Classificados
Edgar
Izarelli de Oliveira
Meu coração é um velho decrépito
Que rasteja pelas ruas da cidade,
Arrastando sua sacola preta cheia de palavras,
Recolhendo mágoas em lata de lixo e solidão em caixas de
papelão,
Pra trocar por moedinhas de esperança na bolsa de valores de
um novo decreto!
E, para conseguir algum crédito com os gerentes do Divino
Comércio,
Vive espalhando poesias nas esquinas, nos semáforos, nas
portas das faculdades,
Nas mesas dos bares, nos quartos de motel, nos parques, nas
praças...
Mas que valor tem a poesia? É apenas uma extensão de
significado em vaga expressão...
A poesia não tem valor para quem passa sempre apressado
Nem pode ceder alívio aos corações estressados,
Já que não pode mudar para verde o sinal fechado
E fazer andar as vidas nos solitários veículos parados...
A poesia não tem valor nenhum para pesquisas cientificas
Nem para bêbados que querem esquecer um pouco o peso da
vida.
A poesia não tem valor para casais apaixonados que buscam um
prazer imediato
Nem para pessoas normais que preferem manter o coração congestionado...
A poesia não vale nada pra quem, depois da correria diária,
chega cansado em casa.
Muito menos pra quem sai às cinco da manhã pra procurar emprego
e volta frustrado.
A poesia é exigente e seletiva antes de ser parte macia de
um lugar confortável.
A poesia é trabalho, é crescimento, não serve pra relaxar,
mas ameniza o fardo.
A poesia não tem valor nem mesmo para os artistas
Para eles, a poesia é uma amiga bem-quista e muito
confiável.
Para os poetas então... nem se fala! A poesia é presença
física
Que lhes dá, como a mulher amada, um prazer incomensurável...
Para quem está sempre se doando a ela pra ser pista de pouso
de aeroporto,
Recebê-la nos braços é perceber que a vida é mesmo algo
inestimável!
A poesia só tem valor para alguns, para poucos, para raros,
para os belos...
Para aqueles que sabem parar pra se admirar sem temer o
preço que se paga
Pra mudar o foco e perceber que o mundo exterior é
inalcançável,
O interior é inexplicável... E, mesmo assim, a poesia fala! A
arte não para!
A poesia só tem valor pra quem realmente se ama e pra quem
muito se engana...
A poesia que meu coração se exaure para distribuir,
Só terá valor quando toda essa gente se lembrar de assumir
que sente
O amor vibrar, a angústia contestar, a alegria espreguiçar e
a tristeza ruir
O corpo da realidade materialista que prende a alma à mente...
Meu coração revoltado se deixa à margem da beleza da poesia
E, só pra conservar a prática da escrita, dedicar-se-á aos
classificados!
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Boa tarde, gente!
Essa poesia é a abertura de um novo trabalho na minha poética. Não se trata de uma idéia totalmente original. Creio, até, que foi recorrente em décadas passadas, mas, para mim, é um novo estilo que venho pensando em desenvolver há anos e que ficou mais forte nos últimos meses... Decidi começar a desenvolver... A poesia acima é uma exposição de motivos e uma introdução a essa nova linha, digamos, comercial... Mas, pra quem gosta dos outros estilos, aviso que podem ficar calmos, essa linha vai ser paralela ao "Bom Dia", o estilo principal continuará sendo o mesmo...
Abro agora a linha de "Classificados".
Abraços Ed!
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