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sexta-feira, 23 de agosto de 2013

O Estranho Estado de Equilíbrio



O Estranho Estado de Equilíbrio


Tenho andado no estranho estado sensato...
Centrado de um âncora (e, pensando bem, não podia haver termo melhor)
Daqueles telejornais matinais.

Fui jogado no mar da vida e ao meu lado assisto ondas de notícias...
A madrugada me afoga em sua solidão, enquanto marujos sonham lá em cima... 
Tubarão acabou de massacrar um cardume inteiro de sardinhas.
A estrela-do-mar anda sem brilho, diz o senso comum da observação alheia.
O peixe-palhaço traiu a mulher e foi expulso da anêmona.
Peixes-cirurgiôes esqueceram de pegar tubarão-martelo.
Camarões e caranguejos protestam contra o aumento do aluguel no recife de coral,
muitos estão indo morar nos lamaçais salgados do litoral.
O Dr. caramujo encontrou um tesouro grego enterrado sob os vulcões do pacífico.
Uma sereia foi descoberta de suas areias por uma arraia-manta
E perseguida por um grupo de sete mergulhadores.
Águas-vivas e lulas gigantes invadiram mais uma praia,
Houve confronto com os banhistas. 
Tartarugas comem lixo.

E nada disso é comigo.

Às vezes, sinto vontade de parar um pedestre que passa ao meu lado,
Só pra pedir a informação crucial:
Quando foi que a vida passou por aqui?
Quando foi que o tempo parou em mim?
E depois atropelar um carro numa avenida qualquer
E engarrafar as horas de trânsito só pra tirar as pessoas de suas latinhas coloridas.
Aqui fora, continua tudo igual, tudo parado.

Saio de casa, portão a fora o equilíbrio ressoa em cada passo.   
A lua cheia é linda e me distrai.
Beijos de amor parecem chicletes mascados.
Tenho vontade de gritar confissões às árvores da praça...
Dizer que o relaxamento é o que me irrita
E, no entanto, minha voz mal tem coragem de encarar o silêncio.
Essa harmonia é uma coisa sepulcral.
Sento-me numa balança de criança e sinto-me velho.
A balança parada e ninguém pra me empurrar.
Minhas pernas me dão impulsos seguros e eu quero o medo de cair...

Idéias luminosas borbulham trancadas em um caldeirão.
E eu penso em quem tem fome
E dá pra contar nos dedos quem eu posso salvar...
Meu coração está fechado para  negócios.
Está farto de ser enganado
E, por mais que doa,

Não troca mais afetos com os versos
Nem doa mais romances ao papel de carta.

Mas nada disso é comigo.

Comigo é o frio seco de uma seriedade quase jornalística.
Comigo é força neutra da estabilidade.
Comigo é a balança estagnada dos pesos iguais,
A gangorra moderada e chata das obrigações...

Alguém, me empurra mais forte?
Quero alcançar a adrenalina de uma grande inspiração.
Alguém, me desequilibra, me joga no chão
E me abraça como quem não tem medo de se arriscar!
Alguém, me faça ver a minha poesia brincar de esconde-esconde
E me prova que ainda estou longe de ter a grande sorte da morte!
Alguém, chuta a porta da minha existência inútil
E, com um olhar de espanto, libera todos os segredos da minha beleza!

Essa caixa de pandora só revelará borboletas de esperança!


Edgar Izarelli de Oliveira

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