Um Aviso (Coma, Casulo, e Asas Negras)
Edgar Izarelli de Oliveira
Aviso na parede de um casulo negro:
Poesia não é sol, poesia é arte.
Poesia não abandona, não explode, nem some, nem trai...
Poesia nem sequer morre como minha estrela-guia fez há pouco.
Poesia apenas adormece e, ao que parece, entra em coma também.
E eu sinto que essa minha companhia vai tirar um longo sono...
Cansada de escrever cartas mal-apreciadas, minha mão bate a capa do caderno,
Minha alma, esgotada de tanto amar, pede para que o amor se retire de uma vez;
Mas conserva ainda a companhia nobre de um sábio e silencioso mago,
Um mestre sombrio e taciturno, que tranca porta de meu coração...
Agora quem está dentro ficará comigo durante um bom tempo,
Já os que saíram não poderão retornar até que eu desperte mais disposto...
Não sejamos assim tão drásticos e dramáticos, um dia um raio de sol terá de entrar!
Que vigiem as portas, janelas, rotas de escape, conselhos e segredos,
Quem me tiver uma lealdade diferente, chamada bom-senso.
E cantem as velhas liras aqueles que souberem o que passei para que elas descessem.
E que cuidem de mim somente quem o fizer por carinho verdadeiro, amizade, respeito,
E uma outra coisa que agora já não sei mais se existe ou não,
Mas, que antes de todo esse vendaval, tinha um nome ligado à arte sem cola,
Monocromia? Simetria? Silogismo? Sincronia? Sinceridade, eu acho... Era isso!
E que cuidem de minha alma sonolenta aqueles que conhecem seus desejos
Aqueles que sabem entender que ela diz em cada murmúrio distante...
As palavras que trazem os sonhos de um beijo longo, completo e imperfeito...
E que estes mesmos deixem alguns raios-de-sol, selecionados a dedo, me aquecerem.
Pra ver se alguma magia me desperta à arte das coisas escritas na parede de papel,
Mas, francamente, acho difícil aparecer nova paixão do lado de fora das cortinas.
Acho que tem mais chances de serem promovidas a sol as estrelas que ficaram.
Ou, vai ver, o mago consiga me encantar e me fazer sua esposa.
Boa noite poesia, durma bem, e não acorde tão cedo. Amanhã ainda é Setembro,
Ainda temos nove meses e um filho inteiro pra gerar, um mundo pra girar,
Até o próximo inverno começar a carregar de flores as cerejeiras.
Durma bem, e tranquila, que tem gente aqui olhando por você!
Tem gente aqui querendo ver minha alma feliz!
Qualquer dia, quando o tempo esfriar, abra as novas asas noturnas e voe!
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