EdLua.Artes

EdLua.Artes
Blog mantido por Lua Rodrigues e por mim. Trata de Artes, Eventos Culturais, Filosofia, Política entre outros temas. (clique na imagem para conhecer o blog)

quinta-feira, 9 de fevereiro de 2012

Gênesis - 17º Capítulo

Eu estava vendo claramente que as personagens do livro representavam dois lados da personalidade da autora; sim, eu estava certo, ela tem a mente astuta de Pietro e o emocional ardente de Walter e me é inacreditável como os dois trabalham juntos. Parece que quanto mais as emoções dela são tencionadas, mais a razão é capaz de responder à altura, exatamente como no livro, quanto mais Walter parecia louco mais astuto parecia Pietro. Então ela sabe que sua mente trabalha assim... Ou não, mas é assim que o subconsciente dela percebe o mundo e isso se reflete na escrita que ela faz... E eu não parava de me perguntar “então pra que as idéias suicidas?” E a resposta, só ficou clara depois de ouvir a continuação da história que ela falou em tom mais triste...

- Ele me olhou num olhar distante quando me aproximei dele para um abraço bem gostoso, mas o abraço foi frio, embora seu corpo estivesse febril... Ele estava mesmo doente, o que explicava a pouca conversa no carro... Ele me olhava, parecia querer falar algo, mas não conseguia. Eu achei que era muito grave a doença dele, ele já tinha ficado doente antes, mas nunca a ponto de não conversar comigo, nem em casa ele falou comigo, foi direto deitar e acho que ele me viu pelo espelho do banheiro enquanto eu trocava de roupa para dormir, viu que eu não estava com nossa aliança.. Por que no outro dia, ele parecia melhor, mas ainda estava frio... Eu bem que tentei me aproximar, mas não consegui... E na quarta ele... Logo de manhã já tinha as malas prontas... Terminou dizendo que tinha a ver com o pingente, que eu estava sem...- e começou a chorar olhando pra mim.- Eu tentei explicar a verdade pra ele umas mil vezes, mas ele só diz que não pode voltar comigo... Já dei um tempo, já liguei, já escrevi cartas, mas ele não fala mais comigo de jeito nenhum. Acho que ele me acha uma pessoa falsa...- e seu choro aumentou se tornando desesperado- Mas eu não sou!!! Não sou falsa!!! Posso ser louca, burra, ingênua e mais um milhão de coisas, mas falsa não! Foi... Foi por...- e o choro se tornou compulsivo.

- ... Gostar muito de toda a história que vocês tinham, você quis proteger isso, eu sei...- completei num tom sincero que não usava mais, depois de sentir a segunda grande quebra da minha mente. Mentira também corta relações... Eu tinha aprendido a mentir da maneira mais difícil, perdendo relações importantes por ser sincero. Agora rio de mim mesmo! Marília me mostrou que, na verdade, Letícia e eu estávamos errados, embora minha amiga tenha chegado mais perto de encontrar o que realmente minha mente fazia. Eu queria tanto manter uma relação com alguém que tinha sacrificado e até invertido valores. Felizmente ser sincero para mim, é andar de bicicleta. E Marília me deu uma nova relação que eu quero manter. No hotel, eu só pensava em achar uma explicação, um sentido pras ações de Paulo, até por que Marília precisava parar de se sentir culpada e traidora. Ela estava indo pelo mesmo caminho que eu e era isso que eu quis evitar quando disse:- Mas, que materialismo! Terminar uma relação por causa de um pingente! Ta certo que tinha toda uma conotação, mas, mesmo assim, Marília, mesmo somando o fator de uma pequena mentirinha, ainda não faz sentido terminar uma relação de seis anos por isso.- emendei querendo garantir alguma lógica pra mim e pra ela.- Veja bem, pelo que você me disse, a relação de vocês já estava desgastada, talvez toda essa história tenha sido só um pretexto pra terminar, ou pode até ter sido a gota d’água, digamos assim, mas acho difícil conceber que seja o verdadeiro motivo... Ainda mais se incluirmos fatores como ele já estar distante antes de perceber que você estava sem o tal colar, antes até de ir viajar, ele viajar sem você e voltar ainda mais estranho. Pode ter acontecido algo na viagem, algo dele, uma epifania particular, alguma pressão externa...- coloquei todas as cartas na mesa e pude observar seu olhar e sua respiração mudando devagar.- Você está se colocando como promotora, ré e juíza ao mesmo tempo. Você cometeu erros, é humano... Tão humano que a gente só se afirma, enquanto sujeito, a partir do momento que erramos... Não se martirize assim! Você não traiu ninguém, mesmo que ele tenha de fato entendido assim, o que ainda não sabemos se é fato verídico ou se você está interpretando assim por causa da tristeza que está sentindo... Enfim, por mais que ele tenha se sentido assim isso é uma sensação dele. Assuma só o que você fez: Você queria proteger uma relação. Deixa isso bem claro pra si mesma e, veja, você está aprendendo a lidar com esse tipo de reação para que da próxima vez ela não se repita...

- Tem razão... Carlos, eu não trai ninguém! Pensando bem, não faz muito sentido mesmo, Paulo não é assim apegado à matéria, mas sim aos laços... Ele nunca me deu coisas caras, todos os presentes que ele me dava eram mais sentimentais e simbólicos...- refletiu verbalmente, olhando para o canto superior esquerdo do balcão de recepção do hotel, onde haviam alguns vasos de flores, após algum tempo.- Esses dias estive na casa da minha mãe...- continuou ela me olhando com aquele olhar espantado, e mais calmo; me surpreendi, a mente dela só precisava de um empurrãozinho pra encaixar algumas peças fora do lugar. Bom, não devia ser assim tão espantoso, o “pesar”, quadro especifico de depressão que ocorre quando uma relação é cortada por qualquer motivo, demora de três a quatro meses para começar a ceder e é inclusive considerado, no ramo da psicologia, como, senão a mais saudável possível, a reação mais natural ao se passar por uma situação dessa. Eu relaxei quando reconheci melhor o quadro geral, mas ainda não explicava e nem combinava muito com tudo que eu tinha visto. Em todo caso, fiquei feliz de ver que ela estava ao menos com um pé na realidade.- E ela me disse algo assim. Mas, Carlos, não haverá uma próxima vez... O pingente... Foi roubado... E pensar que eu fiquei tão esperançosa quando o encontrei, achei que finalmente Paulo ia falar comigo...Esperava que se eu mostrasse que eu ainda tinha o pingente... De certa forma eu provaria que nunca traí ele... Agora parece besteira, mas quando minha amiga me disse isso, com tanta base na vida dela, hoje à tarde, eu realmente achei que tinha sentido. Me arrumei toda na casa dela, peguei esse vestido emprestado. E ela já tinha até conseguido o endereço dele pra mim... Ela também descobriu que amanhã de manhã ele pega o certificado de mestrado da faculdade e, logo depois, vai embora pro interior... E, Carlos, eu preciso falar com ele, preciso saber a verdade... Hoje era minha última chance e toda minha esperança, tudo que eu havia escrito na carta que demorei a tarde escrevendo, tudo isso que cultivei num único dia foi... Roubado por um mendigo faminto... Se tudo desse errado, Carlos, eu devolveria o pingente... Mas nem isso eu posso mais fazer...- parou por uns instantes, só que dessa vez ela estava serena.

Agora sim, tudo fazia sentido! Ela tinha mesmo perdido mais que um bem material, ela havia perdido toda a segurança de ter algo para fazer com algo material que Paulo apreciava. Por isso o choque ao ser assaltada. Acho que ela nem tinha se assustado com assalto em si, me parece que esse tipo de choque não era nada, simplesmente não teria significado nenhum pra ela, não hoje, não dentro daquela situação. Provavelmente ela tenha sentido toda a dor que viveu nos últimos meses, quando viu o único objeto que representava toda a relação sendo roubado, deve ter sido como perder o Paulo de novo. Agora eu podia entender tudo.

...........................................................................................................................


Continua... 12/2/12 às 15:00

Por favor comentem o que acharam do capítulo de hoje.

Abraços Ed

Nenhum comentário:

Postar um comentário