Queria escrever uma poesia, inspiração até que eu tenho...
Mas não tenho alegrias pra espalhar nos rostos das pessoas.
Não tenho raivas do mundo pra desencadear uma revolução.
Também não tenho tristezas pra enterrar em lágrimas alheias.
Não tenho muitos sonhos pra compartilhar nem ilusões pra
desatar.
Não tenho muito mais o que construir também, tudo parece
perfeito!
Queria escrever uma poesia, mas, apesar de todo meu empenho,
Não me restam mais crenças pra semear em solo arenoso
Nem contradições pra dissecar numa mesa de exibição.
Não me sobraram muitas esperanças pra doar aos condenados.
Não me restam nem mesmo angústias pra expurgar aos gritos.
Queria escrever uma poesia, mas não adianta franzir o cenho...
Já não tenho teorias pra contestar ou novas práticas pra
tentar
Nem tenho muitas explicações filosóficas pra fermentar,
Nem muitos mistérios pra incitar ou prazeres pra me excitar.
Já até me convenci de que a totalidade do espírito é para
poucos,
Mas este silêncio que aparento ser não é assim tão vazio;
É mais uma mistura inacabável de afetos indescritíveis...
Eu não queria, mas admito que estou me tornando
inexpressivo.
Queria escrever uma poesia, mas não me sobrou nada que já
não seja sereno.
Meus novos amigos ainda não conhecem meu estado de
depressão.
Meus velhos amigos quase nunca viram meu sorriso tão ativo
nem tão altivo.
Estão calmos, tranquilos, e estranhamente bem definidos
todos os meus amores...
Quanto às emoções. Bom, continuam confusas e indiscretamente
indiretas,
Mas já não precisam passear por outros olhos pra espairecer
e respirar;
Uma simples meditação já me levita e evita completamente
minhas loucuras
E prende ao reino abstrato do pensamento a arte de expor o
choque em palavras.
Mesmo assim, meu coração de vez em quando balbucia alguns
rumores,
Mas a vontade passa, as conversas são rasas, as metáforas
são falhas,
A surpresa é fraca, a maioria das idéias é falsa, alguma
coisa sempre está em falta,
Toda fantasia agora é rala, as maravilhas estão escassas e a
poesia é rara...
Acabei guardando o estranho segredo da intensidade num cofre
E, sem querer, me enrosquei demais nas correntes do
passado.
Queria escrever uma poesia, mas acabo me confessando às
paredes...
De vez em quando, faço versos de algumas palavras proferidas.
Outras vezes, penso em quebrar todos os meus velhos estilos.
Às vezes, presto atenção ao som de alguma sentença solta.
Muitas vezes, chego a apanhar frases desconexas a improviso
Pra dar vazão a uma tendência um pouco mais livre, surrealista.
Normalmente, concentro a poesia até que ganhe peso, fique
rica,
Mas perdi a chave que a liberta e tenho a deixado rouca e
sem força.
E, depois de louca, já não importa mais o quanto eu me
contorça,
Ela já está vagueando num espaço inóspito, procurando meu
olhar de artista
Pra iluminar os caminhos dessa imensidão assustadora de uma
folha branca!
Edgar Izarelli de Oliveira
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