Boa noite, gente!
Como prometido, aqui está o artigo sobre teoria literária, mais especificamente a teoria literária da poesia.
Bom, para efeito de primeiras considerações, explico basicamente o que farei neste singelo artigo. Quero deixa claro que estou me baseando em tudo o que aprendi no primeiro ano de Letras, mas não me baseio em autores e sim nos fatos, envolvendo observações próprias, feitas sem o aparato necessário para tal. Por isso esse artigo é para fins reflexivos. Deixo aberta a possibilidade de aprimoramento dessas idéias.
Nesse artigo tratarei da base da análise poética; para tanto, utilizarei noções simples que vocês devem ter visto (ou estão vendo ou ainda verão) durante o colegial e algumas noções da linguística (tentarei ser simples nisso também).
Sim’bora começar de verdade.
Pensando em poesia, se pensa em estrofes que contem versos (embora haja poesia em prosa que é menos comum ou menos divulgada), certo? Bom, esses versos contém sílabas que, para a análise, são repartidas com a intenção de se identificar a forma utilizada no poema. Um soneto de língua portuguesa (o espanhol é diferente), por exemplo, em teoria, é composto por catorze versos decassílabos (dez sílabas poéticas). O que quer dizer se um poema tiver essas características necessariamente é um soneto e que só é um soneto o poema que tem essas características. Mas será que a contagem de dez sílabas está certa? Será?
Digo, com isso, que podem existir erros na contagem silábica? Sim, podem. E é esse meu objeto de estudo aqui.
Vou usar uns versos meus para efeito de demonstração e usarei as regras de separação silábica normal, a da teoria literária e a minha. Assim, aproveito para mostrar a diferença. os versos que escolhi formam uma estrofe de “Vem pro Teu Mundo” (a última poesia até o momento).
A separação silábica normal, de acordo com a gramática, seria:
“Te/ pro/cu/ro/ em/ au/sên/cias/ so/lu/çan/tes/...
É/ um/ can/to/ em/ um/ re/can/to/ on/de/ a/ sau/da/de/,
A/brin/do/ as/ es/qui/nas/ on/de/ não/ es/tá/,
Ma/chu/ca/ meu/ pei/to/ em/ ar/rit/mia/...
On/de/ o/ bem/ ir/re/gu/lar/ da/ es/pe/ran/ça/
Te/ pro/cu/ra/ e/ cha/ma/, gri/ta/ teu/ no/me/;
En/sai/an/do/ um/ a/com/che/gan/te/ lu/ga/re/jo/
No/ meio/ dos/ nos/sos/ la/ços/!”
Básico. Agora a separação de sílabas poéticas, que segue outras regras. Nesse tipo de separação, chamado de metrificação, não se separa vogal + vogal seguidas, mesmo que em palavras diferentes, isso ocorre também com vogal + “h” inicial (sem som no nosso idioma). Por quê? Porque, na articulação da fala (declamação ou canto), nós acabamos juntando as vogais para dar a seqüência necessária ao ritmo da língua (a esse processo damos o nome de elisão). Entretanto, se separa palavras que terminem com consoantes não importando qual seja esta. Outro detalhe é que a contagem para na última tônica da última palavra. Portanto, se o verso acabar com palavra proparoxítona (tônica na antepenúltima sílaba) as últimas duas sílabas são desconsideradas. Esse mecanismo permite o encaixe de mais palavras num verso enriquecendo a poesia (ou não).
Desta forma, os mesmos versos seriam separados assim:
“Te/ pro/cu/ro em (elisão)/ au/sên/cias/ so/lu/çantes... [10 sílabas poéticas]
É um (elisão)/ can/to em (elisão)/ um/ re/can/to on (elisão)/de a/(elisão) sal/dade, [10 sílabas poéticas]
A/brin/do as (elisão)/ es/qui/nas/ on/de/ não es (elisão)/tá, [10 sílabas poéticas]
Ma/chu/ca/ meu/ pei/to em (elisão)/ ar/rit/mia... [9 sílabas poéticas]
On/de o (elisão)/ bem/ ir/re/gu/lar/ da es (elisão)/pe/rança [10 sílabas poéticas]
Te/ pro/cu/ra e(elisão)/ cha/ma/, gri/ta/ teu/ nome; [10 sílabas poéticas]
En/saian/do um (elisão)/ a/com/che/gan/te/ lu/ga/rejo [11 sílabas poéticas]
No/ meio/ dos/ nos/sos/ laços!“ [6 sílabas poéticas]
Ok, ok! Tudo certo assim? O que será que a linguística nos diz sobre isso? Na verdade só tem um problema nisso tudo. O fato de que existem mais consoantes mudas fora o “h”. Consoantes, estas, que tem som, mas em certas ocasiões os perdem ou mudam (a mudança ocorre também em vogais, geralmente nas vogais ocorre uma redução) para outros sons. Por exemplo, o “m” na palavra “Machuca” é articulado, o que quer dizer que os lábios realmente se fecham para produzir o som |ma|, porém, em palavras terminadas com “m”, aqui incluindo os verbos conjugados, essa consoante não é articulada, na maioria das vezes. O que ocorre é a nasalização da vogal, ou seja, fazemos a vogal soltando ar pelo nariz (como acontece com “ã”), não pela boca como geralmente são feitas as nossas vogais (ou como nós entendemos que sejam as vogais), e não fechamos os lábios para fazer o tal “m”. Exemplo disso é a preposição “em”, o que fazemos ao pronunciar isso é um “e nasal”, principalmente se após essa palavra não houver outra consoante bilabial (articulada através da junção dos dois lábios, ou seja: “m”, “p” e “b”). Quando se junta um “...em” + “vogal...” o resultado ´´e a junção dos dois sons. Foi o que aconteceu, por exemplo, com “nenhum”, originalmente: “nem um”. Certo que nesse caso ganhou um “nh” que é outro caso discutível. Eu creio que seja a marcação da vogal nasal e não uma consoante naso-palatal (feita com a língua encostando no palato e o ar passando pelo nariz) como é encontrado em “nhoque” ou “inhame”.
Isso pode ocorrer com qualquer palavra grafada com “m final” ou qualquer vogal nasalizada: “sem”, “som”, “onde”e etc.
Mas tem uma pequena nota nisso tudo: uma vogal nasal não deixa de ser uma vogal.
Outro caso, mais complicado, que merece maior estudo é caso do “l final’. Aqui no Brasil não fazemos esse “l” encontrado em “tal”, em seu lugar fazemos um “w”, que também em encontrado como redução do “u átono”, por exemplo “teu”. Para provar isso basta fazer um teste: pronuncie atentamente ”tal” depois pronuncie a palavra inglesa “now”. Tirando a consoante inicial, temos o mesmo som”.
Então juntando um “w” com uma vogal, conseguimos um som parecido com do japonês (sem querer comparar as línguas), mas observem bem: “Himaware” “ri mal Ari” e “ ri mau Ari” e cada o som |L| e o som |U| mesmo? Acontece que o “w” ´considerada uma consoante. Então vamos voltar à metrificação, começando pelo segundo caso: em um verso “teu amor” haveria elisão, enquanto num verso “final alado” não haveria. Por quê? Porque a teoria literária não acompanha a evolução da língua, continua presa á gramática tradicional e a um português que não existe mais no Brasil. Por essa razão desconhece as vogais nasais que nós usamos frequentemente.
Vamos ver como ficariam os mesmos versos, sobre essa perspectiva:
“Te/ pro/cu/ro em au/sên/cias/ so/lu/çantes...
É um/ can/to em um/ re/can/to on/de a/ sau/dade,
A/brin/do as/ es/qui/nas/ on/de não es/tá,
Ma/chu/ca/ meu/ pei/to em ar/rit/mia...
On/de o/ bem ir/re/gu/lar/ da es/pe/rança
Te/ pro/cu/ra e/ cha/ma/, gri/ta/ teu/ no/me/;
Em/saian/do um a/com/che/gan/te/ lu/ga/rejo
No/ meio/ dos/ nos/sos/ la/ços/!”
Decassílabos? Onde? A teoria literária precisa ser revista e modernizada porque algo que não acompanha a língua não pode, necessariamente, entender a arte que dela provém!
Se podemos simplificar, pra que complicar!!!!!!!!!!!!!
ResponderExcluirbom tentei ser simples nem usei muitos termos cientificos.... ficou tão complicado assim, gente?
ResponderExcluirCerto! Mas as coisas não são tão simples assim, Edgar.
ResponderExcluirPara analisar linguisticamente, você precisa considerar a estrutura silábica, ou seja, onset (ou ataque) e rima, ramificada em núcleo e coda.
No onset, nenhum problema. Na rima, nem tanto.
No núcleo, pode haver vogal isolada ou ditongo, encontro de vogal silábica e vogal assilábica. Na coda só podem ocorrer os arquifonemas /R/ /S/ /N/ /L/.
Analisando no primeiro verso /ro em au/ tem-se fonéticamente duas sílabas: (aproximadamente) [ren] e [au]. Na primeira, o onset está preenchido com "r", e a rima preenchida com "en", e nasalisado, pois o "u" sofreria um processo de elisão, assim como o "o" em "tempo estranho", lido como "tempestranho". Como você disse, uma vogal nasal é uma vogal. Mas... para ela ser nasal, é preciso um fonema nasal, que só pode estar na coda, fechando, portanto, a estrutura silábica.
Assim, teríamos: [ren] - onset: "r", rima: "e" + /N/.
Tudo o que aparece após isso é outra sílada. No caso, [au], com "a" no núcleo, e "w", do arquifonema /L/ na coda.
Fisicamente, não há mudança entre "ro" e "em", mas entre "em" e "au", há uma sutil mudança na articulação.
Portanto: Te/ pro/cu/ro em/ au/sên/cias/ so/lu/çantes - 10 sílabas poéticas.
Enfim... foram pertinentes suas colocações, mas é preciso analisar mais profundamente os processos fonéticos, articulatórios e as relações silábicas.
Abraço.
sim, Prisco, meu caro, tudo o que você disse faz sentido. mas na minha visão, no "ro em au" acontece o seguinte: 1 observação, a vogal nasal não precisa, necesariamente, de um arquifonema /n/, tanto que na lnnguistica fonética nós temos o "~" pra indicar nasalizalições de vogais, e o /n/ como fonema separado (sei disso, pois errei isso, na prova da Lu. Todos os locais onde coloquei /n/ pra marcar nasalização de vogal eram com "~" e ela ainda explicou na sala que o/n/ não nasaliza vogais). existe essa possibilidade quando se emcontram uma vogal + /n/+ comsoante; "entre", por exemplo, não dá pra articular o /e/ sem fazer o /n/ porque depois vem um /t/, então fazendo o /n/ já colocamos a boca inteira na posição própria para articulaçao do /t/, o mesmo acantece em "emprego". Mas o "em" sozinho é uma vogal, "em au" tem uma elisão acontecendo... é quase "nhau". eu acho que ta certo no ponto de que tres vogais numa silaba é impossivel [ou não], mas acima disso tem uma outra discuçaão acontencendo aqui... Que é justamente a questão de vogais nasais. retirando o em. pegamos um "sim a vida!" eu não falo, exatamente, /sim.a/ porque ficaria "sima", m,as também não falo /si.nha/, eai como fica? não falamos isso tão separado nem tão junto...
ResponderExcluir