EdLua.Artes

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Blog mantido por Lua Rodrigues e por mim. Trata de Artes, Eventos Culturais, Filosofia, Política entre outros temas. (clique na imagem para conhecer o blog)

sábado, 24 de julho de 2010

Tanka de Ayumi Anraku, minha análise da t radução feita pela autora

Ciao, amici miei! Hoje, uma postagem especial, vinda do oriente; do Japão, para ser mais exato. Uma amiga minha da faculdade, a Ayumi Anraku (que escreve o blog “Roman Is Better”, ta ali na listinha de blogs, quem quiser visitar...), me mandou ontem o seguinte tanka (Tanka é como chama-se o poemeto japonês de 5-7-5-7-7 sílabas). Ela me mandou em japonês mesmo, posto que é sua língua materna, mas ela é brasileira então o português dela é nativo também:


寒空の
下で君見る
時間より
ぬくいバスでの
時間が多い

"Samuzora no
Shita de kimi miru
Jikan yori
nukui basu de no
Jikan ga ooi"


(para os meus amigos latinos que não conhecem o japonês, assim como eu... nas duas ‘estrofes” está escrito o mesmo tanka em alfabetos diferentes)


Bom, eu não entendo nada de japonês, acho uma língua linda e muito expressiva, mas nunca estudei nada... Pretendo, futuramente, estudar essa língua, assim que eu acabar de aprender italiano. Pedi para ela traduzir para o português... Ela fez duas traduções que julgou fracas por não corresponderem ao jogo de palavras do japonês que, obviamente, é bem diferente das brincadeiras sintáticas e de figuras de linguagem das poesias em português. As traduções estão por ordem de feitura, abaixo:


"Do que o tempo
debaixo do céu gelado
que vejo você
é maior o tempo
em que passo no ônibus morno”



"Do que o tempo
debaixo do céu gelado
que vejo você
é maior o tempo
morno que passo dentro do ônibus"



Particularmente, quando vi a primeira tradução, achei muito poética e explico porque, embora não seja do meu feitio analisar uma poesia e menos ainda não analisar a original, mas lá vai:


O que me chamou atenção na 1ª tradução foram os sentidos da palavra “tempo”. Não sei se em japonês as palavras que indicam “clima momentâneo” e o “tempo do relógio” são a mesma, mas em português chamamos tudo isso de “tempo”. Sendo assim, “o tempo debaixo do céu gelado” pode ser o frio que faz numa cidade ou qualquer lugar debaixo do céu; nesse caso, o 3º verso tem muitas interpretações antagônicas entre si, podendo variar entre uma ilusão causada pelo frio à sensação oposta, de calor que protege do frio quando observamos um ser amado. Mas “tempo” também pode ser as horas em “que vejo você” debaixo do céu gelado, e ai fica claro o significado desse terceiro verso, como as horas que se passa com uma pessoa.


Porém, maior jogada se tem nos últimos dois versos! “é maior o tempo em que passo no ônibus morno”, alem de estabelecer a inversão sintática que estabelece uma ordem de importância clara, dizendo que onde o “eu” perde mais tempo é o lugar menos importante para ele; aqui, o leitor se perde no tempo porque surge uma pergunta: que tempo é esse no/pelo qual o “eu” passa no ônibus morno?


Pensando logicamente, o tempo seria o do relógio e nesse caso “morno” seria só um adjetivo, indicando, portanto, não que o ônibus é um local suave ou ameno, mas, sim, sem graça, nem quente nem frio. Mas e se virarmos a mesa e encararmos “morno” como clima abafado de um transporte público lotado, preso ao trânsito duma grande cidade (que, aliás, remete a idéia de nem parado nem andando, portanto, morno), onde as pessoas geralmente estão irritadas (outra vez, nem calmas nem bravas)? Poderiamos dizer, então, que o “tempo”, pelo qual o “eu” passa, se torna algo maior que o tempo cronológico, uma espécie de dimensão diferente, como se se misturasse ao relógio toda atmosfera do ônibus, que é morna, criando assim um “sobre-tempo”, uma espécie de sustentáculo de todo o jogo temporal dessa poesia.


Essa mesma idéia se torna impossível na segunda tradução, posto que “morno” adjetiva o próprio “tempo" e não mais o local por onde esse tempo passa. Assim, nos lança outra questão: esse “morno” está adjetivando um clima ou algumas unidades temporais que podem ser concebidas de milésimos a eras? Sendo que somos praticamente obrigados a escolher uma das opções; o que acaba delimitando as possibilidades.


Gente, espero que tenham apreciado essa análise! Ayumi, obrigado por ceder esse tanka e por me ensinar a colocar os vídeos no blog.


Amanhã, finalmente, vou colocar os videos e as fotos do lançamento aqui no blog!



Abracci

Ed.

2 comentários:

  1. Cara, eu acho que a segunda tradução estaria mais fiel, pois 寒い (samui - adjetivo) relaciona-se a tempo "metereológico", não cronológico.

    Mas... traduções nunca são fiéis. Podem estar corretas, mas não exprimem exatamente o sentimento envolvido. Fico na dúvida.

    xD

    Abraço.

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  2. Meu nobre amigo, Prisco... voltaste? Que bom!, Então não julguei as traduçções pelo sentido de cada palavra, não posso fazer isso... não sei japonês! na verdade o que fiz foi pegar a tradução mais poética, ao meu ver, claro, e adimití-la como melhor... Eu analisei a tradução como se fosse o original, sei que não é "politicamente certo" mas foi para testar uma teoria minha. eu também rezava o velho dito italiano "tradutore traditore", mas depois que vi essa tradução descobri que não é bem assim... explicarei e um post a parte ok??
    abraço

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