parou pra respirar e observar toda a beleza daquela manhã de tormenta.

O jardineiro reparou que haviam pequenos insetos dourados voando, aos pares e freneticamente, ao redor de todas as flores ainda fechadas. Achou muito estranho nunca ter visto aqueles insetos e se aproximou para ver melhor. Não eram insetos. Eram pequenos serezinhos semelhantes a anjos de orelhas pontudas que espalhavam um pó colorido nas plantas que começavam a abrir. Como faziam também as fadas e os elfos na floresta próxima a mando de um grande mago bondoso. Era o pó da fertilidade que dava tanta vida à terra.

O jardineiro impressionado, percebeu que depois de cumprirem sua missão, os pequenos anjinhos iam para a floresta. Seriam fadas? Só então olhou para a trepadeira de seu amor. Havia uma daquelas criaturinhas, já sonolenta, fechando as rosas em botão para que estas dormissem. O jardineiro olhou aquilo com muita atenção. Quando o sol saiu totalmente detrás das montanhas, a última rosa se tornou um botão e o resto do jardim floresceu. Era o primeiro dia primaveril, totalmente aberto e receptivo ao amor.

O jardineiro largou toda a maldade do corte brusco de rosas tão lindas e, naquela noite, teve todo o trabalho de manter sua princesa acordada, ainda que ela estivesse de cara fechada e inóspita ao seu abraço mais amoroso, só para presenteá-la com as rosas do sentimento, finalmente abertas, e uma frase sábia e romântica:

“Hoje eu percebi que nosso amor, exatamente como as rosas que o demonstram, só pode ser apreciado em seu máximo esplendor quando todas as outras virtudes estão dormindo. Fica muito mais visível e bonito assim, do contrário seria só mais uma flor no meio do jardim. Quer se casar comigo, minha princesa?”

E, como terminam os contos de fadas, cheios de metáforas e portas escondidas... Afinal. eles foram felizes para sempre, apesar de, às vezes, brigarem e terem que ficar um pouco longe um do outro! Acontece... Vai se fazer o que? É impossível evitar o inverno, mas é possível cuidar do jardim. E nós, seremos felizes?

domingo, 26 de junho de 2011

Poesia, apenas...

Choro de Adulto

Edgar Izarelli de Oliveira


Sou poeta.

Choro por tudo.

Cada poesia minha

É choro, é lágrima,

Fluxo inacabável de emoções

Escorrendo devagar

Até tomar forma de versos.


Sou mesmo sentimental...

Sinto tudo profundamente, logo existo.

Eu me orgulho de saber chorar,

Já que admito minha humildade humana,

Minha condição frágil e inconstante,

Minha participação na vida:

Tudo é choro ou, ao menos, deveria ser...


Não choro somente a tristeza,

Lágrimas tristes não têm a minha exclusividade,

Embora sejam as mais frequentes nessa época doída e doida.

Choro o medo, a angústia, a esperança, a gratidão, o carinho, a decepção, o recomeço,

A vitória, a derrota, o impasse, a chegada, a sorte, a despedida, o azar, o riso da ironia,

O desespero, a insegurança da mudança, a doença e sua cura, a dor, a noite, o dia,

A culpa do erro, a responsabilidade da sinceridade, a solidão, a perda, a conquista,

O tempo que não passa, o tempo que passa rápido, o segundo, a eternidade,

E o milagre da reviravolta que ainda pode acontecer com uma colher de fé a mais.

E quem nunca chorou de felicidade, de saudades ou de amor?


Dizem que homem não chora, que vergonha!

Homem que chora é adulto que assume suas emoções.

Homem que não sabe chorar é mentiroso que só fala que sente,

Mas, no fundo, não sente coisa nenhuma;

Ou é criança, medrosa, que ainda não está pronta pra viver.

Por isso, eu assumo todas as minhas lágrimas,

Até as que não têm razão ou sentido.


Mas há, na vida, acontecimentos que roubam, de nós, a correnteza...

Roubam lágrimas, sentimentos e choros inteiros.

Talvez, hoje, eu saiba que envelhecer

Exige que se faça de concreto firme e fraco

O homem que escorria feito mar em fúria que esculpia montanhas,

Versos leves em situações duras.


Certos choros, os mais bonitos, já sei que não escorrerão mais de meus olhos,

Certas poesias já se calcificaram dentro de mim e não mais chegarão ao papel.

Já endureci muito, mas espero que eu ainda seja um cristal sobre algum altar místico,

Não quero ser concreto quebrado de calçada pisada com força e impiedade.

Quero preservar ainda algo de líquido, nem que seja só a beleza aparente das águas,

Se eu ainda posso chorar de coisas belas, por que me prender a ser de pedra?

Quero voltar a ser poeta e, acima de tudo, chorar com a propriedade de adulto.

domingo, 12 de junho de 2011

Feliz Dia dos Namorados!

Good dawn, peoples! Vocês não acharam que um poeta romântico deixaria de homenagear essa data, né? É poesia antiga, uma das que anunciavam um estilo mais livre já no meu primeiro livro "Essência". Considero-a uma das melhores da minha vida de poeta. Se um dia alguém fizer uma coletânea de poesia e esta de hoje não estiver inclusa, é porque o seletor não conhece muito bem meu trabalho... Desconfiem! Ela se chama "Namorar" e à primeira vista pode parecer uma poesia de teste, um jogo de palavras simples e infantil. Sugiro que leiam duas vezes, no mínimo. Eu costumava brincar com ela, dizia que a menina que conseguisse me explicar o que ela significa, corretamente é claro, seria minha namorada. Ninguém nunca passou no teste. Quem quiser tentar a sorte... Mas o prémio terá que ser outro. Bom, chega de papo... Vamos namorar um pouco a poesia de um momento!


Namorar!

Edgar Izarelli de Oliveira


O mar!... a mar?

Amar o mar,

Amor ao mar!

O mar, mar, amar, amor...

Morar!!

Um amor, um mar... morar no mar,

Mar de amor !

No mar morar?? Namorar... morar no amor...

Um mar, amor, morar... namorar, morar num mar de amor !

Um mar, amor, morar.... um mar a murmurar

A moradia do amor, dia!

Mar a Mar, morar, dia de amar! Namorar, murmurar no mar!

Um amor de mar.... a namorar um amor, murmurar para amar!

Amor, amor, amor, a mor, mora, amora,

Na morada, mar de amor!

Namorada, mar de amoras??? Mar de amor, na morada!

Namorada ... namora na morada!

Namora, do mar o amor.... namorado, amar o amor!

Um amor mora num mar, murmura a namorar o amar!

Um mar, amar amor, namorar!

Um mar, um amor amar,

No mar de amor!

Dia do amor, um dia!

segunda-feira, 6 de junho de 2011

um pensamento de poeta da madrugada

Todo poeta se perde entre a realidade daquilo que escreve e a realidade daquilo que a vida real e concreta lhe oferece para viver; sem, nem por instante, ousar pensar que esse conflito de crenças surreais possa ser chamado de ilusão ou mentira. Poeta que é poeta não finge nada, apenas se desdobra entre as próprias vidas paralelas; coisa que todos devíamos fazer, pois é a única maneira de conhecer as possibilidades que temos nas mãos, sem que tenhamos que ignorar todas e ficar com uma só. Todo poeta é viajante de tempos, de espaços, de sentidos, de pontuações, capaz de abrir com uma palavra a fenda sacra das dimensões! Todo poeta é anjo de palavra a se cumprir, nem que seja somente a si mesmo!

terça-feira, 31 de maio de 2011

Para refletir enquanto acabo o conto.

Good Dawn, People... (boa madruagada deveria mesmo existir) ...
Hum... Seguinte, estou postando essa poesia por um motivo a mais do que minha consideração por ela... Estamos discotindo em outro blog, o blog da minha Rosa (alias ainda to devendo a Rose theory pra vocês), acerca dos efeitos do tempo e da dor na nossa vida... Ai me lembrei desta poesia, escrita a mais ou menos um mês quando descobri que a dor ajuda mais que atrapalha... Bom, pra quem gostava do Ed sentimental e romântico cho que vão se decepcionar bastante com a nova fase da minha "lírica", se é que dá pra chamar assim... Mas, de coração, espero que se não gostarem ao menos pensem nisso. Essa nova fase tem tendências a ficar bastante tempo comigo, intercalada com o romantismo mórbido do inicio do ano, pois uma provém da outra. Não esperem muito mais poesias como "Epifania" ou "Poesia Feliz" ou "Ninho das Certezas"... Bom, ai vai!

Carpen Nocten
Ed

Dor Amiga

Edgar Izarelli de Oliveira


Não sou masoquista...

Que bobagem! Sou poeta...

Pertenço à arte e dizem que o sofrimento inspira,

Mas, a verdade é que sou humano, não máquina de escrever!

Nenhum humano gosta de sofrer e não sou masoquista,

Mas a dor me trouxe tanta coisa boa...

Eu parei de lutar...


A dor me trouxe novas pessoas em novas experiências,

A dor me levou a novos lugares onde sou melhor recebido,

A dor me fez quebrar as regras e me soltar das correntes,

A dor me deu novos olhos e olhares, novos objetos de apreciação...

A dor inaugurou meus novos estilos, novos meios de me expressar!


A dor me ensinou tanta coisa que eu nem supunha existir,

Me mostrou o valor que eu tenho e o valor que as coisas têm...

Como as pessoas podem ser diferentes, como o silêncio pode ser barulhento....

Como a fome pode não significar muita coisa para quem tem carência de amor...

Como as circunstâncias, os pensamentos, as certezas e erros são coisas dúbias...

Como uma promessa quebrada pode machucar menos que uma jura cumprida...


A dor me ensinou a viver sem coisas completas, só com metades...

A dor me deu de presente uma lente de aumento,

Pude enxergar milimetricamente onde estão meus pontos fracos...

Mas perdi a capacidade de julgar o que é meu e o que sou eu...

Perder contornos e sentidos diluídos em lágrimas

Até que não é tão ruim quanto parece...


A dor que quase me matou foi minha salvação...

Foi meu casulo e meu fermento...

Apenas acho que cresci, mas a confirmação só daqui a algum tempo...

A dor me ensinou outros valores de fé, mas não foi assim tão tirana

E pude escolher o que fazia a minha esperança brilhar mais alto...


A dor me ensinou a construir e destruir defesas e ataques...

Deixando a mim apenas a sabedoria de, quem sabe, notar momentos certos...

Deixar meu templo aberto, meu livro sagrado aberto,

Mas eu, o grande mago, reservo uma hora para descansar...

E me mantenho vigilante dos meus segredos, minha vida, meu tempo...


A dor é sempre sábia, se sábia for a alma que vive...

É preciso ter a coragem de ver depois do choque

O que ainda pode se aproveitar dos cacos no chão...

E é preciso aguçar o dom da observação para perceber

As pequenas pétalas de vida desabrochando embaixo das cruzes do cemitério...

É preciso ter paciência para ver a beleza nascer

Depois dos sustos necessários da névoa da madrugada...

E, acima de tudo, a humildade de aceitar e agradecer até o que fere...


Eu agradeço, dor, minha nobre amiga, por me acolher e me aquecer...

E não deixar que meu coração endurecesse, virasse gelo eterno!

Agradeço, dor, por tudo, do fundo de um coração que já gritou muito,

Mas agora conserva sempre uma foto tua na carteira e a lembrança na mente...


Mas todo esse conhecimento ainda me parece premio de consolo, ilusão...

Quando me lembro da felicidade daquela vida que andava sozinha,

Sem força nem bengala, e hoje rasteja implorando alguma piedade.

A luz daquela estrela brilhante hoje é buraco negro egocêntrico.

Mas a dor, amiga, me trouxe o que de melhor sobrou para mim...

E eu agradeço a injustiça já que, ao menos, me deixou a tristeza de companhia!

segunda-feira, 23 de maio de 2011

Sumido eu, né?

Boa tarde, gente.
Eu estou aqui preparando um conto muito complexo. Talvez, o grau de complexidade de um conto esteja na vida de quem o escreve e na instabilidade que um final indefinido pode trazer. Quem retrata mentes tem sempre que ter um cuidado a mais. Eu devia me isolar do mundo exterior até acabar este conto, mas não consigo. O mundo me ajuda a pensar e refletir e cada conversa pode conter uma chave para o segredo da narrativa. Mas tudo que é bom tem seu lado ruim. E, aqui, os dois lados se coincidem, ja que ao pensar e interagir com o mundo atrás da chave, eu entendo as coisas de maneira diferente, e não consigo fixar um ponto final para onde me guiar. Como se não bastasse as interferências externas, há também as que a própria narrativa faz, aparecem personagens e objetos que não faziam parte da idéia original, mas, de algum modo, se fizerem necessários ao desenrolar da trama... Mas , creio que está ficando interessante. Aguardem.

Abraços

Ed

quarta-feira, 18 de maio de 2011

Pensamento de uma madrugada de trabalho.

"Quem quiser entender a mente de um escritor, deve entender que, para nós, amarelo-ouro não é amarelo-tempo nem amarelo-sorriso; que não é igual ao amarelo-areia, nem amarelo-alegre; mas, também, não é amarelo-milho ou amarelo-sol, muito menos amarelo-banana ou qualquer outra fruta que possa ser amarela. Amarelo-ouro é amerelo-ouro, diferente de dourado. Achou complcado? Que pena, o mundo nem é só amarelo. Tem branco, preto, azul, verde, vermelho, roxo (que não é nem lilás nem púrpura), laranja, marrom, e rosa (que pode, ou não, ser mistura de paixão e paz)... E isso está parecendo mente de pintor..."

Post dedicado a uma conversa com uma certa Srta. Rosa que escreve suas memórias no blog ao lado...

domingo, 15 de maio de 2011

Narração - Início 1

Boa tarde, gente!
Finalmente consegui começar o novo conto. Devo dizer que o ofício de escrever com alma, às vezes, exige semanas de intensa reflexão. O enredo eu tinha na mente há muito tempo, o problema era por onde começar. A forma interfere, sim, no conteúdo. Meu dilema: começo, meio ou fim, qual a melhor parte pra se começar a narrar um conto tão complexo e trincado na linha temporal? Muitos dirão que o começo é sempre o começo... Será? É antiga a ideia de se começar "in media res" (no meio da coisa, da ação) e, falando francamente, tirando os contos de fadas, quase todos os outros textos narrativos que já li começam a ser narrados do meio ou do fim da ação a que se propõem contar, por que isso dá a possibilidade do flashback nas memórias dos personagens; uma experiência deliciosa de se fazer. Essa é uma característica muito forte da literatura nacional, cujo o maior estopim deve ter sido com o Grande Mestre, o Bruxo das Letras, Machado de Assis em "Memórias Póstumas de Brás Cubas", onde o autor defunto começa a narrar sua vida a partir de sua morte. Clarisse Lispector também... Toda vez que me lembro do conto "Amor" a primeira cosa que me vem à mente é a cena de abertura, onde há uma mulher sentada num banco de bonde com uma rede tricô cheia de compras no colo, e embora a ação principal do conto se inicie ai, Clarisse nos leva para dentro da vida da personagem, para depois continuar a narração do fato principal. E para demonstrar a minha paixão por esse recurso, temos o meu querido "O Retorno de Saturno", onde, na verdade, há dois fatos sendo narrados. um é do momento de referência presente, que se passa na igreja matriz, e conta o reencontro, e outro no passado que conta como foi vida do personagem até aquele momento.

Quando o "in media res" não acontece, geralmente temos os chamados prólogos. Prólogos são a inversão do "in media res", por assim dizer. Trata-se de uma parte de duração variável, podendo ser uma frase num conto mais curto até um capítulo num romance, que conta algo que aconteceu antes do fato pricipal e que causa toda a história, permitindo ao escritor, uma linearidade temporal mais ampla, sem cortar os flashbacks. Aqui a narração começa pelo fato que a desencadeia, por isso é mais usado em gêneros ligados ao suspense clássico, aquele em que as ações, a descoberta ou não de um fato, interferem na resolução do mistério. Diferente, portanto, do suspense psicológico onde lembranças e pensamentos, ou a falta destes, são a causa e a resolução da trama narrativa,, o que explica que, neste gênero, o " in media res" e prólogo podem se combinar. O prólogo pode ser um flashback da ação principal ou outras inúmeras variações.

Há, também, narrativas que contam somente a ação principal, o que havia antes é por conta da suposição feita através dessa ação.

E há o estilo "Era uma vez..." onde se conta a ação por inteiro, do início ao fim, sem cortes temporais na narração...

Pois bem, pra que todo esse tutorial sobre início de narração? O post era só pa avisar sobre o novo conto, mas, já que as idéias foram vindo, eu fui escrevendo... E agora vou explicar porque foi tão difícil escolher que tipo de início usar e porque optei pelo "in media res".

Bom, além da preferência por este recurso, pela identificação e impacto, acho que o próprio estilo do conto exigia que fosse assim. É um conto psicológico, mas não tem clima de suspense, o estilo parece o "O Retorno de Saturno", porém o enredo é muito diferente. "O Retorno de Saturno" é mais um capítulo de um livro do que propriamente um conto isolado, por isso, tive que me preocupar apenas com uma visão, um foco, daquilo que estava sendo narrado, ou seja, o conto tem apenas uma história que vai se se desdobrando até atingir o presente. Em outras palavras, é uma versão de uma história, um ponto de vista sobre uma coisa determinada a partir da qual todos os outros personagens vão se desdobrar e ganhar versões próprias, futuramente será um romance de recortes.

Mas, sobre o novo conto, se eu abrisse com um prólogo, teria de ser a cena chave da trama. Clímax no começo pode até funcionar... Mas é melhor deixar para mais adiante. Até por que é um enredo complexo onde serão contadas, no mínimo, quatro coisas em tempos diferentes... O "in media res" valoriza os flashbacks que é o recurso a ser utilizado largamente em contos como esse,. descartando o começo pelo começo. Assim restava saber se começava do meio a cena que acaixa tudo ou do fim. Começando do final, eu ganho efeito de suspense e retiro a tensão e atenção da cena principal, que liga as coisas e ganho também espaço de correção narrativa... Resolvi, começo pela última cena!

Um abraço
Ed

terça-feira, 10 de maio de 2011

Outra alucinação da madrugada..

Esporte Radical

Edgar Izarelli de Oliveira



É... Ler virou esporte radical!

E eu não sei mais o quanto posso suportar dessa adrenalina sentimental,

E eu que sempre admirei os saltos mortais, curvas estreitas, queda livre, decida de corredeiras.

Eu que sempre brinquei de empinar cadeira de rodas, sempre caí nas tentativas...

Eu estou com medo de pular do alto da minha esperança,

E acabar morto!


Tenho medo de ler qualquer coisa hoje em dia,

Conversa virtual, reportagem de jornal, letra de música internacional,

Poesia ou prosa de autor que se diga clássico, moderno ou marginal!

Qualquer palavra de outdoor hoje me assusta,

Letreiros de néon vermelho ofuscam minha noite,

Carta, e-mail, blogs, livros, revistas, bulas, cardápios, realidades ou imaginações...

Cada palavra pode ser a última volta no ar antes de capotar e quebrar a espinha...


Meu corpo, de repente, não me parece tão vulnerável...

Agüenta tanta pancada, batida, briga de rua, queda, freada brusca,

Mas minha alma de poeta é frágil e não resiste ao peso de uma palavra qualquer...


Tenho medo dos hematomas e ferimentos que as palavras fortes me causam...

A sensação de risco iminente de morte me faz refletir se viro a página do novo livro

Se abro aquele e-mail de piadas que meu amigo sempre manda,

Ou aquela corrente de orações chata que sempre chega não sei de onde...

A próxima frase que minha melhor amiga está digitando me alucina,

Mas o meu triplo mortal pra trás, é mesmo aquela cartinha perfumada com letra de mulher amada...


Prefiro nem arriscar certos saltos...

Prefiro não descer a rampa do medo...

E guardar um pouco de esperança à vida,

Enquanto ainda ninguém me empurrou para um salto no escuro...

Eu tenho medo de ler o que não sei ler...

Eu tenho medo de morrer na próxima frase,

Mas a adrenalina ainda me chama para o que pode haver de bom,

Por isso ainda me conservo no avião sobre o mar,

Preparado para pular de olhos fechados...

E seja o que deus quiser!


Água pode salvar ou matar...

Lágrima pode ser de felicidade ou tristeza...

Mas palavra é só palavra, e depende de quem escreve e de quem lê!

segunda-feira, 9 de maio de 2011

A poesia de hoje...

Boa tarde, gente!
A poesia de hoje ainda continua discutindo comunicação... Como vocês poderão perceber. Ela faz referência a um novo conto. Parece que ultimamente a prosa está mais forte dentro de mim. Esperava começar um novo conto hoje, mas a frase de abertura ou o parágrafo de apresentação ainda deve estar flutuando no reino das idéias perdidas... E, enquanto essa parte essencial do conto não chega, aproveitei a tarde para poetizar. Essa nova poesia é fruto do estado em que acordei hoje e de uma coisa mais importante... Alguém mais importante, na verdade: A MUSA. Falando franca e abrtamente, poesia nenhuma sabe seu rumo se não for seguindo esse anjo sagrado até o sentido certo que ela quer passar. Até mesmo as poesias realistas ou intimistas precisam de uma guia que indique e ajude a juntar as palavras em um trilho estreito que os literatos chamam de "poema". A poesia de hoje teve um longo caminho de trilhos, longo mesmo, tecidos com muito carinho pelo ser que vos escreve... Claro, todas as poesias que eu escrevo, eu escrevo com carinho. Mas, de mais de 450 poesias que já escrevi, acho que essa de hoje foi a que escrevi com mais cuidado e dedicação à arte de escrever. Demorei quatro horas escrevendo e corrigindo... Está Linda, realmente traduz meu sentimento por essa Musa! Não sei se ela lerá esse texto, mas, se ler, ela saberá que falo dela! Por isso a posto aqui.

Mudando de assunto, antes de postar a poesia, preciso dizer que como escritor eu conheço o talento necessário para se escrever, portanto, posso ter a honra de relembrar esse nome aqui no meu querido "Palavras d'Alma". Falo de uma Grande Amiga que começou a escrever e confiar no que escreve. Ela é a "Minha Rosa" Naiara! Quem acompanha este blog se lembra que pedi para guardarem esse nome que ia despontar como uma escritora talentosa. Dito e Feito. Convido a todos para conhecerem o trabalho dessa minha querida amiga no Blog... "Memórias de uma Rosa"
Vale muito a pena conferir!

Só para avisar, não tem ligação entre os dois parágrafos. Antes que pensem que a Naiara é a Musa de que falo. Não é!

Bom... Chega de papo, fiquem com a poesia... Leiam-na com carinho!

Abraços



Hoje eu já acordei assim...

Link Edgar Izarelli de Oliveira


Hoje, eu já acordei distante...

Em um outro mundo longínquo

Onde, por ventura, se formam as narrativas.

Não, não estou naquela terra quebrada,

Meus pés não estão no chão...


Hoje, eu acordei já à deriva do vento,

Flutuando num balão descontrolado acima do reino das dúvidas...

Não sei onde estou, mas vejo, lá embaixo, parecendo formigas no campo,

Muitas metades de tantas histórias plausíveis de realidades

Carregando, como folhas para alimentar uma rainha inescrupulosa,

Dois pontos de interrogação de inalcançáveis resoluções:

Um começo, trilha que se perdeu atrás de cada meia vida,

E um destino, castelo onde a rainha espera para sagrá-las cavaleiras...


Hoje, eu acordei já numa interrogação medrosa...

E me distraio a procurar um caminho, um primeiro passo perdido na multidão,

Por onde eu possa começar a narrar um destes meios contos...

Um que rodeia a minha cabeça já há algum tempo,

Pois, de algum modo, se transformou em mosquito incômodo,

E está zunindo suas palavras ao meu ouvido, como um sussurro de amante...


Hoje, eu acordei já taciturno como a noite...

Mas, alheio a tudo isso, o carteiro veio entregar a carta mais esperada da minha vida...

Ah! Como admiro o carteiro! Cumpre sua missão alheio das consequências!


Eu, hoje, já acordei com essa carta nas mãos,

Um mundo lacrado que somente eu posso abrir...

E eu poderia ignorar a carta recebida,

Poderia rasgá-la em pedaços sem ler...

Toda carta escrita precisa ser lida!


Eu, hoje, acordei já na caixa de correios...

Mas me falta coragem para abrir o envelope,

Tenho medo, será, minha deusa, de entrar na santidade das tuas palavras?

Não, tenho medo de que, ao entrar, eu descubra apenas a morte do que é sagrado...

E leia, ali, apenas as mil coisas que nunca entendeste das minhas rezas...

Tenho medo... Medo de chorar de novo tudo o que as palavras já me machucaram...

E tenho medo de não ler e jogar fora a última chance de ser feliz...

E medo de não saber ler o sentido por trás de tudo que você deve ter dito...

E medo de não ter os significados e formas certas pra uma boa resposta.


Acordei, hoje, já tão inseguro que não sei mais o que considerar...

Acho que não estou pronto pra ler esta carta...

Acho que prefiro guardar em local seguro, dentro da parede de tijolos...

E, quem sabe, nunca mais encontrar, deixar pro futuro revelar o segredo

A quem possuir a minha senha de entrada e minha lágrima de herança...

E acho que penso que para qualquer outro seria fácil ler sem se emocionar...

Mas pra mim não, pra mim não, pra mim não, não!

As minhas emoções se fazem daquilo que é escrito e lido, mal de poeta...


Já acordei, hoje, me sentindo uma incógnita inconstante...

Sou bonito ou feio aos seus olhos? Será mesmo que sei me expressar?

E minha alma sensível acha fácil perdoar e difícil não ser perdoada...

Tenho medo de ler as palavras que tanto amo, de quem amo tanto,

Podem ser palavras mordazes, palavras que me julguem monstro...

Pela aparência de meus atos... Qualquer um me julgaria monstro, qualquer um!

Mas minha balança ainda pesa o que há por dentro das aparências, das pessoas...

E este, talvez, seja o erro da minha interpretação...


... Tão tranquilo, eu, hoje, acordei..

Procurando o início perdido de um conto que quero escrever...

Meu coração, finalmente, parece ter aceitado a solidão como irmã...

E acolhido, como partes pertencentes a mim, as minhas angustias noturnas...

A tristeza endurecida nas minhas faces...

As dores musculares que um simples sorriso pode me causar...

Não, não estou pronto pra chorar de novo,

E meus olhos ardendo sobre os versos que escrevo pra tentar te explicar

Razões pelas quais ainda não respondi tua carta como deveria

Me fazem mentir pra mim mesmo e chorar de insegurança...

Choro palavras no papel, chuva de sentidos...


Poeta e escritor, hoje, acordei, já pronto pra sentir meu punho doer à noite...

Mas, se estou mesmo escrevendo versos e não contos,

É por que lá, no fundo do baú das minhas esperanças guardadas,

Eu ainda espero te ver entrando por esta porta,

E ainda quero dividir tudo o que tenho com você...

E, sinceramente, acho que esta esperança ainda não está pronta para morrer!


Eu, hoje, já acordei com esses versos nas pontas dos dedos...

E, se sussurrei aos ouvidos do vento que sopra meu balão pra longe de mim,

E, se escrevi na parede instável de ar em movimento,

E, se estou te mandando esses versos com o carinho de um viajante perdido,

É por que, ainda tenho a certeza versificada das estrelas de um deus,

Nosso romance ainda não teve um ponto final da mão do grande escritor de vidas!

sábado, 7 de maio de 2011

Bom, aqui vai a poesia de Hoje...

Mas, antes, algumas palavras de explicação absurda.... faz tempo que não "falo" com vocês meus amigos. Bom, Começo do conto "Sonho de Outono", gostaram dele? Espero que sim... Não é segredo pra ninguém que meus contos falam de relações humanas em situações estranhas, geralmente vividas na pele por esse escritor que vos escreve. Certo, os personagens são inventados...
Esse conto tem, como qualquer outro, um objetivo. Quem gosta de ler meus contos sabe que procuro mostrar partes de pessoas que nem sempre são visíveis... Mas, nesse conto, o que está em foco não é a pessoa do Edson nem da Francesca, e sim a comunicação entre elas. Escrevi esse conto pra causar uma discussão sobre a comunicação... E, acreditem, eu precisava escrever na tentativa de entender o que aconteceu na cabeça de uma pessoa... Não consegui com o conto... teve que ser uma lição mais dura...
Ilustro-a na poesia a seguir! Espero que apreciem... E quero agradecer à pessoa que me fez entender tudo isso... Não posso dar nome, mas ela saberá que falo dela...

Somente Às Vezes, Compaixão...

Edgar Izarelli de Oliveira


Às vezes, acho que ninguém me entende!

Compaixão alheia quase sempre vem pela metade, ou menos,

Um terço, quem sabe, de orações pelo meu sofrimento...

Às vezes, é o bastante saber que existem pessoas e coisas pra se apoiar,

Ou para amortecer um pouco as dores da queda...

E, às vezes, só a teoria já basta pra entender os segredos que a compaixão não revela.


Às vezes, acho que entendo bem os outros...

Palavras, moderações, pensamentos e sensações não deveriam ser assim tão trincadas

A quem já é do ramo da escrita há tanto tempo...

Mas, a verdade é que minha compaixão é quase sempre tão incompleta

Quanto a que me é dada, nos momentos piores da vida.


Muitas vezes eu esqueço que sou apenas humano,

Muitas vezes desejo ser tratado como eu trato todos os outros.

Muitas vezes quero entender tudo que se passa dos dois lados do mar da comunicação,

Quero resgatar sentidos que não foram pescados, formas que se perderam no vento,

Explicações que naufragaram em palavras ditas com a sinceridade de uma interpretação poética...

Quero ver o que existe do outro lado do rio das palavras e ações fluentes da vida

E acho que acabo esquecendo que muitas coisas não adiantam nada para essa compreensão...


Às vezes, não adianta entrar num personagem do romance que estou lendo,

Ouvir longas histórias de pessoas mais velhas e experientes,

Assistir novelas, filmes, séries de tv, documentários científicos explicando banalidades,

Nem gritar ao mundo “eu entendi!” nas letras de canções que mostram as mesmas dores.


Às vezes, não adianta nada imaginar de maneira artística o que se passou...

Não adianta escrever contos ou versos, letras de canção...

Não adianta inventar causos e hipóteses que mostrem mil possibilidades...

Não adianta pintar quadros abstratos ou surrealismos, retratos de ilusões...

Não adianta desenhar linhas no escuro do teto da noite entrando no quarto...

Nem encenar a outra parte da peça em um teatro interno, cheio de fantasmas...


Não adianta nada a filosofia, o pensamento lógico, o cálculo

De todas as distâncias e dimensões, porcentagens, margens de erro,

Usar computadores celulares, ou outras invenções quaisquer, não!

Às vezes, não adianta nem dias vagos em deus boiando nas curvas do horizonte...

Nem fazer simulações e suposições, projeção, de você na pele do outro...

Tudo isso é só consolo e tentativa de entender outros mundos a partir do nosso...

Tudo isso é só especulação arbitraria e não serve nem sequer de binóculo.


Somente às vezes, para ver o outro lado do rio é preciso cruzar a ponte do olhar...

É preciso que alguém vire a mesa e jogue teu jogo contra você...

Tuas cartas, sentenças, intenções, táticas, estratégias, armadilhas, defesas e verdades...

Aí você se vê com as dúvidas e sentimentos do outro. Compaixão plena!

O que faço agora com minhas palavras, intenções e atitudes?

E, de repente, você conclui que nem você sabe lidar consigo mesmo...


Eu tive que passar pela brutalidade da prática

Já que a suavidade da teoria da regra de ouro nunca me disse nada...

E, pensando bem, até a poucas horas atrás, sempre me foi negada...


Mas se quer saber como eu me sinto, eu respondo que estou feliz!

Finalmente alguém falou minha língua secreta!

Encontrei alguém com quem posso ser eu mesmo

E que me desafia a enfrentar minhas próprias regras.


Mas estou triste, por que, finalmente, entendi a angústia que causei a tantos corações,

Durante a busca pelo bem desses mesmos corações, hoje tão cicatrizados!


E ainda me resta tanta coisa pra entender nesse mundo de relações encrespadas...

Que, agora, tenho até medo de sofrer...


Compaixão pela metade não basta pra se aprender a viver,

Mas talvez baste pra se ser feliz!

quinta-feira, 5 de maio de 2011

Um conto

Sonho de Outono

Edgar Izarelli de Oliveira

Era um final tarde de Outono, o chão triturado de folhas coloridas parecia refletir a luz alaranjada do poente, era maravilhoso... Encantador... Mas nem todos os casais presentes ali, naquela praça, pareciam concordar com minha descrição... A maioria aproveitava o encanto pra se beijar ou conversar coisas suaves e sem sentido, mas um casal, apenas um casal, insistia em permanecer intocado pela beleza e inspiração daquela tarde...

- Então foi pra isso que você me chamou aqui, Edson? Toda aquela história de querer me mostrar uma coisa maravilhosa era uma mentirinha travessa pra me fazer vim aqui e ouvir você me pedir desculpa pela milésima vez? – dizia uma jovem mulher aos berros enquanto se levantava ríspida e alterada do lugar distante de um banco.- Eu já disse e vou repetir mais uma vez, EU NÃO VOLTO ATRÁS, NÃO DESSA VEZ!!! ACABOU!!! Entenda, nosso amor está no passado. Eu te amei muito, mas você não me valorizou... Não soube me amar...- ela parou a frase parecendo zonza e sem orientação.

- Você tem toda a razão, Francesca, toda a razão... Eu não soube te dar o valor que você merece, eu procurava a perfeição, admito, tá bom? Mas eu posso dizer o mesmo, ou quase, de você. Posso dizer que você não soube interpretar nem minhas palavras, e olha que as escolhi com cuidado de mestre, nem minhas ações...- disse ele calmo e sereno ainda sentado, a atitude dele parecia até fria e calculista, mas pela gravidade das palavras, pude perceber que a emoção saia inteiramente. Ele a amava e ainda ama... Ele ia dizer mais alguma coisa, mas ela não permitiu.

- Ok, ME DIZ ENTÂO COMO ERA PRA MIM INTERPRETAR ISSO... – e fazendo aspas com os dedos, ela continuou, ainda mais brava.- Francesca, estou apaixonado por outra mulher, alguém que tem tudo pra me fazer feliz. COMO VOCÊ QUERIA QUE EU INTERPRETASSE ISSO, EDSON? Eu te amo, Francesca? Acho que não...- ela parou e ficou olhando para ele.

- A questão é que EU NÂO DISSE ISSO, ou, ao menos, não exatamente isso, Francesca. Não usei essas palavras, usei!? O que eu disse foi: Francesca, estou encantado por outra pessoa que parece ter tudo pra me fazer feliz...- replicou ele em tom corretivo e, de novo. foi cortado por ela antes de acabar a explicação...

- Que diferença isso faz??? Encanto ou paixão?? No final são dois nomes para a mesma coisa: amor! Você que se considera o craque em matéria de sentido deveria saber disso. – disse ela muito zangada.

- Por mais que possa vir a ser amor, encanto é leviano. Paixão é mais profundo. E se você quer mesmo falar de sentidos, amor, pensa que sentido tem o verbo PARECER TER, pense se é diferente de TER DE FATO. Por que, pra mim, o que eu disse foi meio que uma ironia... Séria, mas feita pra se ler ao contrário... E não é segredo pra ninguém que quem tem tudo pra me fazer feliz é você e mais ninguém, Francesca!- disse ele finalmente mais alterado e se levantando do banco. Ela riu um riso forçado e discreto.

- Quer dizer que eu entendi muito mal mesmo, heim... Sabe qual é a questão? A questão não é o que você disse, nem que palavras usou, nem o que quis dizer com elas, Edson. A questão é que nunca se deve dizer à sua namorada que está encantado por outra pessoa, mulher ou não... Não se deve dizer certas coisas que... Esquece... Você não entenderia nunca mesmo.- ela o olhou com tanta raiva que parecia que queria matá-lo.

- Certas coisas que a sociedade desaprova porque a maioria não consegue entender... Desculpa se não te considerei parte da maioria e achei que você fosse entender... Mas tem razão! Não se deve ferir a etiqueta e protocolo do amor nem mesmo se for pra defendê-lo.- disse ele com força.

- Defender??? Você destruiu tudo o que sentia por você. Tudo. Mas, mesmo assim, ainda quis te deixar um pouco feliz, e te deixei livre pra perseguir a garota dos seus sonhos. – disse ela ironicamente calma.- Vai ser feliz, ela te ama mais do que eu te amei, não é? Ela sabe te entender, não sabe? Ela tem tudo que eu não tenho, não tem? Desejo felicidade ao casal...

- Seria melhor ter escondido de você e deixar o encanto crescer ao ponto de se tornar uma traição, não é mesmo, Francesca?? Você me pediu sinceridade e eu dei. Realmente, você me deixou livre pra perseguir a garota dos meus sonhos, você!- disse ele olhando nos olhos dela.- Pouco importa as imperfeições ou perfeições, se o que vale é o amor... É você que eu amo! Sempre escolhi ficar com você. E mesmo quando tudo se quebrou por um ou dois erros... Eu continuo amando e escolhendo você, o amor mais verdadeiro e sincero. Encantos todo homem tem, poucos são os que assumem... É a diferença.

- Olha, Edson, nada do que diga ou faça vai mudar as mágoas que você me causou nesses últimos meses... Você me excluiu de todas as redes na internet...

- E sempre te adicionei de novo!- retrucou ele com muita força.

- Desligava o telefone quando eu te ligava...- continuou ela.

- E sempre ligava de volta chorando...- respondeu ele já com lágrimas nos olhos.

- Me escreveu uma carta pedindo pra mim te odiar... Eu gosto de você, não poderia te odiar nem se eu quisesse...- disse ela chorando e virando de costas para ele.- Eu vou embora, tá bom? É isso o que você quer, meu anjo, então tô saindo da sua vida! Queria poder ser sua amiga... Manter ao menos um contato com você, você é especial pra mim... E sempre será...- entre soluços, ela deu alguns passos, depois disse mais uma frase em voz tão chorosa que quase não deu pra entender.- Seja muito feliz.

Ele caiu de joelhos ao chão e disse também de dentro de um choro desesperado:

- Francesca, fiz tudo isso pra que você me esquecesse e fosse feliz, mas olha pra nós, estamos chorando ainda, eu só serei feliz com você! Entenda, pelo amor de Deus, Eu amo você!! Mesmo você tendo dito que eu seria capaz de te fazer mal pra que você voltasse pra mim. Mesmo você achando que eu não presto mais pra nada, que sou o dono da verdade. Eu não quero sua amizade porque te amo como mulher Francesca... Perdoa minhas loucuras, mas por você só tenho o amor que nos quer juntos pra casar!

- Eu te amava assim, agora cresce e percebe que acabou... Parece criança mimada ai no chão berrando...- disse ela se virando num olhar fuzilante,

- È isso que eu sou! Uma criança...- respondeu ele olhando ternamente nos olhos dela, não se importando de ser fuzilado.- Uma criança que precisa do teu amor!

Ela até pensou em partir, pensou em deixá-lo sabendo que algum dia ele se recuperaria, ou assim ela esperava, mas essa última frase a deixou curiosa e ela não sabia qual o motivo... Ela se aproximou dele, devagar e incerta, mais de uma vez se perguntando se aquilo era certo... Ela olha nos olhos dele e seus olhos mudavam muito depressa de expressão. Ora maltratavam-no com sessões de raiva, ora acariciavam-no com a ternura da fé, ora não tinham ação nenhuma. Mas, era fato... Ódio e Amor se misturavam tão bem... E ela se deixou voltar rindo e perguntando a ele o que significava aquilo: um homem feito admitindo ser apenas uma criança mimada. Ao que ele responde com a mesma cortesia da época em que se conheceram, ali mesmo, naquele banco de praça:

- Perto de ti, não adianta tentar ser adulto, pois, sinceramente, você me faz feliz feito criança correndo até cair... E a dor, a dor é infantil. Absurdo te perder porque quis nos proteger.

- É paixão pura...- disse ela abaixando os olhos para dentro de si.- Ou amor de verdade? Mas eu posso tentar... Um pouco de fé...

Ela estendeu a mão a ele e ajudou-o a se levantar, depois apontou pra uma folha caindo ao vento e depois apontou pra uma estrela bem brilhante, a primeira no céu daquela noite. Os dois se abraçaram e se beijaram. E era simples assim, perdoar e recomeçar, por que as certezas são folhas ao vento, mas o amor dos dois corações era uma estrela forte pregada ao céu. De repente acordei da minha fantasia, meu sonho de outono... E a realidade me lembrou que as coisas, por aqui, são diferentes...

quarta-feira, 4 de maio de 2011

Epifania- a descoberta de um ser

Epifania

Edgar Izarelli de Oliveira


Os tempos passaram, as coisas mudaram, você está com a certeza certa...

Eu estou no passado, eu sou um cavaleiro antigo a espera de uma donzela pra resgatar!

E, embora tudo tenha mudado, eu creio ainda na arte da alegria Celta!

E minha missão é ser esse passado nesse teu presente futurista e antiquado a cada dia.

Por mais longe que estejas, Milady, no tempo ou no espaço, estarei sempre contigo.

Quando precisares de um nobre medieval, basta entoar nossos cânticos secretos.


Eureca!

E, de repente, tudo faz sentido vago e inexpresso:

A alegação da diferença dos nossos tempos,

A barba longa, os cabelos crescidos, o porte e a inteligência...

A ligação com a divindade das almas, as flores, os cristais, as conchas e marés...

A magia, símbolos, as espadas e armaduras,

A poesia antiga que escrevo, os versos e as rimas ou métricas...

Conhecimentos abstratos se pegam no ar de uma canção...

As marcas de um jeito de viver as coisas mais intensamente,

Escrituras feitas com e por amor, tristezas, alegrias perenes ou morte, transformação,

A falta de musas internas com tantas se oferecendo nas esquinas de pedra...

O jeito de pensar, a maneira de sentir, as dúvidas e as certezas, o modo de agir,

Que ainda resguarda um pouco de cavalheirismo num mundo selvagem por natureza...

As virtudes nas quais acredito, a felicidade que busco, as confidencias...

O modo enfático e apaixonado da minha expressão, o modo de enfrentar as coisas,

As insistências inúteis de tropeçar com alguém que ainda crê na força das palavras,

As filosofias abandonadas, as dimensões e distâncias do sagrado, as lembranças...

A chuva de inverno, o gosto que a simplicidade lunar tem para mim, o Santo Graal!

A honra como ar, a sinceridade como sangue, a emoção como coração,

A crença como razão destinada a se cumprir, a fé faz a mente pura ou não...


E essa epifania, não me deixa outra escolha senão viver de esperanças,

Ou mudar tudo e renovar até arte da minha alma por novas lógicas de exclusão,

Ou, ainda, deixar tudo como está e acabar em pesadelo com cara de robô!