EdLua.Artes

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quinta-feira, 27 de maio de 2010

O Retorno de Saturno (parte 8)

Meus Anjos, foi aí que eu me lembrei que Stella me ligava todo dia nem que fosse só para dizer “Lucas, eu te amo, fica com Deus e com os anjos! Beijos”. Por mais ocupada, estressada ou cansada que estivesse, ela me ligava, ela sabia que eu precisava dela e queria estar sempre comigo, fazia questão de me ligar só para me desejar boa noite quando ela não estava comigo e sempre inventava um jeito poético pra dizer isso. Stella é uma poetisa de mão cheia, e nossa relação suportava tudo justamente por causa da poesia dela que não deixava a distancia nos separar. Sabem, Anjos, as palavras, por mais abstratas que sejam, constroem coisas mais resistentes ao tempo! Mas agora era tarde, eu já havia fugido das palavras doces, rumo ao físico ardente.
Depois de dois meses de trabalho, fui demitido e Deus, não contente, resolveu que ia acabar com minha vida sem me matar. Nesse mesmo dia, quando cheguei em casa, Vitória me deu um beijo na testa, me entregou uma mala com minhas roupas passadas, roupas que ela havia me dado, e disse numa voz que eu nunca tinha ouvido, uma voz de amor morto:
- Não dá mais, Lucas. Eu preciso de alguém que me ame de verdade... e acho que já encontrei essa pessoa. Desculpe, mas acabou. Na mala tem algum dinheiro pra você e as roupas que te dei. Podemos ser amigos?
Eu congelei, meus Anjos! Juro que entre as mil coisas que passaram na minha cabeça, matar Vitória estava fora de cogitação. Pensei em bater nela, mas além da boa educação que minha mãe me dera, fiquei com dó de estragar aquele rosto tão perfeito. Fiquei ali, parado, pensando em tudo que estava acontecendo e no que já havia acontecido, ela estava me expulsando da casa dela, pior, ela estava me expulsando dos amores dela, que ela mesma tinha prometido que iam me proteger, eu não tinha pedido pra ficar com ela, ela que havia insistido tanto pra eu fugir do meu casamento para me ter só para si. E agora ela me jogava na rua assim? Mas o que eu podia fazer? Fiz o que podia, mas não sei se fiz certo. Eu abri a mala, peguei meu terno de casamento, me troquei na frente de Vitória, peguei alguns textos da faculdade, coloquei-os num saco plástico, devolvi a mala e disse numa voz brava, mas fria:
- Eu já sabia que ia acabar assim. Não preciso de nada que você queira me dar agora, fica com essas coisas! Eu sabia... Sabia que éramos pra ter sido apenas amantes. Seria melhor, mas você me quis inteiramente pra si, eu me entreguei, pra que? Pra ser jogado fora desse jeito?
- Lucas, não fale assim... Eu tenho grande estima por você, acredite, eu me sinto lisonjeada por ter sido namorada de uma pessoa tão especial quanto você. Eu amo você de varias formas independentes uma da outra e com a mesma intensidade imperial, como você diria, é por isso que não quero e não posso te deixar sem nada como eu te trouxe... Leva pelo menos o dinheiro, Lucas...- disse ela tentando reinventar a voz amorosa de quando ronronava nos meus braços.
- Eu levarei as lembranças da nossa felicidade, só isso... Se já não podes me amar, Vitória, não quero mais nada de você, meu amor... Não me dê esmolas, eu não preciso, adeus, minha Rainha.
E saí. Sim, Anjos, eu saí... De novo vestido para casar. De novo deixando tudo pra trás, de novo chorando... Só que dessa vez não tinha com quem ou para onde ir, não podia voltar pra minha cidade, não depois de ter deixado uma mulher como Stella no altar, até minha mãe não devia mais querer me ver, devia morrer de vergonha; bom eu estava morrendo de vergonha... Não tinha ônibus também, não tinha muito dinheiro, não dava nem para pegar uma vã... Mas, mesmo assim, minhas pernas me levaram lentamente a um ponto de ônibus, bem conservado, ao menos ainda tinha teto.

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