Ursinho de pelúcia
Edgar Izarelli de Oliveira
É! Meias palavras não dizem nada,
Apenas sugerem infinitivos...
É! As meias cenas não mostram
Meus gestos mais incisivos!
Minhas letras distorcidas são a prova do amor que há em mim...
E meus soluços convulsos já tão confusos apenas tentam dizer
O que palavras inteiras, em frases bem costuradas, cozidas, construídas,
Convictas do conserto invicto, falharam ao expressar!
Esse concerto descompassado conjura comigo um conciso sim,
Ponho fé, confiança, combino invocações inconscientes nesse sim!
Congelo antigas magoas insistentes, tristezas de pedra bruta, consistentes,
Evoco tímidas palavras confortáveis, conciliáveis, maleáveis, inconseqüentes,
Conglomeradas, espalhadas, espelhadas, tentando dar espaço à felicidade!
É! Minhas emoções são mesmo incompreensíveis, incômodas e mordazes,
Meus desejos de compartilhar contigo sensações mais fortes me são negados
A cada correspondência incorrespondida que o carteiro traz de volta,
Com os dizeres: “destinatário não encontrado”
E a cada chamada que cai na secretária eletrônica...
E apesar de passar as noites guardando teu sono,
E apesar de estar espremido entre seus braços,
E apesar de te conhecer como ninguém,
Sou só um ursinho de pelúcia
E todo o amor que destino a ti
Não pode passar de um abraço amigo
Não vai além de uma palavra de consolo
Não é mais que um sorriso e um olhar carinhoso
Numa noite triste, escura e fria...
Sou apenas um ursinho de pelúcia,
Eterno amigo das mulheres,
Não tenho o direito de ser amado como homem...
E passo os dias mais felizes da tua vida,
Momentos que gostaria de viver contigo,
Numa estante alta, jogado às traças!
Cara, apesar de todas as mudanças e evoluções do nossa mente-espírito que nos faz emanar um vacilante espectro de homem, parece que seremos sempre meros bichinhos de pelúcia...
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