Simplicidade egoísta?
Às vezes, uma palavra é suficiente pra desencadear uma profunda reflexão. Às vezes se trata de uma frase solta que capturamos na rede do inconsciente e guardamos. Às vezes a reflexão já está nos trilhos, mas andando lentamente e, de repente, aparece a palavra que nos afunda de vez... Foi o que aconteceu comigo hoje...
Depois de uma briga com minha companheira por causa de uma sensação que eu tenho de falta de carinho e excesso de bronca por parte dela, comecei a pensar se seria mesmo ela o problema ou se eu é que não aceito o jeito dela.
Na dúvida, procurei uma amiga que me conhece muito bem e com quem tenho pacto de sinceridade natural devido a irmandade amigável de nossas almas. Perguntei a ela se eu sou muito difícil de agradar, se sou muito complexo. Ela me respondeu que não, que gosto das coisas simples, das coisas que lembram a essência humana: pequenos gestos, atos sinceros.
Graças a essas palavras descobri uma coisa que me aterrou: Sim, é verdade que gosto das coisas simples, dos pequenos gestos sinceros, mas não de qualquer simplicidade ou qualquer gesto. Gosto de carinho, mas me lembrei que carinho tem várias formas de se mostrar (quantas vezes eu já não dei broncas em pessoas que amo porque, naquela hora, era o melhor que eu tinha pra dar ou achei ser isso o que a pessoa precisava?) e eu não sei aceita-lo em todas as suas expressões. Minha simplicidade é egoísta! Eu é que não aceito; eu é que me machuco.
Por outro lado, será mesmo tanto egoísmo se, às vezes, preciso de um abraço ou de um carinho no rosto? Todo mundo precisa disso de vez em quando, ao menos todos os que escolheram uma vida normal dentro dos padrões sociais. E aqui vai uma grande ironia, posto que dedico grande parte das minhas horas inventivas a quebrar paradigmas, não é mesmo? Então, como posso querer me inserir no meio deles? Devia estar feliz mesmo sem carinho... Ou melhor, em ter carinhos que se apresentam fora dos padrões convencionais e, no entanto, só consigo desafiar minha companheira a ser outra pessoa, eu a chateio demais, a enfado, e me frustro.
Não devia esperar dela algo que ela não tem para oferecer, devia aceitar isso e eu juro que já tentei, mas minhas lembranças insistem em trazer de volta tempos, não tão remotos assim, em que tinha o carinho que eu gosto e era muito feliz, porém, reclamava por falta de alguns detalhezinhos bobos. Pois bem, hoje tenho todos os detalhes que eu um dia sonhei, mas parece que falta a essência. Então acho que devia parar de machucar a mim mesmo e a minha companheira, principalmente a ela por quem tenho grande carinho; devia terminar a relação e deixar ela procurar alguém que a faça feliz, alguém que se encaixe com a personalidade forte dela. E, quem sabe, encontrar alguém que reflita mais minha natureza gentil.
Mas, se esse meu desejo por carinhos mais sensíveis for exigência do meu ego, eu estaria sendo mais egoísta do que eu posso suportar pra mim mesmo. Imagina, terminar com alguem que tem tudo que eu preciso só porque ela me da broncas certas, só porque tem um jeito diferente de me segurar. Porém, se for uma necessidade da minha alma, alguma coisa mais profunda, mais, sei lá, primordial e vital para minha felicidade... Então, eu não deveria temer mais nada...
Mas como saber, afinal, se meus desejos são a felicidade da alma ou capricho do ego? É uma reflexão tardia, mas que ainda pode mudar os caminhos do mundo.
E mergulho dentro de mim pra saber se minha simplicidade é mesmo egoísta ou se é minha descoberta que se finge de importante...
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