Ciao, amici miei! Hoje, uma postagem especial, vinda do oriente; do Japão, para ser mais exato. Uma amiga minha da faculdade, a Ayumi Anraku (que escreve o blog “Roman Is Better”, ta ali na listinha de blogs, quem quiser visitar...), me mandou ontem o seguinte tanka (Tanka é como chama-se o poemeto japonês de 5-7-5-7-7 sílabas). Ela me mandou em japonês mesmo, posto que é sua língua materna, mas ela é brasileira então o português dela é nativo também:
寒空の
下で君見る
時間より
ぬくいバスでの
時間が多い
"Samuzora no
Shita de kimi miru
Jikan yori
nukui basu de no
Jikan ga ooi"
(para os meus amigos latinos que não conhecem o japonês, assim como eu... nas duas ‘estrofes” está escrito o mesmo tanka em alfabetos diferentes)
Bom, eu não entendo nada de japonês, acho uma língua linda e muito expressiva, mas nunca estudei nada... Pretendo, futuramente, estudar essa língua, assim que eu acabar de aprender italiano. Pedi para ela traduzir para o português... Ela fez duas traduções que julgou fracas por não corresponderem ao jogo de palavras do japonês que, obviamente, é bem diferente das brincadeiras sintáticas e de figuras de linguagem das poesias
1ª
"Do que o tempo
debaixo do céu gelado
que vejo você
é maior o tempo
em que passo no ônibus morno”
2ª
"Do que o tempo
debaixo do céu gelado
que vejo você
é maior o tempo
morno que passo dentro do ônibus"
Particularmente, quando vi a primeira tradução, achei muito poética e explico porque, embora não seja do meu feitio analisar uma poesia e menos ainda não analisar a original, mas lá vai:
O que me chamou atenção na 1ª tradução foram os sentidos da palavra “tempo”. Não sei se em japonês as palavras que indicam “clima momentâneo” e o “tempo do relógio” são a mesma, mas em português chamamos tudo isso de “tempo”. Sendo assim, “o tempo debaixo do céu gelado” pode ser o frio que faz numa cidade ou qualquer lugar debaixo do céu; nesse caso, o 3º verso tem muitas interpretações antagônicas entre si, podendo variar entre uma ilusão causada pelo frio à sensação oposta, de calor que protege do frio quando observamos um ser amado. Mas “tempo” também pode ser as horas em “que vejo você” debaixo do céu gelado, e ai fica claro o significado desse terceiro verso, como as horas que se passa com uma pessoa.
Porém, maior jogada se tem nos últimos dois versos! “é maior o tempo em que passo no ônibus morno”, alem de estabelecer a inversão sintática que estabelece uma ordem de importância clara, dizendo que onde o “eu” perde mais tempo é o lugar menos importante para ele; aqui, o leitor se perde no tempo porque surge uma pergunta: que tempo é esse no/pelo qual o “eu” passa no ônibus morno?
Pensando logicamente, o tempo seria o do relógio e nesse caso “morno” seria só um adjetivo, indicando, portanto, não que o ônibus é um local suave ou ameno, mas, sim, sem graça, nem quente nem frio. Mas e se virarmos a mesa e encararmos “morno” como clima abafado de um transporte público lotado, preso ao trânsito duma grande cidade (que, aliás, remete a idéia de nem parado nem andando, portanto, morno), onde as pessoas geralmente estão irritadas (outra vez, nem calmas nem bravas)? Poderiamos dizer, então, que o “tempo”, pelo qual o “eu” passa, se torna algo maior que o tempo cronológico, uma espécie de dimensão diferente, como se se misturasse ao relógio toda atmosfera do ônibus, que é morna, criando assim um “sobre-tempo”, uma espécie de sustentáculo de todo o jogo temporal dessa poesia.
Essa mesma idéia se torna impossível na segunda tradução, posto que “morno” adjetiva o próprio “tempo" e não mais o local por onde esse tempo passa. Assim, nos lança outra questão: esse “morno” está adjetivando um clima ou algumas unidades temporais que podem ser concebidas de milésimos a eras? Sendo que somos praticamente obrigados a escolher uma das opções; o que acaba delimitando as possibilidades.
Gente, espero que tenham apreciado essa análise! Ayumi, obrigado por ceder esse tanka e por me ensinar a colocar os vídeos no blog.
Amanhã, finalmente, vou colocar os videos e as fotos do lançamento aqui no blog!
Abracci
Ed.
Cara, eu acho que a segunda tradução estaria mais fiel, pois 寒い (samui - adjetivo) relaciona-se a tempo "metereológico", não cronológico.
ResponderExcluirMas... traduções nunca são fiéis. Podem estar corretas, mas não exprimem exatamente o sentimento envolvido. Fico na dúvida.
xD
Abraço.
Meu nobre amigo, Prisco... voltaste? Que bom!, Então não julguei as traduçções pelo sentido de cada palavra, não posso fazer isso... não sei japonês! na verdade o que fiz foi pegar a tradução mais poética, ao meu ver, claro, e adimití-la como melhor... Eu analisei a tradução como se fosse o original, sei que não é "politicamente certo" mas foi para testar uma teoria minha. eu também rezava o velho dito italiano "tradutore traditore", mas depois que vi essa tradução descobri que não é bem assim... explicarei e um post a parte ok??
ResponderExcluirabraço