Esporte Radical
Edgar Izarelli de Oliveira
É... Ler virou esporte radical!
E eu não sei mais o quanto posso suportar dessa adrenalina sentimental,
E eu que sempre admirei os saltos mortais, curvas estreitas, queda livre, decida de corredeiras.
Eu que sempre brinquei de empinar cadeira de rodas, sempre caí nas tentativas...
Eu estou com medo de pular do alto da minha esperança,
E acabar morto!
Tenho medo de ler qualquer coisa hoje em dia,
Conversa virtual, reportagem de jornal, letra de música internacional,
Poesia ou prosa de autor que se diga clássico, moderno ou marginal!
Qualquer palavra de outdoor hoje me assusta,
Letreiros de néon vermelho ofuscam minha noite,
Carta, e-mail, blogs, livros, revistas, bulas, cardápios, realidades ou imaginações...
Cada palavra pode ser a última volta no ar antes de capotar e quebrar a espinha...
Meu corpo, de repente, não me parece tão vulnerável...
Agüenta tanta pancada, batida, briga de rua, queda, freada brusca,
Mas minha alma de poeta é frágil e não resiste ao peso de uma palavra qualquer...
Tenho medo dos hematomas e ferimentos que as palavras fortes me causam...
A sensação de risco iminente de morte me faz refletir se viro a página do novo livro
Se abro aquele e-mail de piadas que meu amigo sempre manda,
Ou aquela corrente de orações chata que sempre chega não sei de onde...
A próxima frase que minha melhor amiga está digitando me alucina,
Mas o meu triplo mortal pra trás, é mesmo aquela cartinha perfumada com letra de mulher amada...
Prefiro nem arriscar certos saltos...
Prefiro não descer a rampa do medo...
E guardar um pouco de esperança à vida,
Enquanto ainda ninguém me empurrou para um salto no escuro...
Eu tenho medo de ler o que não sei ler...
Eu tenho medo de morrer na próxima frase,
Mas a adrenalina ainda me chama para o que pode haver de bom,
Por isso ainda me conservo no avião sobre o mar,
Preparado para pular de olhos fechados...
E seja o que deus quiser!
Água pode salvar ou matar...
Lágrima pode ser de felicidade ou tristeza...
Mas palavra é só palavra, e depende de quem escreve e de quem lê!
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